Entrevista — Henrique Valle Lacerda — infectologista

"Não é hora de se despreocupar", afirma infectologista, ao Correio

Suspeita de febre maculosa acende sinal de alerta no Distrito Federal. Especialista Henrique Valle Lacerda destaca que é necessário cuidados até na hora de remover o carrapato. O médico falou ainda sobre infecções por HIV e herpes zoster, que têm aumentado no país

  14/09/2023 Crédito: Kayo Magalhães/CB/D.A Press. Brasilia - DF. CB.Saúde recebe Henrique Valle Lacerda, infectologista do Hospital Brasília. Na bancada: Adriana Bernardes e Ronayre Nunes. -  (crédito: Kayo Magalhães/CB/D.A Press)
14/09/2023 Crédito: Kayo Magalhães/CB/D.A Press. Brasilia - DF. CB.Saúde recebe Henrique Valle Lacerda, infectologista do Hospital Brasília. Na bancada: Adriana Bernardes e Ronayre Nunes. - (crédito: Kayo Magalhães/CB/D.A Press)
postado em 15/09/2023 06:00

O infectologista Henrique Valle Lacerda foi o convidado do CB. Saúde  — parceria entre o Correio Braziliense e a TV Brasília —, de ontem. Em entrevista aos jornalistas Adriana Bernardes e Ronayre Nunes, o especialista falou sobre os recentes casos de suspeitas de febre maculosa e explicou como o vírus, como o HIV e a herpes zoster, têm atingido um número maior de pessoas, segundo as pesquisas mais recentes.

A Vigilância em Saúde do DF diz que aqui não é uma região endêmica para febre maculosa. Podemos ficar despreocupados?

Não tem como a gente falar que o brasiliense pode se despreocupar. Apesar de Brasília e o Entorno não serem regiões endêmicas, onde a gente tem o registro da bactéria do gênero Rickettsia, a gente pode ter casos de fora. Então, em casos de pacientes que tiveram contato com carrapatos que vieram, por exemplo, da região metropolitana ou de Mata Atlântica de São Paulo ou mesmo de outros estados, como o Paraná, a gente precisa saber identificar quais são os principais sinais e sintomas para poder dar o diagnóstico. Mas, em Brasília, a gente ainda não tem registros de febre maculosa.

Quais são os principais sintomas e como se fecha um diagnóstico de febre maculosa?

No ano passado, o Ministério da Saúde divulgou uma nota técnica com alguns critérios. Os sinais e sintomas iniciais podem ser bastante inespecíficos e serem confundidos com outras doenças, como dengue, por exemplo. Então, febre de início súbito, que é o principal sinal clínico, associado com dor no corpo e dor de cabeça, a gente precisa sempre levantar a anteninha para lembrar de febre maculosa. Mas esse paciente precisa cumprir um segundo critério: ter tido contato com carrapato nos últimos 14 dias. Ainda, existe um outro critério: o aparecimento de lesões avermelhadas no corpo, o que nós chamamos de exantema. Esse caso deve ser avaliado e notificado como caso suspeito, para então ser iniciada coleta dos exames e o tratamento específico.

Quando encontramos um carrapato na pele, queremos tirá-lo logo. Qual é a forma correta?

O melhor jeito de prevenir, quando se está em alguma área endêmica, é não se expor. Mas, se isso for inevitável, é sempre importante usar roupas longas e claras, nas quais você poderá fazer uma inspeção a cada duas horas. O carrapato precisa ficar grudado na pele de seis a 10 horas para que a bactéria caia no organismo e, assim, seja desenvolvida a doença. Caso ocorra a identificação precoce dele, a gente tem que, literalmente, tirar ele com muita delicadeza. Pois, se o aparelho dentário dele ficar dentro da pele, isso pode aumentar a inoculação da bactéria no organismo, o que pode fazer a doença se manifestar. No entanto, se a retirada for precoce, em até uma hora, na maioria das vezes não vai se desenvolver doença e nem mesmo infecções locais.

A herpes zoster é outro fator de preocupação. Ela atinge somente pessoas com mais de 50 anos ou mais jovens também?

Com o avanço da medicina, e a gente dá graças a Deus por isso, as terapias acabaram ficando mais efetivas, principalmente para neoplasias, como câncer hematológico. Então, as pessoas ficam mais imunossuprimidas. A herpes zoster é provocada por um vírus de reativação da catapora, a varicela. Na infância, normalmente, você se cura e o vírus fica latente no organismo. Quando, por algum motivo, a sua imunidade ficar mais baixa, você poderá reativar o vírus, e aí não será mais aquela catapora que se tem na infância. Vão aparecer algumas lesões dolorosas, com umas vesículas que seguem o caminho dos nervos. Essa doença é subnotificada, então, os casos têm aumentado bastante por causa da imunossupressão das pessoas.

Os casos de infecção por HIV, no país e no DF, estão crescendo ou estão estabilizados?

No último senso, nós tivemos um aumento de HIV. Não houve uma explosão de casos, mas a população que mais teve diagnóstico foi a da terceira idade. Nós temos casos de HIV recentes, e é uma doença que ainda persiste. Existem programas do Ministério da Saúde para medidas de prevenção do HIV. Então, com o exemplo desses pacientes que chegam com herpes zoster no consultório, refletimos sobre o motivo da imunossupressão desse paciente, se foi o HIV. É sempre interessante procurar o médico justamente porque você pode fazer exames de sangue que vão dar o diagnóstico de alguma doença causadora de imunossupressão; HIV é uma delas.

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*Estagiário sob supervisão de Suzano Almeida

 


  •   14/09/2023 Crédito: Kayo Magalhães/CB/D.A Press. Brasilia - DF. CB.Saúde recebe Henrique Valle Lacerda, infectologista do Hospital Brasília. Na bancada: Adriana Bernardes e Ronayre Nunes.
    14/09/2023 Crédito: Kayo Magalhães/CB/D.A Press. Brasilia - DF. CB.Saúde recebe Henrique Valle Lacerda, infectologista do Hospital Brasília. Na bancada: Adriana Bernardes e Ronayre Nunes. Foto: Kayo Magalhães/CB/D.A Press
  • CB Saúde Henrique Valle Lacerda
    CB Saúde Henrique Valle Lacerda Foto: Correio Braziliense
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