Violência /

Mesmo com progressão de pena, Gengis Keyne seguiu infringindo a lei

Gengis Keyne, ex-líder da gangue Falange Satânica, que ficou conhecida no noticiário nacional depois da agressão e morte do jovem Marco Antônio de Velasco, está internado após briga com vizinhos, na Vila Planato

Edis Henrique Peres
Júlia Eleutério
postado em 18/10/2022 05:56 / atualizado em 18/10/2022 05:57
 (crédito:  Ed Alves/CB)
(crédito: Ed Alves/CB)

Conhecido por um dos crimes mais cruéis da capital do país: o assassinato do jovem Marco Antônio de Velasco, pela gangue Falange Satânica, na década de 1990, Gengis Keyne Braga Barcelos de Brito, 47 anos, está envolvido em uma nova polêmica policial. O bacharel em Direito, que cumpriu 21 anos pela participação na morte do adolescente de 16, está hospitalizado após ter sido espancado no apartamento alugado onde mora, na Vila Planalto, no último domingo.

Pouco antes de ser vítima de agressão, Gengis Keyne chegou a ser levado à delegacia após ameaçar a família da dona do apartamento onde vive. Os conflitos estavam relacionados principalmente a atrasos de aluguel, água e energia. Entretanto, após o depoimento, por volta das 4h, a casa de Keyne teria sido invadida por um grupo de pessoas não identificadas. As informações constam no boletim de ocorrência que foi registrado pela atual companheira de Gengis na 5ª Delegacia de Polícia (Asa Norte).

Segundo o relato prestado aos agentes, ainda fora da casa, um dos invasores apontou uma arma de fogo para a janela do quarto do casal e efetuou dois disparos. Em seguida, os suspeitos arrombaram a porta da casa e agrediram Gengis Keyne. Junto com a denúncia de agressão, a companheira de Gengis apresentou um vídeo aos policiais mostrando o imóvel revirado e o marido caminhando com sangue na região da barriga antes de ser encaminhado ao hospital.

Versões conflitantes

Na manhã de ontem, a equipe de reportagem foi até o local do crime e conversou com os vizinhos e a sogra de Gengis. Dividido em seis apartamentos, o prédio residencial é marcado por um histórico de conflitos entre os inquilinos. Uma testemunha, que pediu para não ser identificada, disse que o casal estava há meses sem pagar o aluguel e, no dia em que uma das moradoras do prédio foi religar o registro de água do seu apartamento, a companheira de Gengis começou a gritar, pensando que estavam desligando o registro do apartamento em que vivia.

"Ela tem uma personalidade bem difícil de lidar. Com os gritos, Gengis apareceu na escada, eles moram no último apartamento do prédio, e começou a gritar e ameaçar todo mundo com uma faca na mão. Ele disse que não adiantava o que acontecesse ou onde a vizinha se escondesse, ele a pegaria", detalha a testemunha. Com o desentendimento, a polícia foi chamada e os envolvidos deram suas versões na delegacia.

Ainda em conversa com o Correio, o morador nega ter ouvido barulhos de tiros e conta que ouviu somente o som de objetos se quebrando na casa. "Até falei para a minha esposa deixar essa história quieta, que deveria ser briga de casal, e era comum eles terem essas confusões", relata.

A sogra de Gengis, que estava no prédio desocupando o imóvel do casal, aponta a coincidência da casa ter sido invadida no mesmo dia da briga. "É uma covardia o que fizeram", indigna-se. Ela conta que no sábado, antes do espancamento, foi ao local para buscar a filha. "Eu já ia resolver tudo no domingo, mas aí, aconteceu isso", afirma.

Procurado, o delegado que investiga o caso ressaltou que a ocorrência está em apuração e não deu mais detalhes. A perícia no apartamento foi realizada na manhã de ontem, e a PCDF aguarda o resultado. Até as últimas informações divulgadas, Gengis estava internado no Hospital de Base, com suspeita de fratura nas costelas.

Histórico de crimes

Em agosto de 1993, o estudante Marco Antônio Velasco, 16 anos, foi espancado até a morte por 11 jovens que faziam parte da gangue Falange Satânica. O crime aconteceu na 316 Norte. Gengis, líder do grupo, foi um dos condenados e foi sentenciado a 21 anos de prisão.

Após cumprir um sexto da pena, Gengis foi beneficiado com a liberdade condicional. No entanto, em 2003, o estudante de direito cometeu outro crime, sendo preso em flagrante por estelionato e falsidade ideológica ao tentar comprar um celular com identidade e cheques falsos. Pela infração, ele foi condenado a sete meses de prisão e perdeu o direito à condicional. Depois, em 2007, por bom comportamento, conseguiu a conversão da pena para o regime domiciliar.

Contudo, em março de 2008, ele foi flagrado no Lago Norte com 246,5g de maconha e 0,73g de haxixe, que estavam escondidos no carro de Gengis. Segundo relatos policiais na época, ele tentou fugir a pé e resistiu a entrar no carro da polícia. Alguns meses depois, em junho, Keyne tentou fugir do presídio junto com outros detentos.

Violência doméstica

Apenas este ano, três processos no âmbito da Lei Maria da Penha tramitam contra Gengis Keyne no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT). Um deles foi registrado pela atual companheira. Segundo informações, Gengis e a mulher estavam em viagem para a Terra do Ronca, no interior de Goiás. Em 11 de março, contudo, Gengis bateu contra o rosto da mulher e disse que ela merecia um "tiro na cara".

