Saneamento Básico /

Preservação dos mananciais é necessária para o Distrito Federal

Nascentes são constantemente monitoradas por órgãos de fiscalização. Segundo a Caesb, 99,63% das análises realizadas em 2022 mostraram resultados dentro dos padrões exigidos para o consumo humano

Arthur de Souza
postado em 22/03/2023 06:00
 (crédito: Fotos: Minervino Júnior/CB/D.A Press)
(crédito: Fotos: Minervino Júnior/CB/D.A Press)

Recurso essencial para inúmeras atividades (agrícolas e industriais) e, principalmente, para a vida humana, a água tem um dia específico para ser celebrada mundialmente: hoje. A Companhia de Saneamento Ambiental (Caesb) afirma que, em relação aos parâmetros que devem ser examinados com frequência trimestral e semestral, as análises realizadas no ano passado mostraram que 99,63% dos resultados atenderam completamente aos padrões estabelecidos pelo Anexo XX da Portaria de Consolidação nº 05/17 do Ministério da Saúde — que dispõe sobre o controle e vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade.

A Caesb também ressalta que atende a área urbana do Distrito Federal com água proveniente de cinco subsistemas produtores, constituídos de captações superficiais e subterrâneas, abastecendo 99% da população e, em 2022, produziu 258 trilhões de metros cúbicos (m³) de água. Aqui no Distrito Federal, ainda de acordo com a companhia, existem diversos mananciais que abastecem os moradores da capital do país e os maiores são: Rio Descoberto; Torto-Santa Maria-Bananal; Lago Paranoá; Lago Corumbá; Ribeirão Cabeça de Veado; Ribeirão Contagem e Paranoazinho; Ribeirão Mestre D´Armas e Corguinho; e Córregos Fumal-Brejinho e Pipiripau.

Professor da Universidade de Brasília (UnB) e presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica dos Afluentes do Rio Paranaíba no DF, Ricardo Tezini Minoti afirma que estamos na região mais alta do Planalto Central, local de nascentes, algo que é considerado bastante positivo. "Por isso, temos boa qualidade de água para abastecer um determinado tamanho da população. No entanto, temos rios de baixas vazões, com pouca disponibilidade hídrica para receberem poluentes, sejam de origem pontual (lançamento de efluentes, mesmo que tratados) ou difusa (agricultura e águas pluviais urbanas)", pondera Minoti.

Ainda de acordo com o especialista, esses locais (Rio Melchior e Ribeirão Sobradinho, por exemplo) apresentam a pior qualidade de água do DF. "São corpos hídricos que já não apresentam a qualidade de água necessária aos usos requeridos pelas comunidades, situação que chamamos de escassez hídrica qualitativa", comenta. "Precisamos de corpos hídricos para lançar efluentes tratados, não tem jeito", lamenta Minoti. O professor da UnB destaca que temos somente um corpo hídrico, o Lago Paranoá, que já apresentou um nível elevado de impacto de poluição, mas a situação foi revertida.

Segundo o especialista, a melhor qualidade de água encontra-se nos corpos hídricos situados no interior das unidades de conservação do DF. "São nossos melhores mananciais. Essas unidades são, ainda, o que faz a diferença no DF", explica. "Fora das unidades de conservação, temos rios e lagos que servem de mananciais. Em geral, para esses ambientes, existe uma tentativa maior de proteção ambiental das bacias hidrográficas e dos corpos hídricos", comenta. Minoti. Contudo, ele alerta que esses mananciais não são o suficiente para a população do DF. "Por essa razão, estamos trazendo água de Goiás, a um custo bem mais elevado", acrescenta.

Problemas

Minoti aponta que os problemas em relação à qualidade das águas do DF se referem ao tamanho da população, que é muito maior do que o projeto original de Brasília. Empecilho que é observado pela Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico (Adasa). "O DF tem um elevado índice de crescimento populacional quando comparado com outros estados ou outras regiões do Brasil, fruto não somente do aumento vegetativo da população, mas, principalmente, pelos movimentos migratórios", aponta a Adasa. Segundo a agência, o grande desafio para garantir os serviços básicos de saneamento, além da utilização sustentável dos recursos hídricos no DF, é buscar a crescente melhoria dos serviços de abastecimento de água e de esgotamento sanitário, o uso racional dos recursos hídricos e o controle da poluição dos corpos d'água.

