SOLIDARIEDADE

À procura de um lar: pets são abandonados após tutores morrerem por covid-19

Protetores de animais relatam aumento do abandono de pets por mortes de tutores durante a pandemia. Casas que acolhem animais precisam de doações

Yasmim Valois*
postado em 26/10/2021 06:00
Após o abandono, muitos animais ficam nas ruas e poucos têm a sorte de conseguir um novo lar -  (crédito: SEBASTIEN BOZON)
Após o abandono, muitos animais ficam nas ruas e poucos têm a sorte de conseguir um novo lar - (crédito: SEBASTIEN BOZON)

A pandemia de covid-19 impactou irreversivelmente muitos lares e, no DF, os animais de estimação também sentiram os efeitos das quase 11 mil mortes causadas pelo vírus. Protetores de animais e abrigos da cidade contam que o número de resgates e abandonos aumentou sensivelmente nos últimos meses, assim como os relatos de famílias informando que, com a morte do tutor do pet, não têm condições de manter o animal.

Órfãos, eles têm que lidar, ao mesmo tempo, com a ausência do antigo cuidador e a perda do lar que conheciam. A proprietária do abrigo Cãopanheiro de 4 patas, Jaqueline Sousa, 49 anos, conta que o trabalho passa por dificuldades desde o início da pandemia. “A gente não tem suporte do governo, então, nos mantemos por meio de doações. Quando resgatamos algum animal fazemos campanhas, rifas, organizamos grupos para conseguir dar o devido suporte, e vamos mantendo o abrigo assim. Está bem difícil por conta da pandemia, porque tivemos uma redução muito grande na ajuda, muita gente perdeu o emprego, teve redução no salário, com isso, estamos com dificuldade de pagar as despesas”, lamentou a responsável pela casa, que funciona em Luziânia.

Além da superlotação dos abrigos, Jaqueline falou sobre o efeito que o abandono tem na vida dos animais. “Para eles é o mais difícil, porque, além de perder o tutor, muitos ficaram nas ruas, poucos tiveram a sorte de ser resgatados e ter uma chance de ter um novo lar. Geralmente, eles ficam muitos tristes e demoram para se adaptar”, ressalta.

Uma das protetoras do abrigo, Luciene Guimarães, 52 anos, afirmou que a falta incentivo para ajudar esse tipo de causa. “A gente precisa de mais visibilidade, de campanhas vinculados em rádio, TV, jornais, falando realmente da necessidade desse trabalho. É preciso que a população conheça a relação dos abrigos que existem em Brasília e ajude, para que eles possam trabalhar com mais apoio. As pessoas usam as redes sociais para tantas coisas, um simples compartilhamento pode impactar nosso trabalho”, afirma.

Pesarosa, Luciene conta que tem dificuldade de entender a falta de empatia das pessoas que abandonam os pets. Ela explica que adotar um animal é assumir um compromisso pelos cuidados e bem-estar daquela vida. “Muitas pessoas se queixam pelo custo que é manter um animal, mas é necessário pensar nisso antes de adotar um, porque é necessário ter comprometimento”, afirma.

Esforço e superação

Comprometimento e amor aos animais é o que move Marlene Generosa Redu, 76 anos. Mesmo após a morte do marido, que era um protetor de gatos, a moradora do Novo Gama não os desamparou. Ao longo dos mais de 50 anos de casamento, ela acompanhou o jardineiro Carlos Redu resgatando e amparando diversos gatos. Em setembro deste ano, ele foi uma das vítimas por complicações da covid-19, e Marlene se viu sozinha com o desafio de cuidar de 29 gatos e seis cachorros. “Ainda estou lidando com a perda do meu marido. Ele me ajudava muito, passeava com os cachorros, me ajudava com a limpeza, nós dividíamos as tarefas. Agora estou sozinha, só tenho duas pessoas para me ajudar”, lastima.

Mesmo com as dificuldades, ela acredita que o abandono não é uma opção quando não é mais possível manter um animal. Ela defende o trabalho dos abrigos e enfatiza a importância das doações. “Os animais precisam de um certo suporte por parte de seu tutor, é necessário pensar no bem-estar deles. Com esse abandono, o animal fica exposto a diversos perigos, como maus-tratos, além do sofrimento psicológico deles. Então, é necessário tratar com mais comprometimento esse tipo de situação, é uma responsabilidade manter um animal”, assevera.

Informações sobre o abrigo

Se deseja fazer uma doação ao abrigo em forma de apoio:
Pix: (61) 986839410
Picpay: @abrigo4patas
Bazar: @caopanheirode4patas.bazar

Se deseja fazer uma doação à tutora dos gatos em forma de apoio, o telefone para contato é: 61 981-744-536

Saiba como ajudar

Caso encontre algum animal abandonado, ajude-o, coloque água e comida. Se não puder, entre em contato com alguém que possa. O pouco faz a diferença para os animais que precisam de amparo.

*Estagiária sob a supervisão de Juliana Oliveira

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