Educação

Jornada Literária promove encontros de estudantes com escritores

Alunos de escolas do Paranoá e do Itapoã conversam com autores brasileiros contemporâneos. O projeto já beneficiou 127 mil alunos da rede pública do DF

Seja romance, conto, crônica, poesia ou ilustração, não importa o gênero, o livro é a porta de acesso para um mundo rico e mágico, principalmente no caso de crianças e adolescentes. Por meio de uma obra literária é possível fazer conexões com as próprias experiências e saberes, além de construir novas ideias e percepções da vida e do mundo. Tudo isso pode ser visto na 13ª edição da Jornada Literária do Distrito Federal. Até 28 de junho, estudantes das escolas públicas do Paranoá e Itapoã participam do projeto que retomou, neste ano, os encontros presenciais com autores brasileiros contemporâneos, após dois anos de suspensão das atividades, devido à pandemia da covid-19.

Na nova edição, participam 23 autores que trabalham com diferentes gêneros literários. Os encontros, que se resumem a conferências, rodas de poesia e espetáculos de literatura são abertos a toda a comunidade, com entrada gratuita e a classificação indicativa é livre para todas as idades. O evento, que acontece na capital federal desde ontem, na sede da Associação Cultural Jornada Literária do Distrito Federal, tem como objetivo estimular a formação de leitores por meio de leituras mediadas com professores de diversas áreas do conhecimento. Para isso, estudantes e professores das escolas públicas participantes da jornada receberam gratuitamente os livros, e estes foram trabalhados em sala de aula, como preparação para os encontros com os autores das respectivas obras lidas.

O ponto alto do programa acontece na interação entre estudantes e autores, quando conversam sobre os livros lidos, processos criativos, escrita, carreira, influências, entre outros temas. Dentre os participantes, está a jornalista e escritora Conceição Freitas, autora da série Bravos Candangos, série publicada no Correio em 2010, durante a celebração de 60 anos de Brasília. As reportagens contam as histórias de candangos do Distrito Federal, que vão desde arquitetos, engenheiros e telefonistas, até cozinheiras, prostitutas, lavadeiras e poetas.

Saiba Mais

Ao participar do primeiro dia da Jornada, Conceição conta que se surpreendeu com a curiosidade dos estudantes. "Os meninos e as meninas ficaram muito interessados, até porque são do Paranoá, cidade que nasceu para construir Brasília", cita. Para a escritora, o momento foi especial. "Houve uma imensa identificação entre eles e eu, dado a mesma origem periférica. A maioria deles é negra ou parda e me perguntaram se eu já quis desistir, porque escrevo. Foi quando disse que já quis, várias vezes. Mas no dia seguinte acordo e toco o barco", recorda.

A curiosidade se fez presente no momento de partilha da escritora com os estudantes. "Quiseram saber se eu gostei de Brasília quando cheguei, expliquei que estranhei muito. Desde as asas, aos eixos. Tudo complicado. Mas aprendi a gostar da história da arquitetura, do céu, do cerrado. Foi lindo demais", garante. O encontro, de acordo com a autora, serve de aprendizado não apenas para os estudantes, mas também para os palestrantes. "Vi que meu caminho para ficar viva, permanecer vibrante é convivendo com crianças, adolescentes e jovens. Eles são pura vida e esperança", diz.

As turmas do Centro de Ensino Fundamental (CEF) 4 do Paranoá marcaram presença na palestra de Conceição. A professora de língua portuguesa da escola Aline Torres Baena explica que os alunos estudaram a obra dias antes da jornada e que todos tiveram a curiosidade despertada. "Foi muito gostoso ler com eles, porque eles se interessaram em conhecer mais sobre Brasília. Para eles, até então, era fora da realidade conhecer um autor de livro, escritor e com a jornada descobriram que não é bem assim. Foi muito legal ver a Conceição dizer que despertou a escrita através da redação, ainda na escola. Isso mostra que eles também podem viver isso", diz.

