Operação Anjos da Guarda

Entenda como criminosos planejaram fuga de líderes de facções presos

Documento enviado à Justiça Federal revelou que projeto estaria "95% pronto" e que criminosos contaram com a ajuda de advogados para se comunicar com detentos. Envolvidos elaboraram três planos de ação

Júlia Eleutério
Arthur de Souza
postado em 10/08/2022 21:49 / atualizado em 10/08/2022 22:05
Polícia Federal e Departamento Penitenciário Nacional deflagraram operação, nesta quarta-feira (10/8), para prender suspeitos de planejar fuga de detentos -  (crédito: PF/ divulgação )
Polícia Federal e Departamento Penitenciário Nacional deflagraram operação, nesta quarta-feira (10/8), para prender suspeitos de planejar fuga de detentos - (crédito: PF/ divulgação )

O Departamento Penitenciário Nacional (Depen) e a Polícia Federal (PF) cumpriram, nesta quarta-feira (10/8), 11 mandados de prisão preventiva contra um grupo que planejava resgatar e ajudar na fuga de líderes de organizações criminosas (leia Três planos). Os alvos estão presos em unidades do Sistema Penitenciário Federal (SPF) em Brasília e Porto Velho. 

As estratégias identificadas envolviam, inclusive, o sequestro de autoridades do SPF e ataques contra as instalações do Depen. Para que o que plano funcionasse, os líderes da organização usaram uma rede ilegal de comunicação, com auxílio de advogados, para a entrega de mensagens entre os presos e os criminosos que estavam fora da prisão.

Para se comunicar com os advogados sem levantar suspeitas, os investigados usavam códigos durante os atendimentos e as visitas dos representantes legais às prisões. Na operação, intitulada Anjos da Guarda, os agentes cumpriram, também, 13 mandados de busca e apreensão no Distrito Federal, no Mato Grosso do Sul e em São Paulo. 

Investigação

Em uma série especial publicada recentemente, o Correio detalhou planos de integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC) para resgatar Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, da Penitenciária Federal em Brasília.

As investigações sobre a articulação em torno de Marcola levou o Depen, responsável pelas penitenciárias federais em que se encontravam os líderes das organizações criminosas, a compartilhar informações com a Polícia Federal sobre as movimentações.

Assim, o órgão e a PF atuaram de maneira coordenada para unir prova que permitissem identificar as novas tentativas e interromper os planos, nesta quarta-feira (10/8). A ação demonstrou, segundo o Depen, a capacidade do Sistema Penitenciário Federal (SPF) de "isolar lideranças criminosas, identificar possíveis ameaças e neutralizá-las, em atuação integrada com as demais forças de segurança pública da União".

Participaram da operação 15 policiais penais federais e 80 policiais federais. Uma decisão da 15ª Vara Federal em Brasília para autorizar a operação Anjo da Guarda, a pedido da PF e do Ministério Público Federal, revelou que os presos comentaram, em conversas com os advogados, que o plano de resgate estava "95% pronto", dependendo apenas da concretização.

O juiz que analisou o pedido destacou no decisão a existência de um possível projeto de resgate de integrantes da cúpula do PCC, "utilizando-se de grande número de criminosos e vasto material bélico".

Três planos

A PF conseguiu dados de telecomunicação e informática de um dos advogados investigados, em que constataram o uso dos termos "STF" e "STJ" nas conversas com os clientes presos. As siglas não se referiam aos tribunais superiores, mas a planos de fuga.

O documento da Justiça Federal detalhou haver menção à "prática de sequestro de autoridades do Sistema Penitenciário Federal e/ou seus familiares, com ordens, inclusive, para a prática de homicídios".

Confira como seriam as três ações articuladas:

  1. Plano STF: envolvia uma possível invasão à Penitenciária Federal de Brasília;
  2. Plano STJ: previa o sequestro de autoridades ligadas ao Sistema Penitenciário Federal, como diretores, chefes de segurança e familiares, em troca da libertação dos presos. As conversas mencionaram dois nomes de alvos;
  3. Plano SUICIDA: os criminosos que não estavam presos teriam cerca de oito meses para executar o resgate dos encarcerados da Penitenciária Federal de Brasília. Caso não conseguissem, o próprio Marcola iniciaria uma rebelião no presídio, "com a provável tomada de servidor público como refém".

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