Deslizamentos

Alerta: erosões aumentam com as fortes chuvas no DF

Interdição da ponte sobre o Rio Melchior e crateras no Sol Nascente são alguns exemplos dos estragos causados pelas chuvas na capital. Solo local e descarte irregular de lixo contribuem para o problema

Arthur de Souza
postado em 14/01/2022 06:00
 (crédito: Carlos Vieira/CB/D.A.Press)
(crédito: Carlos Vieira/CB/D.A.Press)

O ano de 2022 começou com chuvas intensas no Distrito Federal. Além dos habituais alagamentos nas vias, a intensidade pluvial causa estragos em outras áreas públicas e residências, além de provocar o avanço de erosões. Um exemplo é a ponte sobre o Rio Melchior, na DF-180. Em 5 de janeiro, o Departamento de Estradas e Rodagem do Distrito Federal (DER-DF) decidiu pela interdição total da estrutura para operar um reforço na parte inferior da construção, por conta do risco de erosão do barranco em que a ponte se encontra.

Em resposta ao Correio, o DER disse que o serviço de reforço está sendo realizado na ponte e tem previsão de durar mais alguns dias. Ainda de acordo com o órgão, assim que a obra for concluída, o trânsito na ponte será liberado para todos os veículos, exceto caminhões acima de dois eixos. O departamento ressaltou que, por causa do período chuvoso, os trabalhos estão sendo feitos "de acordo com a possibilidade". No entanto, a equipe do Correio foi até a ponte na quarta-feira e não encontrou nem um tipo de máquina ou obras no local.

Além disso, não havia viaturas do DER para fazer a fiscalização de possíveis tentativas de travessia. Havia apenas sinalizações, com cones do órgão. Durante o momento em que a reportagem permaneceu no local, alguns veículos se aproximaram até o limite da interdição para verificar se era possível atravessar. Questionado sobre a ausência de fiscalização, o órgão não retornou à reportagem até o fechamento desta edição.

Assim como a estrutura da ponte, outros locais do DF sofrem com as erosões. No Sol Nascente, a população que mora próximo à Chácara 75 convive com o problema há muito tempo. José Cláudio dos Santos, 48 anos, é morador da região há três anos e afirma que as soluções propostas pelo governo nunca resolveram de forma definitiva a cratera aberta no local. "Eles ficam trabalhando, mas é um trabalho sem resultado. O que eles fazem em uma semana, a chuva leva na outra", disse.

A dona de casa Amanda Cardoso, 29, também mora próximo à erosão e reclama que, há meses, nenhum órgão vai ao local. "A última vez que apareceram aqui foi entre setembro e outubro. Um rapaz da administração falou que não há nenhum projeto para resolver essa erosão, e que nem existe qualquer previsão para a criação de um", relatou.

A Administração Regional do Sol Nascente/Pôr do Sol disse que acompanha as erosões das chácaras 74 e 75, do Trecho III, cotidianamente, e os trabalhos de contenção são feitos de acordo com a programação diária da diretoria de obras. Ainda de acordo com o órgão, "nas últimas semanas, a administração esteve na Chácara 75, juntamente com equipes do GDF Presente, para tentar evitar o aumento da erosão".

Solo

Segundo o professor e patologista de edificações Dickran Berberian, essas erosões ocorrem nos tipos de solo vermelho e cor-de-rosa, que é típico do DF. "Isso acontece pois ele (solo) tem um índice de liquidez baixo, de 20%. De forma ilustrativa, se pegarmos 1kg desse solo e adicionarmos 200g de água, ele vai se liquefazer e virar lama", aponta.

O especialista alerta que as erosões podem gerar crateras enormes, nas quais chega a caber até um carro inteiro. Ele ainda lista possíveis soluções que poderiam solucionar o problema. "Para o governo, a criação de mais redes de águas pluviais e o aumento da quantidade de drenagens superficiais (bocas de lobos) podem resolver. Para a população, a dica é se conscientizar quanto ao descarte do lixo, principalmente daqueles que demoram mais tempo para se degradar", explica.

Para alívio dos moradores do DF, é esperada uma diminuição na quantidade de chuva neste fim de semana. Segundo o meteorologista Olívio Bahia, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), até domingo a tendência é de que o tempo se mantenha mais estável, com o sol aparecendo entre nuvens, e que as chuvas ocorram apenas de forma mais isolada. Contudo, o meteorologista alerta que, a partir da próxima semana, as chances de precipitação voltam a aumentar na capital.

De 1º de janeiro até ontem, de acordo com o Inmet, choveu 246,4mm na estação pluviométrica de Brazlândia, 18% acima do esperado para todo o mês (209,4mm). A estação do Gama já registrou 162,6mm de chuva, o que representa 78% do esperado para janeiro. Na região central do DF, os números chegaram a 61% do aguardado para todo o mês.

Com as chuvas intensas, há risco de corte de energia elétrica, queda de galhos de árvores, alagamentos e de descargas elétricas. Em casos de emergências ou situações de risco, deve-se em contato com a Defesa Civil (telefone 199) ou com o Corpo de Bombeiros (telefone 193).

 

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  • Erosão no barranco próximo aos pilares da ponte do Rio Melchior
    Erosão no barranco próximo aos pilares da ponte do Rio Melchior Foto: Carlos Vieira/CB/D.A.Press
  • José dos Santos reclama das erosões no Sol Nascente
    José dos Santos reclama das erosões no Sol Nascente Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
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