Nova Estação

Chegada da primavera coincide com o fim da seca e encanta brasilienses

A temporada das flores começa nesta quinta-feira (22/9). Depois das primeiras chuvas do M~es, o clima e o astral da cidade começam a mudar

Flores, chuva e inúmeras belezas ressurgem no Distrito Federal. A chegada da primavera, que começa nesta quinta-feira (22/9), traz conforto e alívio para o brasiliense, já que a seca perdurou por um bom período na capital do país. A época também carrega significados distintos para muitas pessoas. Para alguns, tempo de semear e colher. Para outros, entendimento e reafirmação. A estação floresce não somente nas ruas do quadradinho, mas também nos corações daqueles que amam o clima que está por vir.

Vitória Rodrigues, 19 anos, revela que ama a primavera e as flores que surgem com a estação. Sempre que o período se inicia, a estudante de direito diz que "é impossível não parar para registrar fotos das árvores ou dos jardins que embelezam o cotidiano".

E, diante da vida atribulada com estudos e estágio, a jovem acredita que ter paisagens como essas ajudam a acalmar uma rotina que está sempre atrelada à pressa. "Se não pararmos para apreciar, não tem beleza alguma no nosso dia a dia, a gente acaba vivendo uma vida muito triste", comenta.

Antigo regente do Templo Budista de Brasília, entre os anos de 1998 e 2021, o Monge Sato, 80, é paulistano e mora na capital desde 1986. Para ele, as quatro estações do ano representam a impermanência de todos os fenômenos — um dos três pressupostos do budismo, que estão "atrelados à independência do Ser Existente" e a busca pela felicidade.

"Nos países do hemisfério norte, onde surgiu o budismo, segue o frio e a desolação do inverno com as floradas e o calor do sol. Entre nós, no hemisfério sul, especialmente em Brasília, a chuva na secura também antecede o verdejar da grama e das folhas e o colorido das flores", descreve o Monge. Isso ocorre principalmente nesta estação. "A primavera surge para a renovação das relações humanas, da intersubjetividade, e dá esperança para voltarmos a ser felizes", completa.

O Budismo Shin celebra a data dos equinócios — transição das estações no ano — tanto da primavera quanto do outono, época em que o sol sempre se põe a oeste. De acordo com o Monge Keizo Doi, sucessor do Monge Sato, o atual período é uma chance para encontrar um novo lugar, alcançando sentido para a própria vida. “Nesses dias todos podem tomar a direção exata apenas ao buscar o pôr do sol. Para quem segue o caminho, a direção é crucial”, acredita.

Significado

Vendedora em meio período e taróloga no contraturno, Beanna Lunnares, 23 anos, tem a vida baseada na crença de que é possível manipular as energias da natureza. Diante disso, o início da primavera, para ela, é um convite a olhar e perceber aquilo que cada um tem semeado e germinado dentro de si mesmo. "Enxergar coisas que, muitas vezes, deixamos de lado — devido à correria do cotidiano —, e pensamos que estão estagnadas, mas que, na verdade, estão se desenvolvendo e dando frutos", diz.

Para a moradora da Asa Sul, "o período, de maneira singular, representa luz e carrega uma perspectiva de que nem toda colheita pode dar certo". No entanto, na ótica dela, a primavera surge para mostrar que, de vez em quando, problemas acontecem em razão daquilo que as pessoas plantam ao longo dos anos. "Todo ato é uma potência e a primavera dá vida a tudo que eu faço de benéfico, maléfico ou algo entre essas duas coisas", destaca.

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Fauna

Professor de ciências naturais na Universidade de Brasília (UnB), Eduardo Bessa explica que, na primavera, e em decorrência das chuvas, muitas plantas vão aproveitar o excesso de recursos advindos do período pluvial para florescer. Mas, de acordo com ele, isso não é uma regra e, talvez, não aconteça de forma generalizada. "É difícil precisar quanto tempo leva para as flores surgirem e quanto tempo a floração dura, isso varia muito de espécie para espécie", detalha.

Em relação à fauna, ele conta que a chegada das chuvas auxilia na disponibilidade de alimento. Com isso, os animais terão mais energia para crescerem e se reproduzirem. O especialista lembra ainda de outros fenômenos, como o canto das cigarras, que saem da terra. "As tesourinhas e andorinhas migratórias constroem seus ninhos, peixes sobem os rios e vaga-lumes passam as noites a piscar", observa.

Arquivo pessoal - Beanna Lunnares, 23 anos, taróloga e moradora da Asa Sul
Carlos Vieira/CB/D.A.Press - 20/09/2022. Crédito: Carlos Vieira/CB/D. A. Press. Brasil. Brasília - DF. Cidades. Chegada da primavera.
Ana Rayssa/CB/D.A Press - 10/08/2020. Credito: Ana Rayssa/CB/D.A. Press. Brasil. Brasilia - DF. Cidades. Meditação como estratégia para cuidar da saúde mental, durante a pandemia. Monge Sato da dicas de como começar na meditação.

Transição

A primavera é uma estação de transição do período mais frio e seco do inverno para o quente e chuvoso do verão. Andreia Morais, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), ressalta que o período pluvial começa a partir das convergências de umidade oriundas da Amazônia. "O início da estação é chuvoso. A média climatológica para setembro é de 38.1mm, em outubro vai para 141.8mm, em novembro sobe para 256.1mm e em dezembro cai um pouco para 241.1mm. As previsões devem ficar dentro ou acima desses valores ao longo dos meses", adianta. Andreia informa que as tardes e noites do Centro-Oeste serão marcadas por pancadas de chuvas com trovoadas e, por vezes, rajadas de vento.

Em relação à temperatura, a meteorologista diz que, de modo geral, se manterá em torno dos 30°C. A umidade do ar também deve aumentar, o que favorecerá as precipitações. A cada mês, ao longo da estação, será possível perceber um aumento significativo das chuvas, principalmente em novembro e dezembro, que costumam ser impactantes no acumulado de milímetros.

Um fator que contribui para isso, conforme lembra a meteorologista, é o La Niña. O fenômeno natural consiste na diminuição da temperatura da superfície das águas do Oceano Pacífico Tropical, Central e Oriental — presente desde a primavera passada —, e que proporcionou chuvas acima da média para o DF no início deste ano, quando estava em seu pico máximo de intensidade.

*Estagiários sob a supervisão de Malcia Afonso

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