SISTEMA FINANCEIRO

Nação BRBFla e BRB: entenda como a parceria deu prejuízo de R$ 455 mi

Se esse quadro não se reverter, no decorrer deste ano, o BRB terá de assumir que teve mais R$ 295 milhões em prejuízos ao emprestar dinheiro para torcedores do Flamengo

Banco de Brasília — BRB -  (crédito: Ed Alves/CB/DA.Press)
Banco de Brasília — BRB - (crédito: Ed Alves/CB/DA.Press)
Vicente Nunes
postado em 04/11/2023 06:00 / atualizado em 04/11/2023 07:18

Lisboa — A parceira do Banco de Brasília (BRB) com o Flamengo, que resultou na criação da plataforma digital Nação BRBFla, tem se mostrado um péssimo negócio. Relatório do Conselho Fiscal da instituição, ao qual o Correio teve acesso, aponta que o total de operações lançadas como prejuízos já supera a atual carteira de crédito em vigor.

Os números são impactantes. As perdas com a Nação BRBFla somavam, em 30 de junho deste ano, R$ 455 milhões, enquanto a carteira ativa totalizava R$ 433 milhões. Dos empréstimos concedidos pela plataforma e que ainda estão em vigor, 25,9%, o correspondente a R$ 112 milhões, estão com atraso acima de 90 dias. Mais: outros 19,2% das operações (R$ 83 milhões) estão em pré-inadimplência, como o banco classifica as parcelas vencidas entre 15 e 90 dias — mais que o dobro do observado no fim de março.

Se esse quadro dramático não se reverter, no decorrer deste ano, o BRB terá de assumir que teve mais R$ 295 milhões em prejuízos ao emprestar dinheiro para torcedores do Flamengo, seja por meio do crédito pessoal, seja por intermédio do cartão de crédito.

CID-BRB-3
CID-BRB-3 (foto: Valdo Virgo)

Não é por acaso, portanto, que a instituição controlada pelo Distrito Federal está, desesperadamente, buscando um sócio para repartir as perdas e conter esse escoadouro de dinheiro.

Para tentar minimizar esses péssimos resultados, a diretoria do BRB informa, aos integrantes do Conselho Fiscal, que os prejuízos representam apenas 1,6% da carteira total de crédito concedido a pessoas físicas da instituição. Mas, para quem entende o mínimo de finanças, é possível constatar que, até agora, a Nação BRBFla só está sendo um bom negócio para os caloteiros, que pegam recursos com o banco e não pagam.

Outro beneficiado é o Flamengo, que, além de não arcar com nenhuma parcela dos prejuízos acumulados pela Nação BRBFla, recebe, periodicamente, uma bolada do Banco de Brasília. Em julho deste ano, o clube rubro-negro embolsou R$ 22 milhões em patrocínios do BRB. No total, o acordo entre o time e a instituição brasiliense chega a R$ 32 milhões por ano. É muito se forem levadas em conta as péssimas operações geradas pela plataforma digital.

É verdade que a taxa de inadimplência na Nação BRBFla já foi maior: em dezembro de 2022 alcançou espantosos 45,4%. O índice foi caindo lentamente, mas, ainda assim, indica que um em cada quatro clientes não cumpre seus compromissos há mais de 90 dias. Para fazer frente a essas perdas e cumprir as regras fixadas pelo Banco Central, o BRB tem sido obrigado a separar uma parte de seu patrimônio como provisão para devedores duvidosos. Em junho, essa reserva somava R$ 134 milhões.

Voto das minoritárias

Em manifestação de voto das acionistas minoritárias do BRB, Associação Nacional dos Empregados Ativos e Aposentados do Banco de Brasília ("ANEABRB) e Associação Atlética Banco de Brasilia ("AABR"), em assembleia realizada em abril, sobre as contas do exercício findo em 31/12/2022, já havia uma preocupação com a parceria do banco com o Flamengo.

Facsimile BRB
Facsimile BRB (foto: Facsimile BRB)

As acionistas reclamam de falta de transparência na divulgação dos dados, sempre selecionados pela direção e apresentados em power-point. "Salta aos olhos a inexistência de Demonstração do Resultado do Exercício ("DRE") da operação BRB/FLA, mesmo transcorrido tanto tempo de sua implementação, tantos recursos foram investidos exclusivamente pelo Banco, pela mudança de metodologia, mudança de escopo, cancelamento de IPO, junção das contas abertas por aquela plataforma com as contas abertas no banco tradicional, em mistura complicada de se gerir, quando o contrato prevê a divisão dessa base cadastral ao término do prazo da parceria, etc", afirmam no voto.

 

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