As pessoas que costumam pedalar ou caminhar pelas imediações dos estacionamentos 3 e 4 do Parque da Cidade tem se assustado com a mudança de cenário no local. De repente, elas saem de uma área verde e se deparam com um extenso descampado.
A conselheira tutelar Ana Cristina, disse que levou um susto ao ver a área daquele jeito. “É um impacto, né? Dá um impacto na gente. Eu tive que atravessar ali e pisar em um meio de terra por causa dos bloqueios. O perigo é a gente pisar em falso e cair. Isso mexeu muito comigo”. O corredor Mário Blanco também levou um susto. “Foi inesperado. Foi um impacto que a gente teve por estar acostumado com o verde, com os pinheiros, que davam sombra”.
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A área passa pelo processo de remoção dos pinheiros que teve início no mês de agosto deste ano. Os pinheiros, que não são típicos do Cerrado, foram plantados há mais de 40 anos e apresentavam ameaça à segurança dos visitantes. O estacionamento 3, por exemplo, estava interditado desde setembro de 2022, meses após o estudante Pedro Miguel Rodrigues Cardoso, de 15 anos, ser atingido por um galho de 15 metros. Com o impacto, o jovem sofreu uma parada cardiorrespiratória e foi internado em um hospital particular de Taguatinga por seis meses. O acidente deixou o Pedro tetraplégico. Uma idosa também foi atingida no mesmo dia e teve a perna fraturada.
O local tem 6,2 hectares de área, que equivale a aproximadamente seis campos de futebol. Ao todo, serão retiradas 1.628 árvores. O chefe do departamento de parques e jardins da Novacap, Raimundo Oliveira Silva, contou que antes do início da remoção dos pinheiros houve uma mobilização técnica para avaliar a situação das árvores e definir o processo de retirada. “Foi feito um levantamento através da Novacap, por meio do Departamento de Parques de Jardins em conjunto com o Instituto Brasília Ambiental (IBRAM) e com a Secretaria de Esportes. Os nossos técnicos chegaram à conclusão da real necessidade de substituir os pinheiros por árvores nativas do Cerrado. As árvores chegaram ao final da idade delas. Muitas apresentavam podridão, ataque de doenças, fungos e brocas. A gente monitorou até onde deu, mas chegou um momento que, realmente, não dava para manter aquela floresta no local”.
Projeto original com adaptações
Além da prevenção de acidentes, o projeto de remoção se coloca como passo inicial para a retomada do projeto paisagístico original do parque, elaborado pelo paisagista Burle Marx. O engenheiro florestal do IBRAM, Irving Martins Silveira, proponente do plano oficial, explicou que a intenção do grupo esteve em manter o projeto da forma mais fidedigna possível, mas com algumas adaptações.
“O projeto tem algumas peculiaridades que precisam de atualização. Burle Marx tem a peculiaridade de abordar a flora de todo o Brasil com os diversos tipos de biomas. No plano, ele colocou espécies do bioma da Amazônia, Mata Atlântica, Caatinga, Cerrado e até Pantanal. Algumas espécies que ele recomendou já foram amplamente utilizadas na arborização urbana de Brasília. Para algumas delas a gente tem lições aprendidas e a gente não recomenda por apresentarem patógenos, insetos ou outros fatores que podem afetar a saúde da árvore e provocar quedas. Por isso, algumas espécies de árvores que estão no projeto terão abordagens diferentes. Vamos sugerir espécies distintas, seguras e que tenham características estéticas e funcionais semelhantes à proposta original. Esse tipo de adaptação está prevista, inclusive, nos normativos que tratam do plano. É um projeto que tem um tombamento”.
Gráficos mostram áreas e mudas que serão plantadas no novo bosque
Os gráficos do projeto trazem fotos da versão original feita pelo paisagista Burle Marx e também uma previsão das áreas e mudas que serão plantadas. Em síntese, as novas árvores serão distribuídas em ilhas de vegetação com povoamento de espécies distintas abrangendo representantes de todos os biomas brasileiros.
Restauração das churrasqueiras do Bosque dos Pinheiros
A região do Bosque dos Pinheiros era uma das mais frequentadas pelas famílias aos finais de semana. Churrascos, chás revelação, piqueniques e até ensaios fotográficos movimentavam o lugar. Com a interdição do espaço, muitas famílias migraram para outros lugares, como a área próxima à sede do Grupo de Escoteiro José de Anchieta.
O Secretário Executivo de Políticas de Esporte do DF, Renato Junqueira, destacou que os equipamentos de lazer e as churrasqueiras serão revitalizados e entregues à população. “A partir do momento em que você retira uma árvore com o tamanho de um pinheiro, se causa algum dano. A nossa parte de engenharia da secretaria previu que aproximadamente 25 churrasqueiras sofreriam algum tipo de dano. Todas essas churrasqueiras serão revitalizadas e restauradas”.
Junqueira adiantou também que a secretaria está elaborando um projeto para receber e acomodar as famílias que têm o costume de fazer churrasco no parque. “Nós estamos trabalhando aqui na Secretaria de Esportes para elaborar um projeto para desenvolver uma área de convivência de famílias, com várias churrasqueiras e que não tenham árvores ao redor para não causar acidentes. A gente sabe o quão importante é aquele espaço para as famílias. Acredito que até início de novembro estaremos apresentando um projeto nesse sentido”, acrescentou.
Pinheiros serão leiloados
Raimundo Oliveira Silva explicou que o material será encaminhado até uma área específica da Novacap. “Lá será feito o processo de separação por lote. Os galhos e as folhas passam pelo processo de trituração e viram o composto orgânico que é doado aos pequenos agricultores. Já os troncos serão separados e passarão por um processo de licitação pública para serem arrematados por empresas. O dinheiro referente ao leilão irá voltar aos cofres do GDF e será revertido à população”, explicou.
Previsão
De acordo com a Novacap, após a remoção das árvores haverá a limpeza do local, a retirada dos tocos, a abertura dos berços, a correção e adubação do solo para até então receber as novas mudas. A previsão é que até o final de 2027, as novas árvores já estejam produzindo sombra para os visitantes.
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