Quando nos tornamos mães o que mais irrita — além do choro do bebê — são os comentários e conselhos de gente que tem certeza de que sabe melhor da sua vida e sobre o seu filho do que você. Ninguém se salva. Nem os pais de décima terceira viagem, que dificilmente descem de seu pedestal de "estar acima do bem e do mal". Os que não têm filhos também quase nunca conseguem se furtar de uma intromissão, partindo do pressuposto de que um olhar "imparcial" possa servir de alguma coisa.
Diante de tanto senso comum, que por vezes pode ser extremamente nocivo para uma mãe que está enfrentando o puerpério, melhor mesmo seria se todos levassem a sério o ditado: "Se conselho fosse bom, não se dava, vendia". Mas parece que todos preferem outro clássico: "De graça, até injeção na testa". Pois preciso discordar. Injeção na testa pode fazer mal à saúde.
Mesmo sabendo de tudo isso e sentindo na pele o que o julgamento de pessoas de fora sobre relações familiares e vivências que são muito particulares pode gerar, acabo me pegando tendo que atentar para alguns comportamentos com o objetivo de evitar incorrer em erros que tanto condeno. Pois não é que outro dia acabei fazendo um comentário que saiu sem um filtro com uma das mães da escola? Foi a reação sincera ao descobrir que ela tinha, além da coleguinha da minha filha, mais dois filhos. "Então são três...", disse eu, num misto de surpresa e sororidade.
Mas o que tenho eu a ver com o número de filhos dos outros? Muitas pessoas têm famílias com mais de dois filhos. Creio que, de forma egoísta talvez, não resisti em me imaginar na mesma situação e pensei como seria a vida se outra criança entrasse na equação. Seria o cansaço multiplicado por três? Teria tempo de me dedicar da mesma maneira que fiz às outras duas? E isso faria uma diferença na criação delas?
Enfim, coisas de mãe. Eu me policio constantemente para não me tornar a expressão completa da rabugice e da falta de bom senso que comentei no início. Nem sempre me saio bem, claro, mas a vigilância é permanente.
E tudo isso não significa que devemos parar de falar de maternidade. Pelo contrário. O diálogo é sempre o caminho para encontrar as soluções dos problemas mais complexos ou pelo menos conviver com os momentos mais difíceis conseguindo enxergar a beleza da vida a dois, a três, a quatro, a cinco.
Uma médica, mãe de três, que conheci recentemente, navegando pelas redes, trata o tema com profundidade, mas, ao mesmo tempo, com leveza. Sem apontar dedos ou dar lições arrogantes, consegue abordar os assuntos mais difíceis e tranquilizar corações dilacerados por aí — pelo menos comigo a fórmula funciona. Outro dia, a doutora Ana Jannuzi escreveu assim: "Sim, a vida pode ser difícil, mas também é bonita. Criar três crianças dá um trabalho imensamente grande, mas é recompensador a cada segundo".
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