A exposição à poluição do ar durante a gravidez pode prejudicar a saúde de recém-nascidos, mostram cientistas europeus. Por meio de um estudo com mais de 400 mães e bebês, os especialistas observaram que o contato com substâncias tóxicas presentes no ar está associado ao desequilíbrio nos níveis de um hormônio essencial para o crescimento das crianças: a tiroxina, também conhecida como T4. Os dados da investigação foram apresentados na última edição da revista especializada Environmental Research.
No artigo, os autores relatam que pesquisas anteriores apontam que a poluição atmosférica pode afetar a tireoide, glândula do corpo humano responsável pela produção dos hormônios que coordena o funcionamento da maioria dos órgãos, como o coração e os pulmões. Os especialistas resolveram avaliar esses efeitos em um grupo de recém-nascidos. “Os hormônios tireoidianos são essenciais para regular o crescimento e o metabolismo fetal e desempenham um papel importante no desenvolvimento neurológico”, justificam.
Na investigação, focaram no hormônio T4, que circula por toda a corrente sanguínea e é essencial para o equilíbrio do organismo e o desenvolvimento do corpo humano durante o início da vida. Quarenta e oito horas após o nascimento, os bebês são submetidos a um teste de punção no calcanhar para que sejam medidos os níveis dessa substância e do hormônio TSH no sangue. O TSH é produzido pela hipófise e tem como finalidade estimular a tireoide a produzir os hormônios T4 e T3.
“É um teste padrão, já que o desequilíbrio desses hormônios da tireoide aumenta o risco de desenvolvimento de doenças graves. Usamos essa ferramenta no nosso estudo porque ela se adequa à análise que queríamos fazer, que é desvendar a relação entre a poluição atmosférica durante a gravidez e o nível de tiroxina em recém-nascidos”, explica, em comunicado, Amaia Irizar-Loibide, pesquisadora do Departamento de Medicina Preventiva e Saúde Pública da Universidade do País Basco (UPB) e principal autora do estudo.
Participaram da pesquisa 463 grávidas, acompanhadas durante todo o período de gestação. Os cientistas mediram, no período, os níveis de exposição das voluntárias ao dióxido de nitrogênio (NO2) e às partículas finas com menos de 2,5 micrômetro de diâmetro (PM2,5). Esses são dois dos principais poluentes atmosféricos, ligados, principalmente, aos gases produzidos por veículos. “Partículas de PM2,5, por exemplo, são muito finas e entram facilmente no trato respiratório”, explicam os autores.
Amaia Irizar-Loibide conta que as gestantes foram monitoradas semanalmente. “O desenvolvimento do feto varia muito de uma semana para a outra. Procuramos fazer uma pesquisa o mais detalhada possível para saber quais são as semanas de gravidez mais sensíveis”, conta. A análise comprovou as suspeitas do grupo. “Os resultados obtidos nesse estudo revelam a relação direta entre a exposição a partículas finas durante a gravidez e o nível de tiroxina nos recém-nascidos. No entanto, não observamos uma ligação clara com a exposição ao dióxido de nitrogênio”, afirma a autora do estudo.
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Os pesquisadores também observaram que os bebês com as menores taxas de T4 foram os mais expostos às substâncias tóxicas do ar durante os primeiros meses da gravidez. “O que vimos nesse trabalho é que a exposição às partículas danosas durante o primeiro trimestre da gestação tem uma influência direta no equilíbrio dos hormônios da tireoide, gerando um nível mais baixo de tiroxina”, enfatiza Amaia Irizar-Loibide. No fim da gravidez, por sua vez, o efeito constatado foi o contrário. “No último trimestre, a maior exposição a essas partículas finas estava relacionada a níveis mais altos de T4, o que também interfere na saúde, pois precisamos ter um equilíbrio.”
Segundo os autores, o estudo mostra uma associação entre a exposição a substâncias tóxicas e mudanças nos níveis hormonais em bebês. Por isso, são necessárias mais investigações para saber se há uma relação de causa e efeito entre os dois fenômenos. “Não está claro qual é o mecanismo por trás de tudo isso. Em todo caso, chegamos à conclusão de que os períodos mais sensíveis da gravidez em termos de poluição atmosférica são os primeiros e os últimos meses, o que é um alerta importante para a área médica”, diz Irizar-Loibide.
A equipe pretende se aprofundar no tema para sanar essas dúvidas e tem algumas hipóteses a serem investigadas. “Essas partículas nada mais são do que pequenas esferas feitas de carbono, e não está claro se o efeito que elas exercem é porque passam da placenta para o bebê ou se outros componentes aderidos às partículas são liberados assim que elas entram no corpo. São algumas possibilidades que teremos que avaliar melhor nos próximos estudos”, afirma a autora do estudo. “Precisamos continuar investigando se a exposição durante a gravidez afeta não só os hormônios da tireoide, mas também outros aspectos dos bebês, como desenvolvimento neuropsicológico, crescimento, obesidade etc.”
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