Planaltina de Goiás

Conselho Tutelar encaminha crianças supostamente envenenadas para abrigo

Após a morte de Carlos Abraão e João Batista, de seis e quatro anos, três crianças foram para abrigos. Já um casal de primos, bebês com mais de 1 ano cada, está internado em hospital. Caso é investigado pelas polícias civis do DF e de Goiás

Júlia Eleutério
Pedro Marra
postado em 09/02/2023 22:33 / atualizado em 09/02/2023 22:33
 (crédito: Michal Jarmoluk/Pixabay )
(crédito: Michal Jarmoluk/Pixabay )

Três das sete crianças supostamente envenenadas em Planaltina de Goiás foram encaminhadas, nesta quinta-feira (9/2), para abrigos no Distrito Federal. Segundo o Conselho Tutelar da região, o motivo se dá pela situação de vulnerabilidade social da família.

As três crianças, de 12, 13 e 6 anos, foram para abrigos do Distrito Federal. Outro casal de primos, de 1 ano e três meses e de 1 ano e quatro meses, está internado no Hospital Regional de Sobradinho (HRS). Carlos Abraão, 6, morreu na última terça-feira (7/2) e João Batista, 4, em 17 de janeiro. Todos tiveram calafrios, fortes dores de cabeça e na barriga. O caso é investigado pela Polícia Civil do DF e pela Polícia Civil de Goiás (PCGO).

De acordo com o Conselho Tutelar, a maioria das denúncias que envolvem as sete crianças de uma família de Planaltina (GO) são infundadas. As informações também foram divulgadas nesta quinta-feira por integrantes da instituição, que acompanham o caso junto à PCGO e o Ministério Público de Goiás (MPGO). Testemunhas ouvidas pela reportagem relatam que os menores que moravam na residência sofriam maus tratos, viviam em condições insalubres e que a família tem nove passagens pelo conselho.

Entre as denúncias confirmadas, há casos de choro dos pequenos e sujeira do local, sem higiene. Mas, há outras sem fundamento, de acordo com a conselheira tutelar Daylane Rocha, como o suposto abuso sexual de vizinhos em cima de um dos netos da dona de casa Eva de Carvalho, 45 anos, que não ocorreu. Em outra, enviada pela própria avó das crianças, ela alega que não era autorizada a utilizar o Benefício de Prestação Continuada (BPC), do governo federal. No entanto, o auxílio vale somente para um membro de uma família.

"Elas mesmas faziam as denúncias, a mãe (Eva) contra a filha", afirma a conselheira tutelar Daylane Rocha.

As acusações eram recebidas pelo Conselho Tutelar por meio do Disque 100 e por denúncias anônimas. Daylane confirmou que, antes de saber da morte dos pequenos Carlos Abraão, 6, e João Batista, 4, viu comida estragada na casa da família. "Era a última coisa que a gente acreditava que iria passar com eles", desabafa.

Até o fechamento desta edição, a PCGO não confirmou se a morte dos meninos foi causada por intoxicação alimentar, decorrente de má alimentação.

Daylane cita também que Eva não acompanhava as crianças nos postos de saúde e não atualizava o cartão de vacinas de algum dos netos, quando a equipe visitou a residência, em 2020. “Naquele momento, o primeiro bebê a morrer, em 18 de janeiro, estava bem debilitado. Tivemos que fazer uma intervenção com ajuda da Polícia Civil, e a gente o abrigou", conta a conselheira.

Condições precárias

Sem paredes rebocadas, um portão fechado e um muro alto cercam de mistérios as circunstâncias em que dois garotos da mesma família morreram em Planaltina de Goiás. A avó dos meninos, Eva de Carvalho, 45 anos, acredita que eles foram envenenados por vizinhos. No entanto, os moradores da região confirmaram ao Correio que pouco contato têm com a família, que eles viviam em condições precárias e que, por vezes, ouviam choros de crianças vindo de dentro da residência.

Indignada com as acusações, uma vizinha enfatizou a necessidade de se investigar o que acontece dentro da casa. “Eles são o tipo de pessoa que não convive com ninguém e ainda levanta falso testemunho”, comenta a mulher que preferiu não se identificar. Ao saber do ocorrido com Carlos, a moradora conta que ficou surpresa. “Pensei: ‘como assim esse menino morreu?’”, recorda.

Outra moradora da rua que não quis se identificar, destacou que a família não costuma ter contato com os outros, e que ficam trancados dentro de casa. “A gente sabe quem são só de vista”, diz. Ela relata que em algumas ocasiões presenciou barulho de choro de criança, brigas e gritos vindos da residência.

"Não era uma situação boa que eles viviam. É bem precária. Logo que mudei para cá, duas crianças foram levadas pelo Conselho, porque estavam em situação horrível com feridas. Frequentemente denunciavam a família”, ressalta a vizinha que mora no local há cerca de cinco anos.

Moradora da rua há mais de 10 anos, ela conta que as crianças estudavam na mesma escola que a filha dele e costumava ver quando alguém da família os levava para a aula. “Para mim foi uma dor muito grande saber que aconteceu isso com o garoto. Porque a gente é mãe, tenho uma filha da mesma idade. Foi um susto. É muito triste”, comenta.

A vizinha ressalta que, por várias vezes, o Conselho Tutelar foi até a casa de Eva. “O cheiro é ruim, é tudo muito bagunçado. Eles vivem de pedir esmola há anos. Se o Conselho viesse de surpresa, ela (a avó) ficava impedindo a entrada no portão”, relata. A moradora ressalta que não tem os vizinhos terem feito mal às crianças. “Ninguém aqui seria capaz. Alguma coisa tem nessa história”, pontua.

 

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