O professor também coloca costumes diários da população — como jogar lixo na rua —, além de outros resíduos relacionados à ocupação humana em zonas urbanas, como gerados pelo tráfego de veículos automotores (óleos e metais) e poeiras, como sendo outros fatores que impactam na qualidade final das águas. "Isso é comum em grandes cidades do Mundo, após os períodos de estiagem. É esse impacto de todos os resíduos que gera aquela espuma que vemos nas vias durante as primeiras chuvas. Elas apresentam elevada carga poluidora e atingem diretamente os ambientes aquáticos."

Mas, no DF, o grande vilão em relação à qualidade das águas é a expansão urbana sem planejamento. "Isso gera um rápido aumento populacional e a ocupação ocorre de maneira desorganizada, sem a chance de adotarmos um planejamento que leve em conta todos os fatores mencionados anteriormente, pois o crescimento da população ocorre, em geral, em áreas que não comportam o aumento populacional", explica.

Minoti acredita que parte do caminho está sendo percorrido para tentar diminuir os problemas, com coleta e tratamento dos esgotos. "Em algumas bacias, como no Melchior, a Caesb realiza um tratamento com remoção de cerca de 95% das cargas poluidoras, um nível muito mais elevado do que a realidade nacional", ressalta. "A implantação de medidas 'verdes' nas bacias, como forma de gerar maior retenção das águas pluviais, maior infiltração, durante as chuvas intensas, pode contribuir, também, para a remoção de poluentes que atingem os corpos hídricos. Por último, trabalhar para impedir a entrada de esgotos nas redes de águas pluviais e vice-versa", conclui.

Ações

Ao Correio, a Caesb afirmou que dispõe de 13 estações de Tratamento de Água (ETAs), incluindo a ETA Corumbá, dedicadas a realizar o tratamento da água distribuída à população do DF, por mais de 9.681,5km de tubulações. "A companhia monitora a qualidade da água de todos os mananciais superficiais e subterrâneos utilizados para o abastecimento público. A qualidade da água distribuída passa por monitoramento diário pelo Laboratório Central."

A Caesb executa, ainda, um trabalho contínuo, destinado ao acompanhamento das disponibilidades hídricas e à proteção de suas fontes de água, envolvendo atividades como a medição de chuva do DF e a medição de vazões nos rios e nos poços.

A Adasa afirmou que promove ações de conservação das águas e dos solos por meio do projeto Produtor de Água, em parceria com a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) e outras instituições. "As ações executadas nas propriedades rurais participantes incluem a conservação do solo, da construção de terraços em áreas produtivas, da intervenção nas estradas internas das propriedades."

 

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  • O Lago Paranoá é o único corpo hídrico que teve a situação de poluição revertida, segundo especialista
    O Lago Paranoá é o único corpo hídrico que teve a situação de poluição revertida, segundo especialista Foto: Minervino Júnior/CB/D.A Press
  • Barragem do Descoberto faz parte do sistema de distribuição que abastece o DF
    Barragem do Descoberto faz parte do sistema de distribuição que abastece o DF Foto: Minervino Júnior/CB/D.A.Press

Futuro hídrico

O Fórum de Defesa das Águas está promovendo, entre ontem e hoje, o Seminário Internacional Grito das Águas do Distrito Federal. O evento acontece no Auditório Dois Candangos, na Faculdade de Educação da UnB, das 8h às 18h. O seminário dialoga com a Conferência da Água da ONU 2023, realizada em Nova Iorque na mesma semana. A intenção do encontro é discutir o futuro dos recursos naturais e hídricos do Distrito Federal.

O seminário contém painéis para apresentar e debater sobre o cenário das seguintes regiões produtoras de água: Águas Emendadas e a bacia do Maranhão e do São Bartolomeu; Serrinha do Paranoá e o Lago Paranoá; Rio Melchior e a Bacia do Descoberto; e Chapada da Contagem e Reservatório de Santa Maria.

O evento dá voz a representantes da sociedade civil, dos poderes públicos (distrital e federal) e de organismos internacionais, além de representantes de embaixadas da América do Sul e Europa. A ênfase está nos relatos dos movimentos sociais e ambientais que atuam em defesa das áreas de maior relevância e que estão em maior risco.

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