Brasília se conecta por pessoas que se unem para ajudar o próximo. Um dos exemplos dessa integração é o Instituto No Setor. Criado em 2018 — inicialmente identificando-se como coletivo cultural —, teve como projeto inaugural a realização do Setor Carnavalesco Sul — primeiro carnaval com atividades para a comunidade que mora ou frequenta o Setor Comercial Sul (SCS).
Com o passar do tempo, uma série de situações — necessidade de geração faturamento; criação de iniciativas sociais; entregas de doações; convivência com pessoas em situação de rua; entre outras — fizeram os integrantes do então coletivo compreenderem a necessidade de assumir outra forma jurídica. E, em 2 de setembro de 2019, consolidou-se como instituto.
Rafael Moraes, 35 anos, é o coordenador geral do No Setor e explica como se apaixonou pela iniciativa. "Recebi um jornal editado pelo instituto. Comecei a ler e pensei: 'gente, que coletivo massa, que lindo!'. E essa paixão ficou ali no coração", recorda.
Ele diz que, depois disso, trabalhou com alguns projetos na Universidade de Brasília onde encontrou uma pessoa que tinha contatos no instituto. "Ela falou: 'tenho que te apresentar para um pessoal que é a cara do que você está fazendo (na UnB)'. Foi quando, em 2019, entrei como voluntário. E, em 2023, assumi a coordenação geral", relata.
Para Moraes, o No Setor estimula que pessoas de Brasília interessadas em atuar em prol de seus semelhantes se conectem. "Tem um geógrafo que fala que o centro da cidade é onde todas as linhas da cidade se encontram. E o instituto, por estar nesse centro, consegue passar um pouco do que é se sentir parte desta cidade que foi planejada, independentemente se a pessoa mora no Plano Piloto ou não", avalia.
O coordenador conta que, em seu caso, essa paixão e conexão com Brasília surgiu devido ao seu companheiro, que é natural da capital federal. "No início, quando me mudei para cá, por ter vindo de fora, não tinha essas referências de espaço, música ou cultura. À medida que fui sendo apresentado (pelo companheiro) e conhecendo a Brasília planejada, a igrejinha, a pizza da Dom Bosco, a Torre de TV e a Ermida Dom Bosco, fui me apaixonando cada dia mais", comenta.
Integração
Israel Magalhães, 29, é voluntário do No Setor, que conheceu o local graças a uma rede de amizades. "Foi na época da pandemia. Disse para um amigo meu, que conhecia o pessoal do instituto, que eu tinha vontade de dar aula de capoeira para a população de rua. Ele me apresentou (à entidade) e foi assim que entrei como voluntário", afirma. "Hoje em dia, estou na parte de acolhimento daqueles que querem conhecer o projeto pela primeira vez", comenta.
Segundo Magalhães, o trabalho social fez com que ele enxergasse melhor a forma de ocupar o espaço urbano. "Se (a área) é público, tem que ser bem cuidada por nós, temos que dar destinação e integrar as pessoas (que vivem nela e a usam). Querendo ou não, esses espaços públicos têm pessoas que utilizam ou até mesmo moram neles e, por isso, têm que ser respeitadas e integradas", considera.
A integrante da diretoria de projetos Malu Neves, 27, está na equipe do No Setor há sete anos. "Foi uma coisa muito nova. Vim das danças urbanas e tinha muito essa pegada da rua, mas, antes de conhecer o instituto, nunca tive esse contato real com a vulnerabilidade", aponta. "Fazer parte da equipe me transformou muito e me mostrou que a gente não consegue ser o salvador de alguém, mas podemos ser a ponte. Porque para a pessoa ser ajudada, ela também precisa fazer esforço para isso. Esse foi o meu grande aprendizado", ressalta.
Um dos casos de sucesso do No Setor é Paulo Henrique Silva, 32. O pernambucano chegou a Brasília há 11 anos. "Como quase todo mundo, vim atrás de uma vida melhor, mas acabei caindo em depressão e indo morar na rua", lembra. "Fui acolhido pelo instituto e o conheço desde o início. Eu vejo essa galera como o principal apoio para eu ter saído da rua, onde fiquei durante três anos", garante.
Silva acredita que a entidade é efetivamente inclusivo. "O instituto não olha se a pessoa é rica ou pobre, preta ou branca e nem a opção sexual. O instituto acolhe todo tipo de pessoa. Isso é uma coisa que eu vi muito em Brasília, é uma cidade muito acolhedora", opina.
