urbanismo

Desabrochar perfumado e púrpura das flores de jacarandá espanta a seca no DF

Anunciando o fim da seca, as flores dos jacarandás encantam os brasilienses nesta época do ano. Parente do ipê-roxo, a árvore é nativa da América do Sul. No DF, predominam duas espécies, uma brasileira e outra argentina. Apesar de exótica, a originária no país vizinho está bem-adaptada ao cerrado

Renata Nagashima
postado em 07/10/2021 06:00
"Além do cheiro, que é maravilhoso, elas embelezam as ruas, dão uma sombrinha para quem está passando. Seria ótimo se fosse assim durante o ano todo", Sérgio Martins, zelador - (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

O fim da seca e a chegada das chuvas de primavera colorem as ruas do Distrito Federal de roxo. Todos os anos, entre agosto e outubro, o jacarandá desabrocha no cerrado avermelhado. A árvore chama atenção quando suas flores, perfumadas e grandes, reaparecem em forma de trompete. Muitas vezes confundido com o ipê-roxo, ele apresenta características distintas.

O jacarandá-mimoso é uma árvore de porte pequeno, alcançando cerca de 15 metros de altura. O caule é um pouco retorcido, com casca clara e lisa quando jovem, que, gradativamente, vai se tornando áspera e escura com a idade. A copa é arredondada a irregular, arejada e rala. A confusão com o ipê-roxo não é à toa, já que as espécies pertencem à mesma família: Bignoniaceae. “As principais diferenças são que as flores do ipê-roxo são da cor rosa, geralmente de um tom mais escuro, e florescem de maio a julho. As flores dos jacarandás são da cor roxa/lilás/violeta, e eles florescem no período de agosto a outubro”, detalha o entusiasta de árvores do cerrado Matheus Gonçalves Ferreira.

As flores do jacarandá são conhecidas por serem resistentes, suportando climas quentes e secos. Essa árvore é fundamental para o ecossistema, por desempenhar um importante papel no ciclo de carbono das florestas da América Latina. O tipo mais popular é o jacarandá-mimoso. Presente em várias partes do mundo, é original da America do Sul, de países como o Brasil e a Argentina.

Existem cerca de 49 espécies de jacarandás. No Distrito Federal, duas são preponderantes: o jacarandá-mimoso-do-cerrado e o jacarandá-mimoso. De acordo com a Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), as árvores são bem semelhantes. O jacarandá-mimoso-do-cerrado tem porte médio e copa irregular arredondada. A principal característica ornamental dessa espécie são as flores de coloração azul-marinho ou celeste, que cobrem toda a copa. Comum nas matas secas das regiões Centro-Oeste e Sudeste, distribuindo-se até o Paraná. É nativa do Brasil, muito semelhante ao exótico jacarandá-mimoso, nativo do norte da Argentina. As diferenças das espécies estão nas folhas e nos frutos, maiores na árvore do cerrado.

Encanto

O zelador Sérgio Martins, 47, trabalha há 23 anos em um bloco residencial no Sudoeste. Ele conta que uma das melhores épocas do ano é quando os jacarandás florescem. “Traz uma alegria e uma cor nova para a cidade, ainda mais durante este período de seca, que tudo fica cinza e marrom”, destaca. Para ele, mais árvores do tipo poderiam ser plantadas na cidade. “Além do cheiro, que é maravilhoso, elas embelezam as ruas, dão uma sombrinha para quem está passando. Seria ótimo se fosse assim durante o ano todo”, defende.

O Departamento de Parques e Jardins da Novacap efetua o plantio das duas espécies de jacarandá-mimoso. Exemplares adultos podem ser observados no campus da Universidade de Brasília; no Setor Bancário Sul; nos canteiros centrais do Eixo Rodoviário Sul e Norte; no Parque Sarah Kubitschek; e às margens da Estrada Parque Indústria e Abastecimento (EPIA) — em frente ao Setor Militar Urbano e ao Cruzeiro. “O DPJ efetuou o plantio de 16.581 mudas de jacarandá-mimoso e jacarandá-mimoso-do-cerrado entre 2015 e 2021, em todo o DF. Por ser bastante ornamental, o jacarandá-mimoso é ideal para praças, avenidas, parques e bosques urba nos, ruas largas e jardins residenciais. O plantio em área pública deve ser efetuado ou autorizado pelo Departamento de Parques e Jardins”, destaca a Novacap.

María Florencia Gómez, 51, é filha de um argentino com uma brasileira. Nascida no país do pai, ela mudou-se para o Brasil com a família quando tinha 16 anos. Apesar de se considerar brasileira, ela não esconde o amor que tem pela Argentina, que também é um país natal dos jacarandás. “Esta época do ano é muito especial para mim, é como se eu estivesse voltando no tempo, com 15 anos de novo. As vezes, fecho os olhos e fico horas só sentindo o cheiro e recordando as boas lembranças que tenho de quando era moça.”

Há mais de dois anos sem visitar o país, dona Florencia se apega aos jacarandás para matar a saudade. “Quase todo ano, eu volto lá para ver meus filhos e netos, que, agora, moram na Argentina. Depois da pandemia, não saio muito de casa e precisei cortar as viagens. Consequentemente, fiquei sem vê-los. A saudade dói bastante, mas eu sei que esse é um sacrifício necessário para o momento em que estamos vivendo. Enquanto isso, me contento com os jacarandás que alegram bastante o meu dia.”


SAIBA MAIS
Jacarandá-mimoso

Nome Científico: Jacaranda mimosifolia (Bignoniaceae)

Características: A árvore jacarandá-mimoso mede até 15 m de altura, com casca fina e acinzentada. Folhas opostas, compostas bipinada, de 10 a 25 cm de comprimento com folíolos pequenos, glabros e de bordo serreado. Flores com coloração azulado-lilás, arranjadas em inflorescências piramidais densas. A madeira é clara, muito dura, pesada, compacta, de longa durabilidade, porém frágil. Útil para a confecção de brinquedos, caixas, instrumentos musicais, carpintaria e móveis em geral.

Fonte: Instituto Brasileiro de Floresta (IBF)

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  • As flores do jacarandá são cônicas e desabrocham entre agosto e outubro
    As flores do jacarandá são cônicas e desabrocham entre agosto e outubro Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
  • Parecida com o ipê-roxo, o jacarandá se destaca no cerrado com sua exuberância
    Parecida com o ipê-roxo, o jacarandá se destaca no cerrado com sua exuberância Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
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