Preservação

Guia de turismo relata como realizou o sonho de conhecer o Brasil

A paixão de Douglas Oliveira pelo meio ambiente o fez viajar pelo Brasil de carona e o tornou guia de turismo na Chapada dos Veadeiros. Além disso, seu grande sonho é que comunidades quilombolas do local sejam mais assistidas

Eduardo Fernandes*
postado em 11/07/2022 06:00
Douglas Oliveira, 30 anos, é apaixonado pela natureza desde pequeno -  (crédito: Fotos: Arquivo pessoal)
Douglas Oliveira, 30 anos, é apaixonado pela natureza desde pequeno - (crédito: Fotos: Arquivo pessoal)

Desde pequeno, Douglas Oliveira, 30 anos, alimenta um sentimento ávido por um mundo que, para muitos, inexiste e quase pouco é falado, principalmente no Brasil. Natural de Piranhas, em Goiás, a natureza o chamou para um encontro com o destino. Hoje, guia de turismo na Chapada dos Veadeiros, ele aceitou o convite para construir um legado de preservação ao meio ambiente, mostrando às pessoas a importância e riquezas de um mundo que é de todos por direito.

A história que começa ainda criança, encontrou percalços e algumas idas e vindas. Aos 13 anos, em uma excursão da escola, a professora levou todos os alunos para conhecer uma cidade de Goiás. Nesse episódio do acaso, Douglas conheceu a primeira cachoeira, conhecida como Cachoeira das Andorinhas. Os estudos, na época, deixaram de ter tanta importância, devido à paixão que começava a aflorar. "Dos 14 em diante sempre fugia da escola ou faltava para ir na Serra das Areias, em Aparecida de Goiânia, lugar onde cresci", conta.

Aos 18, Douglas tinha um sonho: conhecer o Brasil. Por ser de uma família mais humilde, começou a produzir suas primeiras peças de artesanato para conseguir se fortalecer economicamente e ir em busca do seu objetivo. Mas as dificuldades foram muitas e ele teve de interromper um pouco da sua incrível trajetória em um lugar no qual nunca pertenceu. Transitou em inúmeros empregos, a maioria deles como auxiliar de produção. Infeliz dentro da própria singularidade, aos 22 anos decidiu largar o trabalho. Mesmo sem condições financeiras, quis ir ao encontro do universo de exploração que o esperava.

Viagem pelo Brasil

"Nunca fez sentido pra mim trabalhar realizando o sonho do patrão e não o meu", comenta Douglas, sobre a coragem que o fez, três meses após pedir demissão, decidir se jogar na vida e descobrir as maravilhas das coisas que estavam escondidas mundo afora. O mochilão que começou em 2015, no auge dos 22 anos, se deparou com uma realidade difícil. Sem dinheiro, trocava os artesanatos que produzia por comida e hospedagem. "Sempre pensei muito na desigualdade que é o mundo, e pra mim sempre esteve tudo ao contrário. Me jogar no mundo me fez entender como tudo isso funciona no aqui e agora", destaca.

Depois do mochilão, enfim, a volta para casa. O jovem sonhador de 24 anos, em 2016, reservou novamente um espaço para uma vida que não era a dele. Durante dois anos, fazia bicos e trabalhava em uma loja de acessórios. Expor a arte que produzia também era uma forma de manter a chama acesa dentro do peito. Com isso, em 2018, surgiu uma grande oportunidade para ele. Na Chapada dos Veadeiros foi reaberto o curso para guia de turismo. Com os pequenos trabalhos que realizava, conseguiu juntar a quantia necessária para a formação na profissão. 

Atualmente, Douglas contabiliza mais de 5 mil pessoas orientadas, em 4 anos, como guia de turismo. Por dia, o número de atendimentos costuma variar entre 4 a 10 pessoas. Dentro da Chapada dos Veadeiros, um dos grandes sonhos de Douglas passa pela ajuda que deseja fornecer às comunidades quilombolas Vão do Moleque e Vão de Almas. O desejo de Douglas é que a existência deles seja reconhecida. "É um povo nativo daqui há mais de 200 anos", destaca.

Redes sociais

Em 2019 houve uma virada de chave no destino de Douglas. Com a criação de conteúdo de aventura e das belezas naturais para o Instagram, o guia acumula, hoje, cerca de 83 mil seguidores, com vídeos que chegaram a 7 milhões de visualizações. "Sempre busquei o diferencial, realizando sonhos e proporcionando experiências que sem o guia a pessoa não conhece", explica.

Na rede social, o guia divulga o diferencial do trabalho dele, alertando para a importância da educação ambiental e preservação do meio ambiente. Falar sobre esses temas, para Douglas, é fundamental, já que a profissão na qual exerce é base assuntos tão importantes.

Luta pela natureza

O ambientalista Nelson Rodrigues acredita que o trabalho realizado pelo jovem corrobora para enxergar a realidade do meio ambiente e dos problemas que os rodeiam. "Ele é mais um grão de areia em meio a multidão que mostram os problemas ambientais no nosso dia a dia, a falta de políticas públicas e investimentos nesta questão tão importante para preservar nossos recursos hídricos, da fauna e flora do nosso cerrado, que vem sendo devastado ano após anos", aponta.

Com toda uma história para ser escrita pela frente, o guia de turismo começa a dar os primeiros passos para uma aventura fora do país. No mês de junho, concluiu o curso de guia nacional e conseguiu uma credencial Mercosul para atuar em todo o território sul americano. "Quero fazer o brasileiro valorizar a sua casa através do conhecimento. Na América do Sul desejo mostrar a cultura de cada local, a culinária típica, os pontos de ecoturismo, a história pensando no turismo com base comunitária", anseia Douglas, que encontrou o seu lugar no mundo, perto dos horizontes magníficos esquecidos por tantas pessoas.

* Estagiário sob a supervisão de José Carlos Vieira

 

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