Saúde Mental

"Já estamos vivendo um luto coletivo", afirma psicóloga sobre covid-19

Para Larissa Polejack, aceitar todas as perdas coletivas que a pandemia trouxe é o primeiro passo para que a sociedade consiga superar os traumas do momento

Jéssica Gotlib
postado em 10/09/2020 19:37
 (crédito: Ana Rayssa/CB/D.A Press)
(crédito: Ana Rayssa/CB/D.A Press)

A psicóloga e diretora de Atenção à Saúde da Comunidade da Universidade de Brasília (UnB), Larissa Polejack, falou ao ao CB.Saúde — uma parceria do Correio com a TV Brasília — desta quinta-feira (10/9) sobre como a pandemia tem afetado a saúde mental das pessoas em todo o país. O primeiro passo para passar pelas dificuldades psicológicas impostas pelo momento, de acordo com ela, é aceitar todas as perdas que estão envolvidas no combate à covid-19.

"É importante que a gente entenda que já estamos vivendo um luto coletivo. Precisamos reconhecer. Quando olhamos para mais de 100 mil mortos, não é possível que a gente mantenha os nossos olhos fechados e não perceba que, como sociedade, precisamos entender que estamos vivendo um luto coletivo. Seja um luto pela morte de muitos brasileiros, que já foram, seja um luto de projetos de vida. Um trabalho que eu tinha pensado, um estudo que eu ia fazer fora, o ano letivo... Várias coisas mudaram”, explicou.

Para Polejack, apreender essa realidade, ainda que seja difícil, é um passo fundamental. "O luto precisa ser vivenciado para que a gente possa, como um grupo, como sociedade, sair dele. Dar a mão, reconhecer que tem sim uma perda, que tem um impacto. É o primeiro passo para a gente conseguir seguir adiante, para a gente reconhecer os legados que temos, os recursos que temos para lidar com isso. Quanto mais a gente negar que a gente está vivenciando isso, mais sofrimento a gente vai ter", complementou.

A psicóloga traçou um paralelo com o início do processo terapêutico: "Uma das questões importantes que a gente fala em qualquer terapia que você vai fazer é que o primeiro passo, de você querer fazer uma terapia, já começa o tratamento".

Essa negação, informa a pesquisadora, é um dos principais problemas enfrentados no momento, não só em relação às questões psicológicas, mas para a contenção da doença em si. "É extremamente perigosa, tanto para você, quanto para as pessoas com as quais você convive — querendo ou não, você está se expondo a uma contaminação e pode levar isso para dentro da casa, das pessoas que você ama, — quanto para a sociedade como um todo, porque quanto mais a gente negar que a gente está vivendo, de fato, uma crise sanitária, que a gente está vivendo, de fato, um risco para todos nós, menos a gente vai se cuidar, mais mortes a gente vai ter e mais tempo a gente vai passar nessa situação. Então, essa negação é perniciosa por todos os lados", ressaltou.

Em relação à saúde mental, o comportamento oposto também é um problema. "Por outro lado, a gente vê outras pessoas que estão com o medo bastante aumentado. Então, a gente tem como se fossem extremos. A gente tem a negação e tem gente com muito medo. Medo de fazer qualquer coisa, de sair de casa, um isolamento exacerbado", colocou.

Assista à entrevista completa:

 

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