Acidente

Marinha vai investigar causas de afundamento de lancha no Lago Paranoá

Além do piloto, embarcação transportava quatro integrantes de uma família e um pet. Causas do afundamento ainda são desconhecidas. Marinha informou que vai instaurar processo de investigação

Rafaela MartinsRicardo Daehn
postado em 28/02/2022 06:00 / atualizado em 28/02/2022 08:54
Lancha foi retirada do lago por bombeiros. De caiaque, populares levaram coletes salva-vida e ajudaram no resgate de vítimas -  (crédito: Rafaela Martins/CB/DA Press)
Lancha foi retirada do lago por bombeiros. De caiaque, populares levaram coletes salva-vida e ajudaram no resgate de vítimas - (crédito: Rafaela Martins/CB/DA Press)

Uma tarde de lazer no Lago Paranoá quase acabou em tragédia na manhã de ontem. Por volta das 11h, uma lancha com quatro pessoas e um cachorro de estimação naufragou. De acordo com testemunhas, a embarcação de pouco mais de quatro metros — considerada de pequeno porte, segundo a legislação — saiu do píer, percorreu uns 50 metros e, gradativamente, afundou, próximo à Ponte das Garças.

A operadora de caixa Lucilene Lacerda, 42 anos, viu o momento do acidente. "Eu achei estranho o barulho do motor quando eles saíram. Eles navegaram um pouco e a lancha virou. Vi uma senhora que estava na ponta da embarcação e chegou a se afogar. A família entrou em desespero", lembrou Lucilene.

Felizmente, a idosa, identificada como Maria do Socorro, 62 anos, foi resgatada a tempo. Segundo informações do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF), que atendeu a ocorrência, a idosa estava orientada, mas precisou ser encaminhada de helicóptero para o Hospital de Base, pois estava com água no pulmão e pressão alta. As outras vítimas estavam bem e foram atendidas no local.

Na hora do acidente, cerca de 10 pessoas estavam à beira do lago. O montador de elevador Raniel Dantas, 36, não imaginava que seria salva-vidas por um dia. "O que aconteceu foi que o barco afundou, o pessoal começou a se desesperar e automaticamente meu cunhado e eu entramos com o caiaque para ajudar. Nós também levamos coletes para as pessoas que estavam sem", contou.

Raniel estava com a família no momento e avalia como sorte o caiaque estar posicionado em direção à embarcação. "Eu coloquei o colete e fui resgatar um rapaz. Deu um desespero porque eles estavam gritando que iam morrer, mas graças a Deus nada aconteceu e ninguém veio a óbito", disse.

O grupo de busca e salvamento aquático do Corpo de Bombeiros retirou a lancha do fundo do lago, após uma hora de trabalho. A equipe utilizou boias infláveis para levantar a embarcação que, depois, foi rebocada até a margem e puxada por uma viatura militar. Três integrantes da família aguardaram a liberação do barco, que só foi possível após perícia da Marinha.

Perícia

A embarcação era conduzida por um jovem identificado como Gustavo, 26 anos. Conforme apurado pelos bombeiros, ele possuía a categoria de navegação Arrais Amador, que significa que ele é apto para conduzir embarcações nos limites da navegação interior, exceto moto aquática. Dos quatro passageiros, somente dois utilizavam colete salva-vidas.

A causa do acidente ainda é desconhecida. Por meio de nota, o Comando do 7º Distrito Naval da Marinha disse que um inquérito será instaurado com objetivo de investigar os motivos do episódio. A corporação realizou o teste de alcoolemia no piloto e o resultado foi negativo.

A força militar reforçou seu compromisso de "zelar pela salvaguarda da vida humana e a segurança da navegação, nas águas jurisdicionais brasileiras e a prevenir a poluição hídrica oriunda de embarcações e relembra que existe um telefone disponível, ininterruptamente, para atender a emergências marítimas e fluviais: 185", diz o comunicado.

Segurança

Marinheiro e guia turístico há dois anos, David Guimarães Melo preparava o barco Mar de Almirante para o quinto passeio do dia na tarde de ontem. Com dois tripulantes, a embarcação comporta 54 passageiros. O movimento dos passeios é mais frequente aos fins de semana e durante os feriados, por isso, segundo o marinheiro, há incremento nos quesitos de segurança nas embarcações que deixam o Pontão. "A fiscalização da Marinha é reconhecidamente das mais atuantes em Brasília. Além de cobrarem toda a documentação, há rigor na contagem dos coletes reservados aos passageiros e na análise das condições dos extintores", observa David.

Segundo o marinheiro, um bote e um jet ski da Marinha costumam fazer rondas sem sobreaviso. Nas atividades de ontem, ele comentou ter visto agentes da fiscalização tanto pela manhã quanto à tarde. "Eles cobram até mesmo o ensinamento dos passageiros. Perguntam se foram explicados os trâmites de segurança", comentou.

O passeio previsto para o Mar de Almirante era de 30 minutos (a R$ 20) e atraiu as amigas Valéria Diamile, 29 anos, nascida em Brasília, e a maranhense Rafysa Assunção, 28. Foi a primeira vez que elas encararam o passeio no lago. Tanto a personal trainer Valéria quanto a sua amiga, que é pedagoga estavam cientes do acidente ocorrido pela manhã, mas estavam confiantes quanto à segurança do passeio. "A gente percebeu a estabilidade e vimos que não há traços que acusassem mau uso do barco", comentou Rafysa. Ela complementou: "Tenho mais medo de voo de avião — só assusta mesmo é saber que a profundidade do lago é de 38 metros". "Viemos pela paisagem do pôr-do-sol. É diferente ver no Lago Paranoá, dá outra sensação", completou Valéria.

O que diz a Lei?

A Legislação Marítima Brasileira prevê que, para dirigir uma embarcação, seja ela um jet ski ou um barco, é preciso ter autorização da Marinha Brasileira. A carteira de Arrais amador é concedida pela Capitania dos Portos de cada estado ou unidade da federação.

O documento dá o direito a navegar a até aproximadamente 926 metros de profundidade. O único pré-requisito é ter mais de 18 anos. A permissão deve ser renovada a cada 10 anos. O teste dispõe de 40 questões de múltipla escolha e o candidato tem de acertar metade para ser aprovado. Entre as matérias cobradas estão estabilidade em correntes marítimas, manobras e noções de sobrevivência.

Após a concessão, o piloto deve manter o documento da embarcação em dia e a bordo. Durante a condução, o cidadão deve portar a habilitação e não pode fazer uso de bebida alcoólica. Os extintores de incêndio têm que estar dentro do prazo de validade e em local de fácil acesso. Toda embarcação deve transportar material de salvatagem, tais como coletes e bóias de acordo com a lotação da embarcação.

O Capitão dos Portos de Brasília, Fragata Gúbio de Oliveira, afirma que a Capitania Fluvial de Brasília realiza inspeções no Lago Paranoá e em toda a sua área de jurisdição, durante os fins de semana e em dias aleatórios, inclusive nos feriados. Segundo o responsável, existem equipes de prontidão 24 horas para ajudar em qualquer eventualidade.

 

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