Investigação

Mais casos revelam a barbárie da violência contra as mulheres no DF

Agente da Policia Civil agride mulher e atira em delegada da mesma corporação, em um bar de Vicente Pires. Caso ocorre na semana em que o DF registrou dois casos de feminicídio em menos de 12 horas

Rodrigo Rodrigues Dias fez dois disparos e uma das balas atingiu o pé da delegada. Ele foi preso em flagrante e depois solto, após audiência de custódia  -  (crédito: Redes Sociais )
Rodrigo Rodrigues Dias fez dois disparos e uma das balas atingiu o pé da delegada. Ele foi preso em flagrante e depois solto, após audiência de custódia - (crédito: Redes Sociais )
postado em 28/12/2023 06:09

Em meio às campanhas de prevenção de violência contra a mulher, ao diálogo, seminários, debates e operações policiais, os casos de agressão contra pessoas do sexo feminino seguem de maneira acentuada e escancarada. Após o Distrito Federal registrar dois casos de feminicídio em menos de 12 horas, uma delegada lotada na Polícia Civil do DF (PCDF) foi vítima de agressão e teve o pé acertado com um tiro ao tentar repreender um homem que agredia a mulher. O autor do crime é Rodrigo Rodrigues Dias, agente policial de custódia da mesma corporação.

 

  • Rodrigo Rodrigues Dias fez dois disparos e uma das balas atingiu o pé da delegada. Ele foi preso em flagrante e depois solto, após audiência de custódia
    Rodrigo Rodrigues Dias fez dois disparos e uma das balas atingiu o pé da delegada. Ele foi preso em flagrante e depois solto, após audiência de custódia Redes Sociais
  • Michele Carvalho e Patrícia do Nascimento são mais duas vítimas de um tipo de violência que retirou a vida de 34 mulheres em 2023, no DF
    Michele Carvalho e Patrícia do Nascimento são mais duas vítimas de um tipo de violência que retirou a vida de 34 mulheres em 2023, no DF Arquivo pessoal

 

O caso de violência ocorreu em um bar em Vicente Pires, na madrugada de ontem. Câmeras do circuito interno de segurança do estabelecimento gravaram o ocorrido, desde a agressão contra a mulher ao disparo efetuado contra a delegada. Rodrigo aparece sentado em uma mesa acompanhado de uma mulher e um homem. Em determinado momento, o agente puxa o cabelo da moça e ela reage com tapas.

 

 

Passados alguns minutos, Rodrigo parece discutir com uma pessoa de dentro do bar, mas as imagens não registram toda a cena. Segundos depois, a delegada Karen Langkammer se aproxima do agente e os dois iniciam uma discussão. O funcionário do estabelecimento e outras pessoas tentam apartar a briga. Rodrigo recua um pouco, saca uma arma e aponta para todos os lados, inclusive para a delegada.

Em outro momento, ele desfere um tapa no rosto da policial. Depois, efetua dois disparos. Um deles acertou o pé de Karen. Em outro vídeo, a delegada tenta negociar com Rodrigo e afirma: "Você puxou o cabelo dela (da outra vítima). Você atirou no meu pé. Qual o seu nome?". Após os disparos, policiais militares foram acionados até o local e Rodrigo foi preso em flagrante. Na abordagem, a equipe encontrou uma pistola calibre 9mm na cintura dele. O caso é tratado na Corregedoria da PCDF.

Soltura

Rodrigo vai responder pelos crimes de disparo em via pública, vias de fato e lesão corporal. Na manhã de ontem, o policial passou por audiência de custódia e a Justiça concedeu a liberdade provisória ao autuado, segundo informou o Tribunal de Justiça do DF. O processo, no entanto, corre em segredo de Justiça e, por isso, a ata da audiência não está disponível.

O agente tem histórico de violência doméstica, conforme informações de processo do Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios (MPDFT). Em 2018, ele foi acusado pela então companheira de tentar enforcá-la na presença das duas filhas, além de ser definido, pela mulher, como possessivo, ciumento e possuir problemas com a ingestão de bebidas álcoolicas. Ela, que é do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal (CBM/DF), ainda declarou que já foi ameaçada outras vezes, mas não registrou ocorrência policial.

Na ocasião das agressões, a mulher relatou que Rodrigo chegou bêbado e muito agressivo, pois ela não havia comparecido a uma festa familiar. 

Feminicídios

A agressão contra a delegada ocorre horas depois de a capital alcançar a triste estatística de 34 casos de feminicídio — o maior número comparado aos últimos cinco anos. As vítimas são Patrícia do Nascimento Feitosa, 44 anos, e Michele Carvalho Magalhães, 30. As duas foram assassinadas em um intervalo de menos de 12 horas, em Planaltina e em Ceilândia.

Patrícia foi morta a facadas pelo namorado na tarde de Natal. O autor, identificado como José da Luz Bento da Conceição, 41, discutiu com a mulher em uma festa e foi para casa, na QNN 3 de Ceilândia Norte. Patrícia permaneceu no evento e, depois, seguiu para a residência, onde o casal continuou a brigar. Em posse de uma faca, ele desferiu golpes contra a vítima, que morreu no local.

José foi preso depois de se apresentar na 15ª Delegacia de Polícia (Ceilândia Centro) com cortes profundos no pescoço e nos dois pulsos. Aos agentes, José, inicialmente, não contou que havia matado a companheira, mas revelou que "queria morrer", pois havia descoberto que tinha sido traído por Patrícia.

Desconfiados da versão, agentes da 15ª DP foram ao endereço de José. No local, os policiais encontraram o corpo de Patrícia numa poça de sangue. Depois, o homem confessou aos socorristas que o atendiam na delegacia que havia assassinado a companheira. Disse aos bombeiros que pegou uma faca na cozinha e deu vários golpes na barriga da companheira. 

O assassino foi encaminhado ao Hospital de Base (HBB) para cirurgias. Até o fechamento desta edição, ele permanecia sob escolta de equipes da Secretaria de Administração Penitenciária (Seape). Após a liberação do hospital, ele ser encaminhado ao Complexo Penitenciário da Papuda.

O corpo de Patrícia será velada às 12h30 de hoje, no Cemitério Campo da Esperança de Taguatinga. O sepultamento está previsto para ocorrer às 15h. Ela deixa seis filhos.

Investigação

O caso de Michele também é tratado como feminicídio e a polícia busca o responsável pelos disparos que matou a jovem. A vítima foi encontrada com marcas de disparos de arma de fogo dentro de um carro, no Setor Estância Mestre d'Armas 05, em Planaltina.

Na delegacia, os familiares de Michele contaram que a garota era jurada de morte por um ex. O homem estaria cumprindo pena por tráfico de drogas na Papuda e teria sido beneficiado com o saidão de Natal. No entanto, a polícia não confirma que o rapaz esteja por trás do assassinato de Michele. Outra suspeita dos parentes é em relação a uma tentativa de homicídio que Michele respondia na Justiça contra a ex-namorada do ex. As investigações correm de maneira sigilosa na 16ª Delegacia de Polícia.

 

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