Astronomia

Cientistas descobrem planeta errante do tamanho da Terra na Via Láctea

Este é o menor planeta do tipo já encontrado até hoje e só pôde ser visto por causa de um fenômeno astrofísico que deriva da Teoria da Relatividade, de Einstein

Jéssica Gotlib
postado em 30/10/2020 17:38 / atualizado em 30/10/2020 18:26
Observação do fenômeno é um desafio para a comunidade científica, por isso, feito é comemorado por astrofísicos como um grande avanço -  (crédito: Universidade de Varsóvia)
Observação do fenômeno é um desafio para a comunidade científica, por isso, feito é comemorado por astrofísicos como um grande avanço - (crédito: Universidade de Varsóvia)

Pesquisadores de vários países, liderados por uma equipe do Observatório Astronômico da Universidade de Varsóvia (Polônia), fizeram uma descoberta que pode ajudar a provar algumas das teorias astronômicas sobre o universo em que vivemos. Eles encontraram um dos chamados planetas errantes, nome dado aos astros que vagam por aí sem orbitar nenhuma estrela.

O planeta tem o mesmo tamanho da Terra, de acordo com o anúncio feito nessa quinta-feira (29/10), após a publicação da descoberta na revista científica Astrophysical Journal Letters. Ele está na Via Láctea, mas fora do sistema solar, como outros mais de 4 mil exoplanetas descobertos antes. Mas o mais importante desse achado é realmente o fato de que ele não faz parte do campo gravitacional de estrela alguma.

Isso porque astrônomos acreditam que há vários planetas errantes vagando pela Via Láctea, mas têm poucas ferramentas capazes de detectar esses fenômenos, sobretudo quando muito pequenos, como nesse caso. Há alguns anos, pesquisadores, também da Universidade de Varsóvia, chegaram a fornecer evidências da existência desses planetas, mas ainda não tinham conseguido observá-los de maneira tão precisa.

É que normalmente, os astrofísicos buscam por planetas fora do sistema solar justamente guiados pela luz das estrelas em torno das quais eles orbitam. Como os planetas errantes não estão ligados a nenhuma estrela e são corpos celestes que não emitem luz, encontrá-los era uma tarefa quase impossível. Especialmente porque eles também têm como característica temperaturas muito baixas, o que significa que quase não dissipam radiação a ser captada por aparelhos na Terra.

"Nossa descoberta demonstra que planetas errantes de massa reduzida podem ser detectados e caracterizados utilizando telescópios terrestres", afirma Andrzej Udalski, coautor do artigo.

Relatividade

A solução desse problema nasceu de um desdobramento da Teoria da Relatividade Geral de Albert Einstein. Segundo ela, quando um objeto que tem massa (neste caso, o planeta) passa na frente de uma fonte muito brilhante (uma estrela) acaba se formando uma espécie de lente de aumento, chamada microlente gravitacional. Quer dizer, o campo de gravidade do planeta faz com que o brilho da estrela se curve ao redor do planeta e seja percebido de maneira ainda mais forte, como um holofote.

Isso significa que, quando um planeta errante atravessa, aleatoriamente, a luz de uma estrela distante dele, um observador na terra verá a luz dessa estrela ficar mais forte por algum tempo, como uma espécie de halo, aquele círculo iluminado que costumamos ver ao redor da lua cheia, que volta ao normal algum tempo depois. A medição desse tempo dá aos pesquisadores os dados necessários para calcular a dimensão do planeta.

Confira uma simulação do fenômeno feita pela Universidade de Varsóvia:

Procura

Apesar dessa ajudinha da física moderna, a dificuldade para observar um planeta errante ainda é grande. “As chances de observar microlentes são extremamente reduzidas porque três objetos – fonte, lente e observador – devem estar quase perfeitamente alinhados. Se observássemos apenas uma estrela-fonte, teríamos de esperar quase 1 milhão de anos para ver a fonte sendo microlente”, explica Przemek Mroz, pesquisador de pós-doutorado no Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech) e principal autor do artigo.

Para driblar mais esse desafio, as pesquisas atuais em busca de eventos de microlente gravitacional monitoram, ao mesmo tempo, centenas de milhões de estrelas no centro da Via Láctea, onde as chances de ocorrência do fenômeno são maiores. A pesquisa OGLE — liderada por astrônomos da Universidade de Varsóvia — realiza um desses experimentos. Ele é um dos maiores e mais longos levantamentos do céu feitos até o presente e começou há mais de 28 anos.

Atualmente, os astrônomos da OGLE usam um telescópio de mais de um metro posicionado no Observatório Las Campanas, no Chile. A cada noite clara, eles apontam o instrumento para as regiões centrais da galáxia e observam centenas de milhões de estrelas, em busca daquelas que mudam seu brilho.

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