Uma pesquisa americana mostrou que a vacina contra a covid-19 não gera reações graves a grávidas e mulheres que estão amamentando. Os especialistas chegaram a essa conclusão após avaliar dados de mais de 17 mil voluntárias, incluindo gestantes que se imunizaram. Os dados foram apresentados na última edição da revista especializada Jama e podem ser usados em campanhas de incentivo à vacinação.
O trabalho teve início em janeiro deste ano, com buscas on-line por mulheres não grávidas, gestantes e puérperas para participar dos testes. As voluntárias foram convidadas a descrever suas reações após receberem pelo menos uma dose da vacina contra a covid-19. Em março, 17.525 pessoas haviam respondido às perguntas dos especialistas.
Entre as participantes, 44% estavam grávidas e 38% amamentando seus bebês. Dezoito por cento das mulheres informaram ter planos de engravidar em breve. A maioria das voluntárias (62%) recebeu a vacina produzida pela empresa Pfizer e residia nos Estados Unidos. Por meio das respostas, os especialistas constataram que grande parte das mulheres sentiu dor no local da injeção (91%). A sensação de fadiga foi relatada por 31% das voluntárias, enquanto 25% contaram ter registrado uma temperatura média de 100 °F (37°C).
Um pequeno grupo (5%-7%) informou ter notado uma diminuição no suprimento de leite pós-vacinação, mas destacaram que isso não prejudicou a amamentação de seus filhos. “Nosso estudo mostrou que não houve qualquer aumento de reações em grávidas além do que se espera de uma vacina”, declarou Linda Eckert, professora de obstetrícia e ginecologia da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, e líder do estudo. “As grávidas se dão bem com a vacina”, acrescentou a pesquisadora Alisa Kachikis, coautora do trabalho.
As cientistas acreditam que os dados podem ajudar a tranquilizar as gestantes, mostrando que o imunizante não gera riscos à sua saúde. “Esperamos que essas constatações sejam um alento para essas mulheres e que elas não tenham receio em se proteger, até porque sabemos que a covid-19 pode ser extremamente danosa às gestantes. É mais uma evidência de que a vacina é segura e bem tolerada em grávidas”, frisou Eckert. “Esse é um medo comum que ouço de muitas das minhas pacientes”, complementou.
As pesquisadoras adiantam que o trabalho terá continuidade, uma vez que mais mulheres têm compartilhado suas experiências com os imunizantes. Elas também esperam expandir o estudo para outros grupos socioeconômicos. “Chegamos à marca de 20 mil mulheres inscritas nesse trabalho e novas entrevistadas continuam nos respondendo”, revelou Kachikis. “Também acreditamos que pesquisas futuras sobre novos imunizantes contra covid-19 precisam incluir gestantes e puérperas”, complementou a cientista.
Integrante do Departamento Científico de Imunização da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai), Gisele Zuvanov Casado ressaltou a relevância do estudo ao reforçar a segurança dos imunizantes, o que poderá incentivar as gestantes a se vacinarem.
“Muitas das grávidas e puérperas se preocupam com problemas graves que podem acontecer por causa da imunização, como a trombose, por exemplo, mas sempre frisamos que o risco desses danos é ainda maior se elas contraem o novo coronavírus. Por isso, sempre pedimos para se vacinarem, pois assim como esse estudo mostra, elas não vão enfrentar problemas e nem seus bebês vão ser prejudicados”, ressaltou a especialista.
Gisele Casado assinalou que a pesquisa também ajuda a preencher lacunas presentes durante o processo de desenvolvimento das vacinas contra covid-19. “No início da pandemia, os especialistas avaliaram os imunizantes de forma mais geral, sem focar nesses grupos de maiores riscos, por causa da pressa. Não tínhamos muito tempo e precisávamos de algo efetivo rapidamente. Agora, com esses trabalhos, podemos ter uma avaliação mais minuciosa desses grupos, o que é algo muito positivo”, complementou.
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Grupo de risco
“Esses estudos com dados do mundo real, que não tratam de análises laboratoriais, são sempre muito importantes, pois nos dão um panorama mais certeiro. Essa segurança dos imunizantes nesses grupos de mulheres já estava sendo vista por especialistas no dia a dia, mas, agora, temos dados ainda mais robustos. É importante mostrar que não existem riscos graves às gestantes, pois muitas delas têm medo de sofrer com problemas extremos, principalmente o aborto.
Vemos que as chances de isso ocorrer por causa da vacina são muito pequenas, e que elas vão estar bem mais vulneráveis a essa complicação maior se não se vacinarem. A taxa de aborto entre grávidas com covid-19 varia entre 10% e 25%, nas não infectadas é de 0,7%, um número bem mais baixo. As gestantes são grupo de risco da covid-19, elas têm mais chance de ter a forma grave da enfermidade, de ir pra UTI e também de usar respiradores artificiais. Por isso, é essencial que todas se protejam, e isso é feito por meio da vacina.”
