
Terminei há poucos meses a leitura de Clube dos Anjos, clássico de Luis Fernando Verrisimo. O livro caiu no meu colo, como se diz. Chegou à Redação, ficou sem dono e eu logo me candidatei a arrematá-lo para adicionar à biblioteca.
Quando escreveu a obra, Verissimo tinha uma missão: completar uma série sobre pecados capitais. A ele ficou a incumbência de tratar da gula. E o autor o fez com a maestria que lhe era peculiar. Não só montou um enredo envolvente como deixou pairar outros pecados na história. Avareza, ira, luxúria, inveja, preguiça. Consigo identificar todos no enredo que não deixa também de tratar de relacionamentos masculinos e de masculinidades próprias de seu tempo, mas que, por vezes, tornam-se nocivas, principalmente para os próprios homens.
E o que dizer do antogonista e chef das noites do Clube dos Anjos? Verissimo desenhou para o papel de Lucídio as características de Lúcifer. Comandando banquetes irresistíveis para os pecadores, que tinham como destino um caminho encurtado até a morte.
Herdeiro de um legado indescritível, ele não tinha qualquer obrigação de seguir os passos do pai. E, apesar de ter escolhido a mesma carreira, transformou a própria literatura, deixou a marca, e não se furtou a defender pontos de vista e opiniões importantes sobre os rumos do país quando indagado.
Escreveu para uma geração de leitores que o admirou, o admira e seguirá admirando, e também soube ser acessível para os que ainda o conhecerão ou aprenderão a admirar.
O desafio da leitura no Brasil hoje é de proporções abissais. Para enfretá-lo, o mais importante é alfabetizar e, claro, criar o hábito da leitura desde os primeiros anos de vida. A beleza da leitura, no entanto, é que se compara a andar de bicicleta: uma vez que se aprende, não se desaprenderá jamais. Nunca é tarde para se tornar um leitor voraz, dedicado e contumaz. Os livros são as armas mais poderosas de transformação social. Não à toa, acabaram em fogueiras durante regimes totalitários.
Para quem procura um ponto de partida ou havia perdido a inspiração e a força para fazer uma curadoria, talvez seja um bom momento para retomar o hábito com Luis Fernando Verissimo. Começar pelas crônicas e contos e evoluir para romances e textos mais longos. Certamente, não sairá decepcionado.