ENTREVISTA

"A sociedade deve se envolver na pauta do feminicídio", afirma secretária da Mulher do DF

Ao CB.Poder, a secretária da Mulher do DF, Giselle Ferreira, avaliou que é fundamental o fortalecimento da rede de proteção, com a participação da comunidade, para dar fim à violência contra a mulher

João Carlos Silva*
postado em 29/06/2023 06:00 / atualizado em 29/06/2023 06:41
 (crédito:  Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
(crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

A forma mais eficiente de combater o cenário alarmante de casos de feminicídio e demais episódios de violência contra a mulher é fortalecer o planejamento dos serviços públicos de proteção e atendimento às vítimas. A avaliação foi feita pela secretaria da Mulher do Distrito Federal, Giselle Ferreira, no programa CB.Poder — parceria entre o Correio Braziliense e a TV Brasília. Nesta quarta-feira (28/6), em entrevista ao jornalista Carlos Alexandre de Souza, ela também opinou que "a chave para a solução de tantos feminicídios é a escola". 

O DF bateu o recorde de feminicídios este ano em relação a 2022. Houve dois crimes pavorosos em 48 horas. Qual é o seu diagnóstico?

A informação é importante para empoderar, encorajar a mulher e inibir o agressor. Nós precisamos que toda a sociedade se envolva nessa pauta, porque é muito difícil ter um policial em cada casa. O bandido está dentro de casa, onde é difícil a polícia entrar. Por isso, precisamos que a mulher que esteja se sentindo vulnerável procure ajuda, e 70% das mulheres vítimas de feminicídio não a procuraram. Nossa missão, na Secretaria da Mulher, é falar que ela não está sozinha. Procure a Casa da Mulher Brasileira. É preciso esse envolvimento da sociedade, porque a pauta da mulher tem que ser da família, dos homens, tem que ser da sociedade, e estar nas escolas.

Por que as vítimas não buscam ajuda?

Porque ainda há um medo cultural, e ainda tem a divulgação de que a denúncia não vai levar à proteção alguma. Algumas pessoas afirmam que não adianta denunciar porque não tem a proteção. Tem a proteção, sim. No ano passado, nós tivemos quase 16 mil ocorrências para 17 feminicídios. Mas qualquer feminicídio é um dado alarmante. A gente só vai comemorar quando for zero. 

Um agressor costuma dizer que aquela será a última vez, que está arrependido. Como a pessoa deve reagir nesses casos?

Por isso, a gente tem trabalhado muito a saúde mental. Para ela saber que não tem que cair nessa conversa. Ela tem que procurar ajuda e não deixar a segunda chance acontecer. Isso é feito levando os equipamentos públicos para mais perto da população, levando a pauta do respeito à mulher para as crianças. Precisamos que essa pauta seja de curto, médio e longo prazo. A curto prazo, medida protetiva e polícia. A médio prazo, é levar para as cidades a Casa da Mulher Brasileira e demais equipamentos públicos, e, por último, a formação de uma nova cultura, com uma nova mentalidade.

Usando como exemplo a violência no trânsito, houve uma campanha que mobilizou não só o governo, mas a sociedade civil pela paz no trânsito. Houve uma mudança significativa ao se estabelecer a Lei Seca. No caso da violência contra a mulher, as medidas restritivas têm se mostrado suficientes?

Acredito que a chave para a solução de tantos feminicídios é a escola. No caso do trânsito, as crianças chegavam em casa e pediam para os pais colocarem o cinto de segurança. Eu estou como secretária mas eu sou professora, então, eu acredito muito que a educação possa fazer com que uma criança chegue ao seu pai e peça para que ele respeite sua mãe, ou diga a sua mãe que ela não se deixe ser violentada. Nós vamos mudar essa sociedade com o projeto Maria da Penha Vai à Escola, estamos ampliando cada vez mais para mudar a sociedade. Com relação aos agressores, todos do DF estão presos, e a média de reclusão é de 20 anos. Então, a gente precisa entender que, mesmo sabendo que vão ser presos, eles ainda estão cometendo esse crime.

Sobre a Casa da Mulher Brasileira, como é que está esse trabalho?

A Casa da Mulher Brasileira tem uma unidade em Ceilândia. Ela funciona 24 horas e atende pelo telefone 180. As mulheres podem ir à casa, não precisa agendar. O local propõe acolhimento, tem uma casa de passagem que ela pode levar o filho, tem brinquedoteca também para as crianças, lá tem o Empreende Mulher, um local de fazer capacitação e também atendimento psicológico, psicossocial.

Se ela estiver numa situação crítica, sofreu uma agressão, seja física ou psicológica — supondo que ela sofreu uma agressão de madrugada, ela pode ir para a Casa da Mulher Brasileira em Ceilândia pedir ajuda?

Risco de morte ou violência, é polícia. Nós temos que ter esse canal de comunicação que é o 190 (para denúncias emergenciais). Para a mulher que está precisando sair desse ambiente de vulnerabilidade, se ela está precisando de apoio psicológico, mas não está com risco de morte, ela pode procurar, sim, por 24 horas. Se ela não tiver outro local para ir, pode ir lá procurar a Casa da Mulher Brasileira. O canal de comunicação para orientação é o 180 que, agora, também atende pelo WhatsApp (61) 9610-0180. E nós fizemos uma parceria com a Defensoria Pública — o canal é o telefone 129, ramal 2, no qual mulheres atendem mulheres para dar atendimento jurídico.

*Estagiário sob supervisão de Malcia Afonso

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