SAÚDE PÚBLICA

Dengue: demanda por plaquetas faz estoque de sangue cair em Brasília

Hemocentro de Brasília destaca que a epidemia tem deixado muitas pessoas inaptas a fazer doação. Além disso, casos críticos da doença requerem a transfusão de plaquetas: procedimento aumentou 33% este ano em relação a 2023

A dengue no Distrito Federal tem afetado vários aspectos da saúde pública da capital do país. Entre os mais preocupantes, está a baixa nos níveis dos estoques de sangue da Fundação Hemocentro de Brasília (FHB). A doença pode causar a queda de plaquetas no sangue, o que requer reposição em alguns casos mais críticos e acaba gerando um aumento de pacientes com necessidade de transfusão.

Além disso, o paciente com dengue clássica fica inapto a doar sangue por 30 dias, o que tem causado uma diminuição nas doações. Se a pessoa estiver infectada com o tipo grave da doença, aumenta para 180 dias o hiato até ela estar apta a doar sangue novamente. Os pacientes que tiveram covid-19 devem esperar 10 dias após a total recuperação da doença até que possam doar sangue. Nos casos de gripe, o prazo a ser considerado é de 15 dias.

A plaquetas são componentes essenciais do sangue, pois ajudam a impedir hemorragias e sangramentos e é útil ao sistema de defesa do corpo. Em fevereiro de 2023, foram realizadas 2.316 transfusões de plaquetas em hospitais da rede pública do Distrito Federal. Em fevereiro de 2024, o número saltou para 3.101. Um aumento, portanto, de cerca de 33%. Do total de transfusões realizadas em fevereiro de 2024, cerca de 30% foram demandadas por pacientes em quadro grave de dengue. Segundo o Hemocentro, o aumento é atípico. Do total de transfusões realizadas em fevereiro de 2024, cerca de 30% foram demandadas por pacientes em quadro grave de dengue.

De acordo com André Bon, infectologista do Hospital Brasília Águas Claras, da rede Dasa no DF, a queda de plaquetas, também conhecida como plaquetopenia, é muito frequente nos casos de dengue e é importante monitorar. "Quando a quantidade de plaquetas está abaixo de 50 mil, é hora de ficar atento. Se o índice estiver abaixo de 20 mil e na presença de algum sangramento, o caso é preocupante", explica.

Os pacientes com dengue devem ficar atentos a qualquer sangramento. "Nesses casos, o paciente precisa monitorar e restabelecer o controle circulatório. Quando as plaquetas caem muito, há risco elevado de sangramento", esclarece o infectologista. "No entanto, é preciso ficar atento, pois a transfusão de plaquetas na dengue é mais indicada quando há presença de sangramento", completa. Quedas mais moderadas de plaquetas não causam sintomas físicos, mas, em casos graves, podem acontecer sangramentos gengivais, de mucosa nasal, gastrointestinal, urinário, entre outros. "Em casos mais graves, pode ocorrer sangramento no sistema nervoso central, mas são mais raros", alerta.

Um sangramento no ouvido e no nariz levou a auxiliar de serviços gerais Ana Paula Nunes, 32 anos, ao Hospital de Campanha, na tarde de ontem, com a filha, Ana Emanuelly, de apenas 2 anos. A criança apresentava outros sintomas, como enjoo. "Ela já estava com febre e diarreia há dois dias e eu tinha levado na Unidade de Pronto Atendimento (UPA), mas ela ainda não tinha sangrado e o teste de dengue havia dado negativo", relata. "Quando fui à UPA, monitoraram as plaquetas e a quantidade estava normal, mas como ela começou a sangrar, vim aqui hoje. O teste de dengue deu positivo e, quando foram fazer o exame para verificar as plaquetas, o sangue coagulou, então vamos voltar amanhã novamente para refazer", ressalta.

Uma vez que pacientes com dengue tendem a ficar desidratados, isso pode dificultar a coleta do sangue. Portanto, até para monitorar a quantidade de plaquetas, o paciente precisa estar hidratado. "Não conseguiram colher novamente as plaquetas, porque minha filha estava desidratada, aí as veias estavam relativamente secas. Vou hidratar em casa com soro fisiológico e trazê-la novamente amanhã", afirma Ana Paula.

O infectologista André Bon assegura que é necessário ficar atento à quantidade de plaquetas, mas não é preciso se alarmar sem necessidade. "É importante ressaltar que a diminuição de plaquetas só é mais preocupante quando está abaixo de 20 mil. Ter plaquetas abaixo de 150 mil é comum em casos de dengue, mas não é preocupante", reforça.

A queda de plaquetas é muito frequente nos casos de dengue, mas, segundo o infectologista, outra importante alteração observada pelos profissionais de saúde que analisam os hemogramas dos pacientes com dengue é a hemoconcentração por meio do aumento do hematócrito. "Esse crescimento denota a perda de líquido de dentro dos vasos para dentro do próprio corpo, mostrando que o paciente está evoluindo para formas graves da doença", destaca André Bon.

Transfusão

Para pacientes que precisam de transfusão de plaquetas, o procedimento é diferente da coleta do sangue feito normalmente. No caso de doadores que doam sangue pelo modo comum, onde é retirado pela veia, a bolsa de sangue é processada e fracionada em quatro componentes do sangue, entre eles, as plaquetas. O Hemocentro é responsável pela coleta, processamento e distribuição de hemocomponentes para os hospitais da rede pública de saúde do Distrito Federal e hospitais conveniados, onde são realizados os procedimentos de transfusão.

Outro modo de doar plaquetas é por um procedimento denominado aférese e consiste na separação dos componentes do sangue por centrifugação, por meio de um equipamento automatizado. O sangue do doador é captado e a máquina separa apenas as plaquetas. O sangue retorna ao organismo do doador pelo mesmo acesso venoso. A vantagem desse tipo de procedimento é que a quantidade de plaquetas coletadas equivale a oito doações tradicionais de sangue. No entanto, o prazo de validade das plaquetas é de apenas cinco dias.

Doação

editoria de arte - sangue hemocentro

Em 2023, a média diária de doações de sangue no DF foi de 172. Este ano, a média diária de doações está em 164. Uma doação de sangue pode salvar até quatro vidas, uma vez que a bolsa é separada em quatro hemocomponentes entre eles, as plaquetas. Até o momento, o Hemocentro vem registrando uma média de 127 doações de sangue por dia no mês de março. Para manter o estoque em níveis seguros, o valor ideal é de 180 bolsas coletadas diariamente.

Tanto a aférese quanto a doação regular de sangue podem ser realizadas no Hemocentro. No caso da aférese, é preciso agendar e o procedimento dura cerca de uma hora. Para doar sangue, é preciso ter entre 16 e 69 anos, pesar mais de 51kg e estar saudável. Para quem passou por cirurgia, exame endoscópico ou adoeceu recentemente, a recomendação é consultar o site do Hemocentro para saber se está apto a doar.

Ao chegar para realizar o procedimento, o doador deve estar bem alimentado, evitando alimentos gordurosos e derivados de leite pelo menos três horas antes da doação, não ingerir bebidas alcoólicas 12 horas antes da doação e beber bastante água 24 horas antes de doar. É obrigatório apresentar documento de identificação oficial com foto, em bom estado de conservação e dentro do prazo de validade. O atendimento é de segunda a sábado, das 7h15 às 18h. O doador deve agendar a doação de sangue pelo site http://agenda.df.gov.br ou pelo telefone 160, opção 2.

Colaboraram Caio Ramos, estagiário sob a supervisão de José Carlos Vieira, e Carolina Braga

 


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