CB.Poder

Apropriação de símbolos nacionais divide população, avalia cientista político

Entrevistado do CB.Poder desta quarta (7/9), o professor da UnB Lucio Rennó afirma que atos do 7 de Setembro deste ano foram menos agressivos do que os de 2021

Ana Isabel Mansur
postado em 07/09/2022 15:17 / atualizado em 07/09/2022 16:26
Lucio Rennó é coordenador do grupo de pesquisadores Observa DF, observatório econômico e social que estuda o Distrito Federal -  (crédito: Reprodução)
Lucio Rennó é coordenador do grupo de pesquisadores Observa DF, observatório econômico e social que estuda o Distrito Federal - (crédito: Reprodução)

O CB.Poder desta quarta-feira (7/9) repercutiu o desfile de 7 de Setembro, que lotou a Esplanada dos Ministérios durante a manhã. Lucio Rennó, cientista político e professor da Universidade de Brasília (UnB), foi o convidado do programa, parceria entre o Correio Braziliense e a TV Brasília.

Ao jornalista Lucas Móbille, o especialista avaliou as manifestações que ocorreram durante a parada, tanto na capital do país quanto nas demais cidades. Os atos, convocados pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), reuniram principalmente apoiadores do governo.

"A apropriação de símbolos nacionais (por determinados grupos) historicamente aparta a população dos países onde isso ocorre, em ambientes polarizados, e gera rejeição aos símbolos pelos adversários políticos. Esse uso acaba dividindo a nação em temas que não deveria ser dividida. São símbolos de todos nós. É um caminho prejudicial", comentou Lucio Rennó, coordenador do grupo de pesquisadores Observa DF, observatório econômico e social que estuda o Distrito Federal.

Para o professor, o ato é característico de regimes fascistas, como o nazismo. "Não estou dizendo que é a mesma coisa, óbvio", ressaltou. "Mas essa apropriação tem traços desses estilos de governar. Desde o ano passado, o 7 de Setembro passou a ser uma manifestação dos apoiadores do presidente, com convocação do próprio Bolsonaro", completou.

Lucio Rennó avalia que os atos deste ano foram menos agressivos dos que os do ano passado, quando ataques à democracia estiveram mais presentes. "Essa, que é uma expressão clara do bolsonarismo, esteve mais atenuada neste ano. Foi mais uma manifestação pró-Bolsonaro do que antidemocrática." Apoiadores do presidente, no entanto, atacaram o Supremo Tribunal Federal (STF) durante as manifestações e pediram intervenção militar.

O pesquisador lembrou também que os questionamentos acerca da segurança das urnas eletrônicas, feitos constantemente por Bolsonaro, demonstram a atual fragilidade que a democracia brasileira enfrenta.

Para Lucio Rennó, as atitudes do presidente não caracterizam campanha eleitoral. Ele complementa que as ações de um chefe de Estado não podem ser as mesmas de um candidato e que não cabe pedir votos nem fazer discursos eleitorais explícitos.

"Certamente, há uma apropriação dos símbolos nacionais, como a bandeira, a camisa da seleção (de futebol) e da própria data (Independência), todos em referência à pátria, elemento marcante da retórica bolsonarista. Mas não posso afirmar, com certeza, que se tratou de um ato de campanha, embora seja uma mobilização com eleitores, na tentativa de demonstrar força, coesão e integração do movimento. É um sentimento que ocorre desde o ano passado, quando o evento teve caráter mais agressivo. Há, no Brasil, hoje, uma preocupação com o rito normal da democracia, devido ao surgimento de movimentos de caráter antidemocrático. São mobilizações autoritárias que não percebíamos de forma tão marcante pelo menos desde os anos 1960."

Assista à entrevista completa:

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