Economia

Comerciantes estão otimistas com as vendas para as festas juninas

Celebradas pela primeira vez desde a pandemia, festas juninas do DF devem movimentar até 20% a mais neste ano do que em 2021. Lojistas da capital estão com estoques abastecidos para receber clientes, que incluem escolas, igrejas e famílias

Após dois anos sem as tradicionais festas juninas, o comércio do Distrito Federal está empolgado para o retorno dos arraiais. O ânimo de lojistas, consumidores e organizadores das celebrações deve elevar de 14% a 20% o faturamento dos setores neste ano, na comparação com 2021 — quando o crescimento foi de apenas 8%, por conta das medidas de restrições sanitárias. Em 2020, primeiro ano da pandemia da covid-19, houve queda de 43% nas vendas em relação aos 12 meses anteriores. Em 2019, antes da emergência sanitária, a arrecadação subiu 15%. Neste ano, os clientes devem gastar, em média, R$ 110 com produtos típicos, contra R$ 95 em 2021. Os números são do Sindicato do Comércio Varejista do DF (Sindivarejista).

A expectativa do sindicato é confirmada por empresários do setor — que envolve desde lojas de festas e decorações a papelarias, armarinhos e distribuidoras de doces. Proprietária da Petit Monté, estabelecimento de locação de itens para festas, Isabela Parente conta que, comparado a 2021, o movimento deste ano dobrou, e alguns itens já estão indisponíveis. A procura pelos produtos ligados ao período começou em abril. "Temos um acervo específico para festa junina, que é a melhor data sazonal. É uma época muito boa para nós, e (o movimento) está só crescendo", comemora a lojista de Sobradinho, que disponibiliza decoração completa para as festividades, como painéis, bandeirolas e toalhas de mesa. Entre o estoque já esgotado, estão espantalhos, bandeirolas, boleiras e peças de cordel. Os resultados estão superando as expectativas de Isabela. "As barraquinhas voltaram e todo o comércio da cidade está bem movimentado. Não esperava que fosse assim", confessa.

Lorena Rodrigues/Esp/CB/DA Press - Em algumas lojas, itens juninos começaram a ser procurados em abril. Clientes devem gastar, em média, R$ 15 a mais neste ano
Lorena Rodrigues/Esp/CB/DA Press - Madalena e Rodrigo: festa junina para reunir amigos, depois de dois anos
Lorena Rodrigues/Esp/CB/DA Press - Iranilde (E) e Maria de Fátima (D): "volta da celebração da vida"
Arquivo pessoal - Isabela aluga itens para festa e está com produtos esgotados no estoque

Em Taguatinga, o sentimento também é positivo. Maria de Fátima, vendedora da Casa & Festa, tem percebido que os clientes estão mais animados neste ano do que em 2021. "Até sugeri ao meu gerente que deveríamos fazer mais pedidos, porque o movimento ainda deve melhorar mais", relata. A lojista conta que os produtos mais procurados são as bandeirolas, os balões e os chapéus. "Em relação aos doces, a paçoca e a pipoca doce são as mais procuradas. A última, é muito consumida pela praticidade. Não precisa estourar, é só abrir e comer", completa Maria de Fátima. "Além de comemorar a festa junina, os clientes também estão celebrando a própria vida", reflete a colega Iranilde, também vendedora do estabelecimento.

Mayara Lúcia, da distribuidora de doces Big Big, no Gama, espera dobrar as vendas neste ano em relação a 2021. Ela relata que o movimento não chegou ao pico, o que deve ocorrer ao longo deste mês. No entanto, alguns itens já têm sido procurados pelos consumidores. "Nós nos preparamos com muitos artigos e temos bastante material. Estamos bem confiantes de que este ano vai ser bacana. Os clientes estão vindo", afirma a vendedora, que tem observado maior circulação de itens decorativos e doces típicos. "Doces de amendoim, doce de leite e doce de abóbora, além de bandeirolas, TNT de chita, balões de papel de seda e itens de palha, como chapéus, têm saído bastante", elenca Mayara, que atende clientes que farão festas menores, em família, clubes, escolas e igrejas.

Saiba Mais

Reencontro

Na outra ponta, o entusiasmo de quem organiza arraiais completa a euforia com o retorno das celebrações de São João. No Colégio Recreio, em Vicente Pires, que atende crianças de 5 meses a 8 anos, a animação dos pequenos e das famílias é enorme. "A adesão está muito alta. Começamos a preparação, com recolhimento de autorização dos pais, organização de trajes e ensaios da quadrilha, no início de maio", conta Kátia Jorge, coordenadora da escola. Além da vibração com a festa, em si, o colégio está empolgado com os reencontros presenciais. Ano passado, por conta da emergência sanitária, a data foi celebrada de forma virtual. Em 2020, não houve nenhum tipo de comemoração. Em 2022, com o evento de São João aberto ao público, a expectativa é receber a quantidade de antes da pandemia — cerca de 500 pessoas. "Os menores, de cinco meses, dançam a quadrilha no colo dos pais. As crianças de 1 ano começam a dançar sozinhas quando a música começa", descreve Kátia. "Todas ajudam nas decorações", completa a coordenadora, que precisou renovar o estoque de material junino.

Entre os devotos, o clima é de ânimo, embora a precaução também esteja presente. Padre Renato, da Paróquia Santa Terezinha, no Cruzeiro, conta que a igreja, antes da pandemia, costumava fazer quatro dias de festa. Neste ano, a celebração será apenas no próximo fim de semana. "Ainda não voltamos ao normal, completamente. O que vier (de público) estamos agradecidos", ressalva o religioso, um dos organizadores do evento, cuja entrada é franca. Ele espera receber, em cada dia, entre 4 mil e 5 mil pessoas. "O pessoal está bem animado, é uma festa popular e tradicional. Estamos organizando tudo para as pessoas serem bem acolhidas. Será um momento lindo, de reencontro. Recebemos muitas doações, a nossa comunidade colabora bem. Precisamos comprar apenas algumas bebidas", conta o padre.

Os amigos Maria Madalena Ferreira, 55 anos, e Rodrigo Luiz do Nascimento, 45, não vão deixar a data passar em branco. "Reunimos um grupo de amigos e vamos fazer nossa própria festa junina", conta a aposentada. "Vai ser uma festa pequena, mais para reencontrar os amigos depois da pior fase da pandemia", relata a moradora do Park Way. "Agora, a gente está focando na decoração: bandeirinhas, chapéus e centros de mesa. Também não podem faltar os doces: pé de moleque, paçoca e pé de moça", completa Rodrigo, habitante da Vila Planalto e servidor público. Apesar da inflação e do aumento recorrente dos preços no DF, os amigos não deixaram de investir na reunião com as pessoas próximas. "Os preços estão medianos. Gastamos cerca de R$ 500, entre decoração e doces", calcula a aposentada.

Mesmo com a escalada dos valores, os brasilienses, a exemplo de Maria Madalena e Rodrigo, não devem abandonar os gastos. É o que explica Matheus Paiva, professor de ciências econômicas da Universidade Católica de Brasília. "No DF, boa parte da população tem renda elevada e é do setor público, então o cenário aqui é mais ou menos estável. A expectativa dos comerciantes é boa por conta disso. Mesmo com inflação altíssima, a renda das pessoas é garantida, então continuam comprando, apesar do aumento dos preços", aponta o economista. "A previsão econômica é adequada, mas pode não persistir, porque é uma questão sazonal. É cedo para falar que vai se prolongar para os próximos meses. Precisamos viver um dia de cada vez", pondera o professor.

*Estagiária sob a supervisão de José Carlos Vieira