COMPORTAMENTO

Crônica da Cidade: Sobre boas pautas

"Posso parecer repetitiva, já que esse foi o tema da última crônica, como bem devem lembrar os leitores assíduos, mas não podia deixar de compartilhar o cuidado que envolve (ou que deve envolver sempre) colocar em palavras as histórias e memórias das pessoas"

A vida nesses tempos de internet e comunicação global exige rapidez e conexão constante. Senti na pele a dependência de um dos mais usados aplicativos de mensagens do país quando o meu saiu do ar durante dias. Perdi a comunicação com colegas de trabalho e a chefia; com minha família e amigos; com fontes. As questões urgentes, é claro, sempre podiam ser tratadas por telefonemas, e-mails ou "sinais de fumaça", como eu disse, brincando, a alguns. Mas certamente uma parcela significativa deve ter interpretado o meu silêncio como desdém. Não foi.

Alguns dias antes, eu havia recebido uma mensagem, por esse mesmo aplicativo, de uma querida fonte de anos. Ele explicava que a filha estava lançando o primeiro livro, com tema extremamente atual e conectado com a juventude. Fiquei de dar um registro ligeiro, para avisar o público do lançamento e convidar a conhecer essa e outras obras no evento literário. Por diversos motivos, não tive tempo de escrever o texto.

Ele, incansável e leitor atento e curioso que é, sempre de olho em histórias que valem a pena ser contadas, me enviou uma mensagem certeira, de um momento especial que ocorrera naquele sábado pela manhã. A jovem escritora Luísa Fragelli, mais nova autora do evento, aos 19 anos, encontrou-se com Arnaldo Júlio, o veterano escritor de 105 anos. O relato me despertou todos os instintos e decidi perseguir aquela história com paciência e determinação.

Chamei a repórter que ficaria encarregada pela pauta, expliquei a situação e dei-lhe a tarefa de contar como a literatura ajuda a unir gerações. Seu Arnaldo, naquele dia — assim como em muitos outros — tornou-se o exemplo de que os jovens precisam para perseguir a paixão não só pela literatura como ofício, mas pelos livros como portal para dimensões diversas e a realização de sonhos. Fizemos belas fotos para estampar a edição.

Posso parecer repetitiva, já que esse foi o tema da última crônica, como bem devem lembrar os leitores assíduos, mas não podia deixar de compartilhar o cuidado que envolve (ou que deve envolver sempre) colocar em palavras as histórias e memórias das pessoas. São filhos, netos, bisnetos e tataranetos que se orgulham do legado de Seu Arnaldo, além daqueles que, como eu, tiveram o privilégio de cruzar seu caminho, nem que fosse pelas páginas deste jornal.

E o tema do livro não poderia ser mais oportuno: a força das mulheres. No romance A jovem Margarida e as proezas do amor, o pioneiro aborda a luta delas por liberdade. Muito se questiona sobre o que fazer no dia ou no Mês da Mulher para homenageá-las. Encontrar maneiras de apoiar a busca por direitos iguais e respeitá-las em todos os espaços e funções que elas ocupam é um bom começo.

 


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