Além de Conceição, participam desta edição os escritores Adriana Nunes, Ádyla Maciel e Nanda Fer Pimenta, Alessandra Roscoe, Alexandre Pilati, Almir Correia, Caio Riter, Christian David, Felipe Cavalcante, Felipe Fiuza e Tropa da Jornada, Ignácio de Loyola Brandão, Ivan Zigg, Jefferson Assumção, João Bosco Bezerra Bonfim, José Rezende Júnior, Leo Cunha, Marco Miranda, Marília Pirillo, Noélia Ribeiro, Rogério Andrade, Susana Ventura, e o músico Victor Batista. A Jornada Literária do Distrito Federal - Edição Paranoá e Itapoã é realizada com o patrocínio do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal (FAC-DF) e com o apoio do SESC DF, do Centro de Cultura e Desenvolvimento do Paranoá e Itapoã (Cedep) e da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Governo do Distrito Federal.

Sala de Leitura

O programa, que já beneficiou 127 mil estudantes e professores das escolas públicas do DF, foi criado em 2016 e hoje conta com um acervo de dois mil livros de literatura brasileira e clássicos de todo o mundo. Em novembro de 2021, foi inaugurada a Sala de Leitura da Jornada Literária no Paranoá. No local, toda a comunidade tem acesso a livros para a infância e a juventude, em especial álbuns ilustrados. Para o poeta João Bosco Bezerra Bonfim, e a jornalista Marilda Bezerra, realizadores da Jornada Literária do DF, a literatura é um dos direitos humanos que deve ser garantido, principalmente a crianças e adolescentes.

"Os moradores do Paranoá e Itapoã não podem ficar sem esse bem, porque a necessidade de ouvir uma quadrinha, ler um poema, um conto, um romance, tudo isso é universal. Mesmo sem ser vista como útil de imediato — como um prato de comida — a literatura é quem nos abre a imaginação, o espaço do sonho e da criatividade", diz João. Durante a programação, haverá estandes da Feira de Troca de Livros, em que os participantes poderão trazer obras já lidos e trocar por outras — de literatura e humanidades — que os agradem. E, também, quiosque com obras dos autores e autoras desta edição.

Cícero Bezerra/Jornada Literária do Distrito Federal - O programa, que já beneficiou 127 mil estudantes e professores das escolas públicas do DF, foi criado em 2016 e hoje conta com um acervo de dois mil livros de literatura brasileira e clássicos de todo o mundo
Cícero Bezerra/Jornada Literária do Distrito Federal - O programa, que já beneficiou 127 mil estudantes e professores das escolas públicas do DF, foi criado em 2016 e hoje conta com um acervo de dois mil livros de literatura brasileira e clássicos de todo o mundo
Cícero Bezerra/Jornada Literária do Distrito Federal - O programa, que já beneficiou 127 mil estudantes e professores das escolas públicas do DF, foi criado em 2016 e hoje conta com um acervo de dois mil livros de literatura brasileira e clássicos de todo o mundo
Cícero Bezerra/Jornada Literária do Distrito Federal - O programa, que já beneficiou 127 mil estudantes e professores das escolas públicas do DF, foi criado em 2016 e hoje conta com um acervo de dois mil livros de literatura brasileira e clássicos de todo o mundo

Feira do Livro de Brasília

Amanhã será o último dia da 36ª Feira do Livro de Brasília (FeLiB). O evento, que tem como tema "O Quadradinho, o Quadrinho e a Leitura… Sempre em Frente", em homenagem ao ilustrador e escritor Roger Mello, acontece desde o dia 17 de junho, no Complexo Cultural da República, na Esplanada dos Ministérios. Além das exposições, a Feira tem ainda palestras, apresentações culturais e ações educativas, em mais de 60 estandes. O Correio está presente no evento com um espaço 'instagramável' e o relançamento de livros de autores locais. Público de todas as idades podem comparecer na FeLiB, que acontece das 10h às 22h, e tem entrada franca.