César Carranza, infectologista do Hospital Anchieta, em Brasília
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Palavra de especialista
Grupo de risco
“Esses estudos com dados do mundo real, que não tratam de análises laboratoriais, são sempre muito importantes, pois nos dão um panorama mais certeiro. Essa segurança dos imunizantes nesses grupos de mulheres já estava sendo vista por especialistas no dia a dia, mas, agora, temos dados ainda mais robustos. É importante mostrar que não existem riscos graves às gestantes, pois muitas delas têm medo de sofrer com problemas extremos, principalmente o aborto. Vemos que as chances de isso ocorrer por causa da vacina são muito pequenas, e que elas vão estar bem mais vulneráveis a essa complicação maior se não se vacinarem. A taxa de aborto entre grávidas com covid-19 varia entre 10% e 25%, nas não infectadas é de 0,7%, um número bem mais baixo. As gestantes são grupo de risco da covid-19, elas têm mais chance de ter a forma grave da enfermidade, de ir pra UTI e também de usar respiradores artificiais. Por isso, é essencial que todas se protejam, e isso é feito por meio da vacina.”
César Carranza, infectologista do Hospital Anchieta, em Brasília
Sem reação, mas com anticorpos
O fato de uma pessoa não ter reação à vacina anticovid nada tem a ver com a proteção adquirida contra o novo coronavírus, destaca uma pesquisa realizada nos Estados Unidos. Os autores do estudo, publicado na revista especializada Jama Internal Medicine, esperam que as conclusões ajudem a tranquilizar aqueles que acreditam que é necessário “passar mal” para obter bons resultados.
Os especialistas avaliaram dados de 954 profissionais de saúde da cidade de Baltimore, imunizados com vacinas fabricadas pela Pfizer/BioNTech e Moderna. Por meio das análises, eles constataram que todos os participantes no estudo, mesmo os que não relataram efeitos colaterais sequer leves, como cansaço, dor de cabeça e febre, apresentaram um número alto de anticorpos protetores ao novo coronavírus.
Os pesquisadores também relataram ter observado uma ocorrência maior desse tipo de mal-estar nos participantes que tiveram covid-19 antes da imunização ou em quem estava tomando a segunda dose de vacina. “Isso nos mostra que a presença prévia de anticorpos para o vírus pode estar relacionada a reações desses medicamentos”, destacaram no trabalho os autores do trabalho, liderado por Amanda Debes, da Universidade John Hopkins.
“Os avaliados demonstraram uma resposta de anticorpos forte após a segunda dose, independentemente de reações induzidas. Com isso, acreditamos que as pessoas que não desenvolveram problemas adversos após imunizadas podem respirar tranquilas, pois também estão protegidas”, enfatizaram os especialistas no artigo publicado na Jama. O estudo também encontrou uma correlação já esperada com a faixa etária, indicando que pessoas com mais de 60 anos têm, em geral, uma resposta imune mais fraca.
Pica-paus polígamos têm mais descendentes
Ao contrário do que os cientistas pensavam, pica-paus polígamos geram mais descendentes do que os monogâmicos, segundo uma pesquisa americana que avaliou os hábitos dessa ave por mais de uma década. No trabalho, publicado na última edição da revista especializada Proceedings of the Royal Society B, os pesquisadores também observaram que o aumento no número de filhotes não foi registrado em fêmeas com o mesmo comportamento amoroso. Os cientistas acreditam que as descobertas podem se repetir em análises semelhantes feitas com outras espécies.
Na investigação, os biólogos estudaram a rotina do pica-pau da bolota, que habita florestas de carvalho no sudoeste dos Estados Unidos e na Colômbia. Os especialistas já sabiam que muitos desses animais eram adeptos da poligamia e acreditavam que essa prática poderia criar uma rivalidade entre irmãos, fazendo com que animais com mais de um parceiro sexual deixassem menos descendentes a cada ano.
“Por muito tempo, nós acreditávamos que casais monogâmicos eram o padrão ouro para se ter mais descendentes, já que esse modelo é uma garantia de acasalamento; e os animais não se envolvem em conflitos perigosos”, declarou, em um comunicado à imprensa, Sahas Barve, pesquisador do Museu Nacional de História Natural de Smithsonian, nos Estados Unidos, e principal autor do estudo. “Mas você não pode afirmar algo desse tipo sem ter dados que comprovem. Foi por isso que partimos para essa pesquisa”, justificou.
No trabalho, os cientistas rastrearam 499 pássaros que vivem na Reserva do Museu de História Natural e Cultural de Hastings, na Califórnia. Cerca de 150 ambientalistas que trabalhavam na região registraram a produção reprodutiva de cada ave, e seus hábitos amorosos por 12 anos. A equipe comparou o número de filhotes gerados ao longo da vida por pica-paus que faziam sua procriação com um único parceiro com os descendentes de pássaros poligâmicos. A análise revelou que o segundo grupo produziu uma prole 1,5 vezes maior do que as aves com apenas um parceiro sexual.
Os resultados surpreenderam os cientistas. “Acreditávamos que esse tipo de comportamento seria até uma entrave futura, podendo reduzir o número de animais dessa espécie nos próximos anos caso se tornasse algo padrão”, detalhou Sahas Barve. “Mas observamos que a reprodução com vários parceiros é, na verdade, melhor do que a reprodução em pares”, acrescentou.
Os especialistas estimam que os resultados podem servir de motivação para que mais pesquisas comportamentais semelhantes sejam feitas, futuramente, com outras espécies. “Isso é algo que não foi visto anteriormente porque é muito difícil acompanhar os animais por tanto tempo. Nossas descobertas reforçam como é importante realizar análises de longo prazo, principalmente quando avaliamos hábitos das espécies. O mesmo pode ser feito com praticamente qualquer ave”, ressaltou o principal autor do estudo.