Obituário

Morre a jornalista Donalva Caixeta, pioneira de Brasília

Pequena na estatura, enorme no talento, a jornalista Donalva Caixeta tinha o bom texto nas veias

Donalva Caixeta acompanhou a visita da rainha da Inglaterra Elizabeth II a Brasília, em novembro de 1968. -  (crédito: Arquivo Pessoal)
Donalva Caixeta acompanhou a visita da rainha da Inglaterra Elizabeth II a Brasília, em novembro de 1968. - (crédito: Arquivo Pessoal)

Não sei quem chegou primeiro: se fui eu ou a Donalva Caixeta, vinda de Minas. Formamos o grupo de mulheres (na época meninas) do Correio Braziliense no final da década 1960. Depois de estrear em Cidades, que é a editoria que cuidava dos assuntos locais, fui ser setorista na Esplanada, na área de ministérios, enquanto Donalva se especializou em cultura.

Ela e Valdiria Bezerra eram as prima-donas do Caderno 2. Assinavam grandes matérias de capa, não só sobre assuntos culturais, mas também outros temas importantes do país e da cidade, que vivia seus primeiros anos com sua geografia ainda incompleta. Para ter uma ideia, só a Asa Sul estava pronta. Na Asa Norte, onde havia bons restaurantes, como o Xangô de culinária baiana, que ocupava uma construção na cor roxa, e o Rei do Frango, ou coisa parecida, na cor laranja, com cozinha especializada na ave assada. Todas as edificações eram de madeira. Parecia o faroeste.

Numa semana santa, o editor de Cultura, José Helder de Souza (pai da fotógrafa Zuleika de Souza), que era escritor e poeta, encomendou a Donalva a matéria de capa para a sexta-feira santa. Meticulosa, a jornalista pesquisou a história cristã e trouxe à tona a origem judia do Salvador, a partir de Moisés, o libertador dos hebreus no Egito.

  • Credito: Correio Braziliense/Reproducao. Brasil Brasilia - DF. A jornalista do Correio Braziliense Donalva Caixeta recebe premio de 2º Lugar, promovido pela Colonia de Ferias 1971, na sede da Associacao Comercial do DF.
    Credito: Correio Braziliense/Reproducao. Brasil Brasilia - DF. A jornalista do Correio Braziliense Donalva Caixeta recebe premio de 2º Lugar, promovido pela Colonia de Ferias 1971, na sede da Associacao Comercial do DF. Correio Braziliense/Reproducao
  • Credito: Correio Braziliense/Reproducao. Tecnica de Redacao jornalistica foi o tema abordado pela reporter do Correio Braziliense Donalva Caixeta, ao pronunciar palestra de reabertura do ll Programa de Organizacao do Trabalho Intelectual, promovido pelo CEST. Materia do jornal Correio Braziliense de 10 de junho de 1970.
    Credito: Correio Braziliense/Reproducao. Tecnica de Redacao jornalistica foi o tema abordado pela reporter do Correio Braziliense Donalva Caixeta, ao pronunciar palestra de reabertura do ll Programa de Organizacao do Trabalho Intelectual, promovido pelo CEST. Materia do jornal Correio Braziliense de 10 de junho de 1970. Correio Braziliense/Reproducao
  • Militares premiam Donalva em concurso de reportagens, em 1973
    Militares premiam Donalva em concurso de reportagens, em 1973 Correio Braziliense/Reproducao
  • Credito: Arquivo CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. A jornalista do Correio Braziliense Donalva Caixeta e Caribe, coordenador do Concurso Mis.
    Credito: Arquivo CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. A jornalista do Correio Braziliense Donalva Caixeta e Caribe, coordenador do Concurso Mis. Arquivo CB/D.A Press

Com base no texto, Helder pediu ao arquivo ilustrações para fechar a matéria. Já era no meio da tarde e não subia nenhuma, quando o secretário exasperado ligou para cobrar do departamento, que funcionava no subsolo. “Moiséis de quê, seu Helder? ’’ De Soiza’’, respondeu o editor. Donalva, que trabalhava no turno da manhã, já tinha ido embora e só no dia seguinte eu pude lhe contar, aos risos, a história sobre a edição da matéria dela.

Por inúmeras vezes formamos dobradinha para cobrir eventos na cidade, como na primeira e única visita da Rainha Elizabeth II ao Brasil, no começo de novembro de 1968. Acompanhadas pelo fotógrafo Alencar Monteiro, estivemos em toda a programação real. Foi Donalva quem escreveu sobre a visita à Escola-Classe da 308 Sul, quadra modelo da cidade, onde muita gente se aglomerou para ver a Rainha e o Príncipe Philip. “Pena que não houvesse um intérprete para dizer à rainha como funcionava a escolinha, o que as crianças tentavam dizer, para fazê-la compreender o grau de simpatia e até mesmo de forte entusiasmo que ela despertou entre o povo brasiliense”, registrou Donalva.

Pequena na estatura, enorme no talento, Donalva tinha o bom texto nas veias. Ao sair do Correio continuou fazendo jornalismo em assessoria de imprensa e no Projeto Rondon. Um brilho que não se apaga.

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postado em 17/04/2024 18:02 / atualizado em 18/04/2024 13:22
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