Águas Claras

"Fatalidade anunciada", diz parente de operário que morreu em Águas Claras

Wanderson da Silva, 22 anos, e Gutemberg Santana, 56, morreram após respirar monóxido de carbono enquanto realizavam trabalho de limpeza em cisterna, nesta quarta-feira (28/9). Familiares tentam entender como aconteceu o acidente

Darcianne DiogoRafaela Martins
postado em 29/09/2022 05:52 / atualizado em 29/09/2022 05:53
 (crédito: Rafaela Martins/CB/D.A Press)
(crédito: Rafaela Martins/CB/D.A Press)

Dois homens morreram depois de inalar monóxido de carbono enquanto faziam um serviço de limpeza em uma cisterna, em um prédio residencial da Quadra 208, em Águas Claras. O acidente aconteceu na tarde dessa quarta-feira (28/9). As vítimas foram identificadas como Wanderson da Silva, 22 anos, e Gutemberg Santana, 56. A 21ª Delegacia de Polícia (Taguatinga) investiga o caso.

Primo de Gutemberg, Rafael Santana, 34, pensou que era um dia normal. Ao ligar a televisão, o técnico em recursos humanos se deparou com o acidente que deu fim a vida do familiar. "Se foi uma fatalidade, foi uma fatalidade anunciada. O outro menino que estava na cisterna subia com uma corda e uma bomba de não sei quantos quilos e não tinha uma pessoa para supervisionar. Na hora que um parente morre, ninguém fala nada. Você procura o síndico e não acha, procura o dono da empresa e não acha, procura o responsável pela obra e não acha", protestou Rafael.

Além disso, um terceiro trabalhador foi levado com vida ao Hospital de Base pelo helicóptero do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF) depois de sofrer uma parada cardiorrespiratória devido à inalação do gás. Dois operários não sofreram nenhum tipo de lesão, apesar de terem descido na cisterna para ajudar os colegas, que estavam cobertos por água e lama.

Segundo o Corpo de Bombeiros, nenhum deles usava os equipamentos de proteção necessários. Com uma profundidade de quase sete metros, os operários desceram ao poço com o auxílio de uma escada e com uma motobomba para fazer a limpeza. "Ela (motobomba) ajudou no desprendimento dos compostos orgânicos e nessa emissão de monóxido de carbono", explicou o tenente Abreu. O Correio tentou contato com a empresa, não recebeu resposta até o fechamento desta edição.

Revolta

Inicialmente, dois trabalhadores desceram ao poço e desmaiaram ao inalar monóxido de carbono. Um terceiro foi tentar ajudar. Ele também passou mal, mas conseguiu retornar. O quarto homem chegou a entrar na cisterna, no entanto ao ver que não poderia ser capaz de acudir os colegas, voltou. Um morador do edifício acompanhou toda a situação e chamou o socorro dos bombeiros. O síndico do condomínio não conversou com a imprensa.

O CBMDF foi acionado e deu início ao trabalho de resgate. Cerca de 60 militares atuaram na ocorrência, que utilizaram escada, força braçal e cordas. "A queima de combustíveis fósseis produz monóxido de carbono, e é um gás asfixiante, então eles ficaram inconscientes", frisou.

Por volta das 19h, familiares chegaram ao local para identificar as vítimas. Carlos Antonio da Silva, pai de Wanderson, acredita que o filho entrou na cisterna para salvar um dos colegas que desmaiou após inalar o gás. "Meu filho trabalhava com minha sobrinha, eles faziam serviço de paisagismo. No serviço que eles estavam realizando hoje, eles contrataram uma outra empresa para fazer a limpeza da cisterna. A empresa da minha sobrinha ia fazer a troca da bomba. Eram praticamente duas empresas que estavam aqui. O que deu errado foi que no momento de fazer a sucção da água, a bomba caiu, e um dos funcionários retornou para a cisterna. Eles não sabiam, mas a bomba soltava um gás", disse Antônio.

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  • Monóxido de carbono intoxicou as vítimas, que desmaiaram
    Monóxido de carbono intoxicou as vítimas, que desmaiaram Foto: Divulgação/CBDF
  • Um dos operários foi encaminhado ao hospital por helicóptero
    Um dos operários foi encaminhado ao hospital por helicóptero Foto: Divulgação/CBDF
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