Entre a forja e a espada: morador de Taguatinga faz objetos medievais

Com uma coleção de 25 peças em ferro elaboradas por ele próprio — desde baús até armaduras completas —, morador de Taguatinga conta por que decidiu transformar a paixão pela temática medieval em hobby

Arthur de Souza
postado em 10/07/2022 06:00
 (crédito:  Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
(crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

É possível existir alguém que, puramente por hobby, passe cerca de dois anos e meio dedicando-se à construção de uma armadura medieval completa, do capacete ao sapato de ferro? Esse nível de entusiasmo existe e preencheu, por cerca de 15 anos, a vida de Marcos Antonio da Silva, 64 anos, morador do Setor de Mansões de Taguatinga. O analista de sistemas aposentado só pendurou o martelo porque terá de se mudar com a família para uma casa menor, onde não haverá espaço para guardar novas peças.

A inspiração para criar os objetos começou quando ele entrou para um motoclube, em 2004. Aficionado pela temática medieval, naquele ano, Marcos Antonio conheceu um amigo que havia construído uma armadura para usar enquanto andava de moto. A visão da cena trouxe de volta memórias da infância. "Quando eu tinha 10 anos, meu pai — armeiro de coração e por intuição — fazia espingardas, facas e garruchas de um modo bem artesanal. À época, eu o ajudava a rodar a forja. As faíscas do carvão batiam em mim, queimavam um pouco, e eu ficava bastante chateado. Não gostava e queria sumir dali. Hoje, porém, imagino aquela figura (o pai) mascando fumo e malhando ferro quente para dar forma a artefatos que minha imaginação de criança não entendia direito", conta o aposentado.

Com essas inspirações e lembranças, o aposentado teve as primeiras ideias do que produzir. O trabalho com a forja começou com um capacete. "Resgatei na mente os ensinamentos paternos que eu havia ignorado e passei a construir artefatos medievais. Dali em diante, iniciei a produção de uma armadura completa. Essa foi a que mais demorou. Comecei em 2006 e terminei na metade de 2008. Além dos detalhes (das peças), o fato de eu trabalhar fora naquele tempo colaborou para a demora. Mas, depois dessa, com mais prática, fiz outras duas. Cada uma demorou cerca de oito meses para ficar pronta", detalha Marcos Antonio.

A maioria das armaduras e armas se tornaram itens de decoração; outras, contudo, funcionariam para combate, segundo ele. Orgulhoso dos trabalhos feitos, Marcos Antonio conta que aprendeu tudo sozinho, pois não tinha quem o ensinasse. "Eu assistia a vídeos na internet e pegava fotos para fazer os detalhes. Só que eu tinha de imaginar como seriam as curvas, porque, na imagem — que é plana —, não dá para ter noção de profundidade. Às vezes, eu perdia duas ou três peças por precisar refazê-las", comenta.

Depois de elaborar cerca de 25 objetos, Marcos Antonio decidiu se aposentar do hobby. "Parei de construir as armaduras em 2019. Minha esposa e eu estamos pensando em nos mudar para uma casa menor. Então, não haveria espaço para guardar mais peças", lamenta o ferreiro e armeiro autodidata. Ao receber a reportagem e mostrar uma invejável coleção, ele revela as criações que considera mais especiais: "A última armadura que fiz, usando como modelo uma que a rainha Elizabeth I da Inglaterra fez para um soldado, e uma que construí para minha esposa".

Companheira de Marcos Antonio, Antonia Lenilda, 65, divide o interesse pelo assunto com o marido. Enquanto ele elaborava as peças de ferro, ela confeccionava as vestes usadas por baixo das armaduras. "Foi muito por influência dele que me interessei mais pelo assunto. Uma vez, fizemos um jantar medieval com os convidados vestidos com roupas da época. Costurei, também, para quem não tinha conseguido alugá-las poder participar e ficar a caráter. Agora, dei uma parada (na atividade), assim como o Marcos. Mas, se precisar, posso fazer uma ou outra, até porque é mais fácil de guardar do que uma armadura", brinca a professora aposentada.

 


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