A discussão foi motivada devido um suposto envolvimento de Gengis com crime de tráfico de drogas. Depois de registrar a ocorrência, a Justiça concedeu medidas protetivas à vítima. O advogado de defesa tentou recorrer, mas a justiça entendeu a "necessidade das medidas protetivas de urgência já determinadas". Mesmo com a denúncia, o casal mantinha o relacionamento.

Essa não foi a única vítima de Gengis. No dia 2 deste mês, uma residente da Asa Sul prestou queixa por assédio contra Gengis. Segundo depoimento, a mulher o contratou para ajudar em uma obra e os dois tiveram alguns encontros amorosos. No entanto, em setembro, ele roubou uma motocicleta da vítima, que foi devolvida depois do registro da ocorrência.

Quando a denunciante voltava de um posto de gasolina, o carro em que ela dirigia foi fechado por outro veículo conduzido por Gengis Keyne. O homem saiu do veículo com uma arma de cano longo na mão e, com a coronha, quebrou o parabrisa da frente do veículo da vítima. A mulher informou que Gengis Keyne "enfiou a arma dentro do carro" e apontou para ela. Depois do episódio, a Justiça proibiu que Gengis se aproximasse da vítima e fixou um limite mínimo de 500 metros de distância, além de proibir o contato por qualquer meio de comunicação, tais como ligação telefônica, WhatsApp, e-mail ou redes sociais.

Além das denúncias das duas mulheres, segundo registro no TJDFT, em 22 de setembro, outra ex-companheira relatou que recebeu mensagens ofensivas e ameaças depois que pediu que ele ajudasse um dos filhos do casal a comprar um carro. Gengis alegou que a mulher queria acabar com o casamento dele e a xingou. No entanto, à época, a Justiça avaliou que não eram necessárias medidas cautelares.

 

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  •  17/10/2022. Crédito: Ed Alves/CB/D.A Press. Cidades. Conflito e ameaça precederam espancamento de Gengis Keyne.
    17/10/2022. Crédito: Ed Alves/CB/D.A Press. Cidades. Conflito e ameaça precederam espancamento de Gengis Keyne. Foto: Ed Alves/CB
  •  17/10/2022. Crédito: Ed Alves/CB/D.A Press. Cidades. Conflito e ameaça precederam espancamento de Gengis Keyne.
    17/10/2022. Crédito: Ed Alves/CB/D.A Press. Cidades. Conflito e ameaça precederam espancamento de Gengis Keyne. Foto: Ed Alves/CB
  •  17/10/2022. Crédito: Ed Alves/CB/D.A Press. Cidades. Conflito e ameaça precederam espancamento de Gengis Keyne.
    17/10/2022. Crédito: Ed Alves/CB/D.A Press. Cidades. Conflito e ameaça precederam espancamento de Gengis Keyne. Foto: Ed Alves/CB
  •  17/10/2022. Crédito: Ed Alves/CB/D.A Press. Cidades. Conflito e ameaça precederam espancamento de Gengis Keyne.
    17/10/2022. Crédito: Ed Alves/CB/D.A Press. Cidades. Conflito e ameaça precederam espancamento de Gengis Keyne. Foto: Ed Alves/CB
  • Em 1994, Gengis Keine de Brito foi condenado a 21 anos de prisão. Solto, ele acumula outras transgressões à lei
    Em 1994, Gengis Keine de Brito foi condenado a 21 anos de prisão. Solto, ele acumula outras transgressões à lei Foto: Carlos Eduardo/CB/D.A Press
  •  29/09/1994. Crédito: Glaucio Dettmar/CB/D.A Press. Brasil. Brasília - DF. Francisco Rivelino, membro da gangue Falange Satânica, um dos acusados do assassinato de Marco Antônio de Velasco Pontes, durante julgamento no Tribunal de Justiça do Distrito Federal - TJDF.
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    29/09/1994. Crédito: Glaucio Dettmar/CB/D.A Press. Brasil. Brasília - DF. Francisco Rivelino, membro da gangue Falange Satânica, um dos acusados do assassinato de Marco Antônio de Velasco Pontes, durante julgamento no Tribunal de Justiça do Distrito Federal - TJDF. Caption Foto: Glaucio Dettmar/CB/D.A Press
  •  20/09/1994. Crédito: Carlos Eduardo/CB/D.A Press. Brasil. Brasília - DF.  O líder da gangue Falange Satânica, Gengis Keine de Brito, acusado do assassinato de Marco Antônio de Velasco Pontes, cabisbaixo ao ouvir da juíza Sandra De Santis Mendes de Farias Mello a sentença de condenação durante julgamento no Tribunal de Justiça do Distrito Federal - TJDF.
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    20/09/1994. Crédito: Carlos Eduardo/CB/D.A Press. Brasil. Brasília - DF. O líder da gangue Falange Satânica, Gengis Keine de Brito, acusado do assassinato de Marco Antônio de Velasco Pontes, cabisbaixo ao ouvir da juíza Sandra De Santis Mendes de Farias Mello a sentença de condenação durante julgamento no Tribunal de Justiça do Distrito Federal - TJDF. Caption Foto: Carlos Eduardo/CB/D.A Press
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