Projeto

Arte de cordel na sala de aula beneficia mais de 3 mil alunos

Com o tema "EC 15 — cada um cuidando da saúde de todos", cerca de 800 alunos da unidade de ensino, de Ceilândia, escreveram poemas sobre o assunto

Pedro Marra
postado em 28/05/2022 06:00 / atualizado em 28/05/2022 15:28
 A pedagoga Viviane Pereira da Silva e a intérprete de Libras Adriana de Oliveira fazem parte do projeto na EC 15, de Ceilândia. Cada oficina para os alunos do 5º ano dura de uma a três horas -  (crédito: Fotos: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
A pedagoga Viviane Pereira da Silva e a intérprete de Libras Adriana de Oliveira fazem parte do projeto na EC 15, de Ceilândia. Cada oficina para os alunos do 5º ano dura de uma a três horas - (crédito: Fotos: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

O desafio de aliar a educação de estudantes de Ceilândia à literatura é o foco do projeto A Arte do Cordel, que já chegou a 3,3 mil alunos de mais de 20 escolas da cidade, com o apoio da Coordenação Regional de Ensino. Na Escola Classe 15, de Ceilândia Sul, onde são realizadas oficinas, o tema escolhido para este bimestre foi Cordel da Saúde, com a participação de 800 alunos do 5º ano do ensino fundamental a 3ª série do ensino médio. O professor da disciplina na unidade e criador do projeto, Raimundo Sobrinho, 48 anos, é quem inspira as turmas na EC 15 sobre rimas, métricas, leitura e interpretação de texto.

  • 18/05/2022 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF - Literatura de cordel para os estudantes da Escola Classe 15 de Ceilândia Sul, que fizeram o Cordel da Saúde, Oficinas do projeto A arte do cordel. Alunos do 5º ano do ensino fundamental. Viviane Pereira da Silva (pedagoga) com os alunos Gabriel Madeira (casaco preto), Danilo Valverde (óculos azul), Nathália Ananda (casaco cinza), Samuel Vasconcelos (casaco azul) Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
  • 18/05/2022 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF - Literatura de cordel para os estudantes da Escola Classe 15 de Ceilândia Sul, que fizeram o Cordel da Saúde, Oficinas do projeto A arte do cordel com o professor Raimundo Sobrinho, coordenador do programa e alunos do 5º ano do ensino fundamental. Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
  • A pedagoga Viviane Pereira da Silva e a intérprete de Libras Adriana de Oliveira fazem parte do projeto na EC 15, de Ceilândia. Cada oficina para os alunos do 5º ano dura de uma a três horas Fotos: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
  • 18/05/2022 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF - Literatura de cordel para os estudantes da Escola Classe 15 de Ceilândia Sul, que fizeram o Cordel da Saúde, Oficinas do projeto A arte do cordel com o professor Raimundo Sobrinho, coordenador do programa e alunos do 5º ano do ensino fundamental. Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
  • 18/05/2022 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF - Literatura de cordel para os estudantes da Escola Classe 15 de Ceilândia Sul, que fizeram o Cordel da Saúde, Oficinas do projeto A arte do cordel. Alunos do 5º ano do ensino fundamental. Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
 

Aluno do 5º ano, Samuel Vasconcelos, 10 anos, acredita que o gosto pelo cordel o motivou a entender o papel da poesia na vida das pessoas. "As rimas me atraem, mas gosto muito de ler e escrever, porque estou mostrando o que penso", diz. Ele acredita que A Arte do Cordel estimula os estudantes a aprenderem mais com literatura. "Acho que é uma ideia para a gente ficar melhor na escrita e no raciocínio", completa.

"Hoje, me apego mais à poesia de cordel. Até quando fico sem nada para fazer em casa, faço cordel, porque a gente se inspira muito", revela Nathália Ananda, 10, também do 5º ano. Ela confessa que teve dificuldade no começo para organizar os versos e as estrofes.

Para Raimundo Sobrinho, o maior desafio é ensinar a poesia para os alunos durante as oficinas, porque ficam muito tempo no celular no dia a dia, o que, segundo ele, atrapalha a concentração. "O que espanta muito e deixa eles em choque é quando a gente trabalha a metrificação (forma para medir os versos até a sétima sílaba poética), que é algo profundo, mas eu coloco livros de cordelistas para terem como referência", contextualiza.

O projeto, apoiado pelo Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal (FAC-DF), conta com intérprete de Linguagem Brasileira de Sinais (Libras), para viabilizar o acesso a alunos com deficiência auditiva. Na EC 15, a tarefa é de Adriana de Oliveira, 44. Ela explica que recebe o planejamento das aulas dos professores. A primeira etapa é a comunicação por meio de Libras entre dois alunos surdos da turma. A segunda, é a língua portuguesa. Ela faz o acompanhamento individualizado desses alunos especiais para relatar tudo à escola e às famílias dos estudantes, como é o caso de Gabriel Madeira, 13.

 

O estudante faz a interpretação do tema com desenhos. Na Arte do Cordel, ele produziu um trabalho inspirado no começo da pandemia de covid-19 no DF, em 2020. Gabriel diz que o projeto o motiva a estudar e a aprender mais para poder passar de ano com boas notas. "A professora foi falando o que a gente podia desenhar, e eu já sabia o que tinha que ser feito."

Inspiração

Foi outra a inspiração do colega Danilo Valverde, 9, para começar a escrever: assistir a uma reportagem de televisão sobre o jovem cordelista João Neto, 11, de Equador, município do Rio Grande do Norte, localizado a 280km da capital, Natal. O professor Raimundo mostrou o vídeo em sala de aula e Danilo passou a redigir e guardar os cordéis em casa. "Cheguei a dar de presente para a minha mãe, que gostou muito e bateu palmas junto com a minha irmã, de 7 anos", relembra. "Mamãe querida / Te amo para toda vida / Você tem beleza / Isso eu tenho certeza / Você é uma princesa da realeza" foi o cordel em homenagem ao Dia das Mães.

Cada oficina tem duração de uma a três horas, com leitura de cordéis, exploração do gênero, exibição de vídeos sobre a técnica e produção de xilogravura (cordel em folheto). Os encontros também incluem a elaboração e a revisão de textos pelos próprios alunos.

A pedagoga Viviane Pereira da Silva, 38, explica que, em todos os bimestres, a escola trabalha com um projeto literário. Desta vez, o tema escolhido foi EC 15 — cada um cuidando da saúde de todos. "Alguns alunos produziram quadras (versos) de cordel para dar de presente no Dia das Mães, e tivemos a ideia de usar o tema da saúde", conta.

Emocionada, Viviane fala sobre a relação que tem com o repente, desde criança, quando também escutava o gênero sertanejo. "Meu pai ouvia muito músicas desse estilo, principalmente do cantor Lucas Evangelista, com letras e melodia que se parecem com o cordel, que, quando conheci, me trouxe essa memória de infância", recorda. Ela conheceu o trabalho de Raimundo no ano passado, quando o educador fez uma oficina on-line. "Não vi a adesão dos alunos, mas me encantei, porque via meu pai ouvindo essas poesias", relembra a educadora.

Segundo a professora, a literatura de cordel abriu as portas para a realização de outros projetos, como é o caso do Brasília de todos os cantos, que começará em breve, com a participação de escritores do DF. Os convidados vão ler textos e poesias em eventos organizados pela EC 15 de Ceilândia Sul.

 

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