MEIO AMBIENTE

Lixo descartado de forma irregular pode causar destruição

Descartar resíduos de maneira errada contribui para a ocorrência de incêndios e de queimadas. Somente de 1º a 17 de agosto, os bombeiros atenderam 1.021 ocorrências

 Áreas com entulhos contribuem para problemas urbanos e a destruição do meio ambiente -  (crédito:  Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
Áreas com entulhos contribuem para problemas urbanos e a destruição do meio ambiente - (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
Laezia Bezerra
postado em 20/08/2023 06:00

O período de seca traz um grande perigo e acende o alerta: as queimadas e os incêndios, que resultam na destruição de grandes extensões de vegetação. O risco do fogo que atinge o meio ambiente não ameaça apenas áreas de preservação isoladas, mas também os centros urbanos. De acordo com o Corpo de Bombeiros (CBMDF), 95% dos focos são provocados por ação humana.

Especialistas explicam que não é somente a falta de chuva que contribui para a formação de labaredas. As altas temperaturas, a baixa umidade do ar, o descarte inadequado de lixo doméstico, de entulho e de resíduos também são fatores determinantes para facilitar os focos de incêndio.

A chefe da Unidade de Medição e Monitoramento do Serviço de Limpeza Urbana (SLU), Andrea Almeida, conta que diariamente a empresa recolhe, em média, 2 mil toneladas de descartes irregulares de resíduos, chegando a 50 mil toneladas por mês, o que é considerado um crime ambiental. Além disso, gera um prejuízo de quase R$ 5 milhões aos cofres públicos com o recolhimento (serviços de coleta manual e mecanizada).

O SLU gasta ainda cerca de R$ 15 milhões com catação e varrição de lixo nas ruas. O DF conta com 23 papa-entulhos, 584 papa-lixos e 18.290 lixeiras instaladas em todas as regiões administrativas. O custo total por mês com o serviço de limpeza chega a R$ 20 milhões.

Conscientização

Segundo Andrea, desde 2019, o SLU instalou 23 papa-entulhos para o recolhimento de resíduos, que é o lixo mais prejudicial ao meio ambiente. Desde então, a empresa promove diversas ações e visitas para conscientizar os moradores. "Apesar de todo o trabalho, ainda temos 400 pontos viciados na cidade — são aqueles locais nos quais a população continua jogando lixo e resíduos de maneira inadequada e, muitas vezes, colocando fogo, o que contribui muito para os incêndios. Mesmo com as campanhas, ações e as placas de proibição, a prática é constante", afirma. 

A chefe da unidade explica que o SLU faz um trabalho em parceria com a Secretaria de Proteção da Ordem Urbanística do Distrito Federal (DF Legal), que é o serviço de constatação, em que as equipes notificam a pessoa que joga o lixo de maneira irregular nas ruas, para corrigir a irregularidade. Caso o infrator não recolha o material, o DF Legal é acionado para providências e cabe aplicação de multa.

Separados de forma correta, resíduos de construção civil, coleta seletiva e lixo orgânico podem ser reutilizados. Atualmente, o SLU reaproveita 20% dos resíduos. O material serve para recapeamento de vias vicinais, áreas rurais, condomínios e erosões. Além disso, catadores reciclam o lixo para fazer trabalhos sociais. "A seleção correta beneficia toda a sociedade e a gestão de resíduos sólidos não é papel exclusivo do poder público. Ela é compartilhada com toda a população, que precisa trabalhar ativamente contra essa cadeia para diminuirmos os impactos causados", ressalta Andrea Almeida.

O professor do departamento de Economia e secretário de Meio Ambiente da Universidade de Brasília (UnB), Pedro Zuchi, destaca que a participação da sociedade na preservação do planeta passa pela mudança de comportamento em relação à coleta e seleção de lixo e resíduos. De acordo com o especialista, a população descarta o lixo da forma que entende o que é lixo, e a conscientização sobre isso pode evitar a degradação do meio ambiente e outros prejuízos graves ao próprio indivíduo.

"O descarte precisa ser de forma consciente. A população tem que entender que não podemos sujar as ruas e que uma ação desse tipo prejudica toda a sociedade, não só aquele indivíduo de forma isolada. O lixo nas ruas também é um facilitador de incêndios e queimadas quando a população, de forma errônea, coloca fogo nos entulhos. O descarte e a seleção correta do lixo são uma riqueza para as cooperativas", enfatiza. Para ele, é necessário que o Estado adote políticas públicas que melhorem o impacto na população do DF, para que mudanças de postura sejam implementadas, e as pessoas modifiquem o comportamento.

Ocorrências

Somente de 1º a 17 de agosto, os bombeiros atenderam 1.021 ocorrências envolvendo queimadas e incêndios no DF. De acordo com o major Antônio Pedro Diel Bastos, do CBMDF, 95% das queimadas geralmente são provocadas por ações humanas. Um dos maiores desafios para a corporação são as áreas de campo. "Os proprietários que residem nas zonas rurais fazem a limpeza de mato e colocam fogo em restos de capinas e, na maioria das vezes, provocam queimadas. Além disso, existem as ações incendiárias provocadas por pessoas que costumam fazer fogueiras para se esquentarem ou, até mesmo, causam uma situação de incêndio por brincadeira", frisa o major.

A queima em qualquer situação é proibida por lei e, por esse motivo, as pessoas são direcionadas a buscar informações junto ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), caso necessitem fazer uma queima. "Orientamos também que os moradores façam o aceiro, que é a limpeza de um terreno que circula as plantações ou uma propriedade, ao redor de sua casa, com até dois metros de distância, para evitar que possíveis focos atinjam outras propriedades. Essa função mantém o espaço limpo e evita a propagação de fogo."

O Corpo de Bombeiros orienta que as pessoas não tentem debelar o fogo por conta própria. O mais seguro é acionar imediatamente os militares.  

 

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