CIDADANIA

Acessibilidade precária prejudica pessoas com deficiência e idosos

No DF, há 356,5 mil idosos e 113,6 mil pessoas com deficiência (nas diversas faixas etárias). Esses são os grupos que mais sofrem com a falta de condições adequadas para se movimentarem

Laezia Bezerra
postado em 06/05/2023 06:00
Gabrielle dos Santos Silva, de 26 anos, semanalmente se desloca entre Águas Lindas (GO) e Brasília para o tratamento do filho, de 9 anos -  (crédito: Fotos: Carlos Vieira/CB/D. A Press)
Gabrielle dos Santos Silva, de 26 anos, semanalmente se desloca entre Águas Lindas (GO) e Brasília para o tratamento do filho, de 9 anos - (crédito: Fotos: Carlos Vieira/CB/D. A Press)

Ônibus sem elevador para cadeirante, rampas inadequadas, falta de piso tátil, elevadores e escadas rolantes parados são obstáculos para quem passa pela Rodoviária do Plano Piloto. Idosos, aqueles que enfrentam problemas de saúde e pessoas com deficiência estão entre os mais prejudicados. A falta de acessibilidade também está presente em vários pontos do Distrito Federal, com ruas esburacadas e calçadas quebradas.

Gabrielle dos Santos Silva, de 26 anos, exemplifica essa luta. Mãe solo de Flávio Eduardo, 9, ela mora em Águas Lindas (GO) e vem ao DF toda semana para o tratamento do filho, que tem paralisia cerebral, microcefalia e epilepsia. 

Com um leve sorriso, embora a expressão cansada, Gabrielle descreve a saga em se deslocar para levar Flávio ao Hospital da Criança e ao Sarah Kubitschek. Ele também faz sessões de fisioterapia, desde o nascimento, no Espaço Crescer, que fica na Granja do Torto. Os problemas começam nos coletivos sem elevadores. Para entrar, ela sempre precisa contar com a boa vontade de outros passageiros. Caso contrário, não conseguiria. O desgaste continua ao descer na Rodoviária, com os elevadores parados e as escadas rolantes quebradas. "É uma batalha constante, uma cansaço muito grande. Sou sozinha com ele. Preciso encarar todas essas dificuldades para conseguir cuidar e tratar o meu filho. Não há o que fazer, só aceitar a situação e viver", relata.

Inaceitável

O vendedor ambulante Marcos Aurélio Rodrigues da Silva, 45, trabalha na plataforma superior da rodoviária há quatro anos. Todos os dias ele auxilia cadeirantes a subirem ou descerem as escadas. "As pessoas ficam aqui pedindo nossa ajuda, porque os elevadores e as escadas rolantes não funcionam a partir das 17h. Qualquer tentativa de uso desses dois meios é em vão a partir dessa hora. Essa é uma rotina inaceitável, vejo gente desesperada para se deslocar", lamenta.

O presidente do Instituto Amigos em Ação, localizado em Ceilândia Sul, destaca que a falta de acessibilidade é um problema antigo. "Resolver não é importante para os órgãos do governo. Falta acessibilidade nas ruas, calçadas, rodovias, quadras poliesportivas e nas escolas. Quem está no poder coloca a pessoa com deficiência à margem da sociedade", protesta.

Para ele, essas adversidades só serão resolvidas se houver uma força-tarefa envolvendo órgãos oficiais e entidades da sociedade civil. "É preciso um olhar diferente para esse público e entender que, em Brasília, vivem pessoas com limitações e dificuldade de locomoção", destaca.

  • Subir as escadas na Rodoviária do Plano Piloto é um esforço doloroso para muitos Carlos Vieira/CB
  • É rotina as escadas rolantes estarem quebradas na Rodoviária do Plano Piloto Carlos Vieira/CB

Revolta

Os idosos também são vítimas desses percalços. É o caso de Vandercil Monteiro, 70. Ofegante, após subir as escadas na rodoviária, ele enumera os mesmo problemas. Morador da Asa Norte, quando precisa se deslocar para a área central — especialmente para procedimentos médicos — fica exausto, com respiração e batimentos cardíacos acelerados.

Em um misto de revolta e desânimo, o septuagenário sentencia: "Não falta acessibilidade nessa 'peste' dessa rodoviária, o problema é em tudo quanto é lugar na região de Brasília".

No DF, há 356,5 mil idosos e 113,6 mil pessoas com deficiência (nas diversas faixas etárias), de acordo com dados de 2021 — últimos disponibilizados pelo Instituto de Pesquisa e Estatística do Distrito Federal (IPEDF).

Outro lado

Em nota, a Secretaria de Transporte e Mobilidade (Semob) informou que "todos os ônibus do sistema de transporte público coletivo do DF têm acessibilidade para pessoas com deficiência". A Novacap acrescentou que está executando obras de calçadas com acessibilidade em diversos locais: Esplanada dos Ministérios (começando na Rodoviária do Plano Piloto), SQN 407,  SQS 102, Octogonal, Santa Maria, Viaduto do Recanto das Emas, Samambaia, Sobradinho 2 e Ceilândia.

Colaborou Mariana Saraiva

 

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O que diz a lei

A Lei nº 12.587, de 3 de janeiro de 2012, institui as diretrizes da Política Nacional de Mobilidade Urbana. A acessibilidade é definida como um conjunto de normas que permite às pessoas se movimentarem

Dados demográficos

Distribuição da população

com deficiência (por tipo de deficiência)

Visual 43,2%

Múltipla 22,6%

Física 19,8%

Auditiva 7,2%

Intelectual 7,2%

População idosa

60 a 64 anos 119.129

65 a 69 anos 89.932

70 a 74 anos 63.475

75 anos ou mais 83.978

Total 356.514

Fonte: IPEDF

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