
Um dos casos que chocou o Distrito Federal no início de 2024 chegou a um veredito. Wesly Denny da Silva Melo, de 29 anos, foi condenado pelo Tribunal do Júri do Gama a 44 anos, 5 meses e 12 dias de prisão, em regime inicialmente fechado, pelo feminicídio de Tainara Kellen, de 26 anos, cometido em 10 de janeiro do ano passado.
A sentença, proferida nesta terça-feira (7/10), encerra um capítulo de violência doméstica que culminou em um assassinato executado com requintes de crueldade e testemunhado pela própria filha do casal. Além da pena de prisão, a juíza Maura de Nazareth determinou que Wesly pague R$ 50 mil em danos morais à criança, órfã de mãe.
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O crime, registrado como o primeiro feminicídio de 2024 no DF, foi meticulosamente planejado. Tainara, uma funcionária dedicada, estava em seu local de trabalho, um salão de beleza na Quadra 29 do Setor Leste do Gama, quando foi atraída para uma armadilha mortal. Wesly, inconformado com o fim do relacionamento, que durou cerca de uma década, utilizou um número de telefone desconhecido para se passar por uma cliente.
Por meio de mensagens, fingiu interesse em agendar um horário e, em seguida, disse estar com dificuldades para encontrar o estabelecimento. Acreditando estar prestando um serviço, Tainara saiu do salão para procurar a suposta cliente nas redondezas. Foi nesse momento de vulnerabilidade, em uma via movimentada, que Wesly a surpreendeu e efetuou seis disparos à queima-roupa.
A vítima foi atingida por um tiro no rosto, quatro nas costas e um nas nádegas, em um claro excesso de força que, segundo a Promotoria de Justiça, demonstrava a intenção de eliminar Tainara. O cenário foi ainda mais aterrorizante: a filha do casal, então com apenas 6 anos, presenciou a violência.
Após o crime, Wesly fugiu, iniciando uma busca policial que durou pouco mais de 24 horas. Em uma operação conjunta das polícias Militar e Civil do DF e da PM de Goiás, ele foi localizado e preso no dia seguinte (11/1), em Santa Maria. As investigações da 14ª Delegacia de Polícia (Gama) resultaram ainda na apreensão do carro e da arma utilizados no feminicídio.
Histórico de Violência
O crime não foi um ato isolado, mas o ápice de uma vida marcada pela violência. O histórico de Wesly é entrelaçado com agressões, ameaças e passagens pela polícia, um ciclo que, segundo relatos de pessoas próximas à família, ele herdou e reproduziu. Wesly teria crescido em um ambiente doméstico violento, onde presenciou repetidas vezes o próprio pai, um policial militar aposentado, agredir sua mãe.
Em um dos episódios mais graves, o ex-PM teria ido ao local de trabalho da ex-mulher e disparado tiros contra ela, que não foi atingida. À época, a Lei Maria da Penha não existia, e as inúmeras ocorrências registradas pela mãe de Wesly não resultaram em uma condenação eficaz. O pai do réu também respondeu por um homicídio no Recanto das Emas, tendo ficado detido por cerca de um ano.
Wesly e o irmão foram retirados da guarda da mãe e criados pela avó paterna. Apesar de ter passado por tratamento psicológico ainda na infância, ele desenvolveu uma "personalidade fria e calculista", conforme descrita por fontes. Antes de Tainara, uma outra ex-namorada já havia registrado boletim de ocorrência por violência doméstica. Seu prontuário policial inclui passagens por porte ilegal de arma, desacato e vias de fato, tendo cumprido seis meses no Complexo Penitenciário da Papuda.
A Vítima
Em contraste com a trajetória do algoz, Tainara Kellen é descrita por amigos e familiares como uma pessoa trabalhadora, dedicada e fiel. Ela suportou anos de um relacionamento conturbado, enfrentando violências psicológicas e físicas. Amigos relatam que ela era constantemente agredida, mas relutava em registrar queixa na delegacia por medo das represálias e da influência do ex-sogro PM.
"Eu pedi para ele deixá-la em paz por várias vezes. Ela queria seguir a vida dela", contou uma amiga da vítima, que preferiu não se identificar. A gota d'água para o fim do relacionamento, segundo os relatos, foi a descoberta de que Wesly mantinha um caso extraconjugal. A separação definitiva havia ocorrido há cerca de uma semana do crime.
Durante os seis meses em que Wesly esteve preso anteriormente, era a própria Tainara quem lhe fazia visitas semanais, levando comida, roupas e produtos de higiene. Uma demonstração de lealdade que foi retribuída com traição e morte.
Cidades DF
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