
Mais de vinte especialistas de alto escalão compõem a nova equipe de especialistas da Organização Mundial da Saúde (OMS), apresentada nesta quarta-feira, que vai investigar novos patógenos e voltar a estudar a origem da covid-19.
Nos últimos anos, um número crescente de agentes patógenos de alto risco apareceu ou reapareceu, de acordo com a organização, incluindo o MERS-CoV, a gripe aviária e também os vírus de Lassa, Marburg, Ebola e recentemente o SARS-CoV-2, que causou a atual pandemia.
“O surgimento de novos vírus que podem desencadear epidemias e pandemias é uma realidade inevitável da natureza, e se o SARS-CoV-2 é o mais recente desses vírus, não será o último”, disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, em coletiva de imprensa.
A pandemia da covid-19 revelou que o mundo não estava preparado, nem mesmo a OMS. Assim, seu diretor-geral anuncia agora o lançamento de um "Grupo de Aconselhamento Científico sobre as origens dos novos agentes patógenos", chamado "SAGO" em sua sigla em inglês.
Após uma convocação de candidaturas, a OMS selecionou 26 de 700, entre as quais estão o virologista alemão Christian Drosten; Inger Damon, dos Centros de Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos; Jean-Claude Manuguerra, virologista do instituto Pasteur da França e Yungui Yang, vice-diretor do Instituto de Genômica de Pequim.
"Segundo os procedimentos da OMS, haverá um período de consulta pública de duas semanas, para que a OMS receba comentários sobre as proposições dos membros do SAGO e para que implemente as modalidades da primeira reunião", explicou a agência da ONU em nota.
"Este grupo consultivo aconselhará a OMS sobre as próximas medidas de emergência a serem tomadas, e então a OMS trabalhará com todos os Estados-membros, incluindo a China, para fazer o que precisa ser feito. (...) Não há tempo a perder", declarou a responsável pela gestão da epidemia de covid-19 na OMS, Maria Van Kerkhove.
"Última chance"
Em 13 de agosto, a China rejeitou o pedido da OMS por uma nova investigação no local, alegando que a primeira havia sido suficiente.
Mas Van Kerkhove espera que o SAGO recomende a realização de mais estudos na China e, mais tarde, em outros lugares, e pediu aos países que cooperem.
"Talvez seja nossa última chance de entender as origens desse vírus", afirmou Michael Ryan, diretor do programa de emergência sanitária da OMS.
Após a nomeação do grupo de especialistas, "faremos o possível para apoiar a OMS e cooperar com ela no estudo científico de suas origens", disse o conselheiro chinês Feng Yong, encarregado de saúde pública.
Alguns dos especialistas selecionados já participaram da missão científica conjunta da OMS e China sobre a origem da covid-19, como a holandesa Marion Koopmans e o vietnamita Hung Nguyen.
Essa missão viajou em janeiro para Wuhan, onde o coronavírus foi detectado pela primeira vez, e em 29 de março publicou um relatório.
O texto, porém, não incluía nenhuma resposta conclusiva, só enumerava quatro posssíveis cenários. Entre eles, o considerado mais verossímil foi o de que o vírus foi transmitido ao ser humano por um animal intermediário, infectado por um morcego.
Também foi levantada a hipótese de que o vírus tenha sido transmitido diretamente, sem intermediário; pela alimentação - como carne congelada - ou por um vazamento acidental de um laboratório, algo que, no entanto, foi estimado "extremamente improvável".
Esta última hipótese foi descartada praticamente desde o início, o que levou os autores do relatório a serem acusados de mitigar a responsabilidade da China. O chefe da OMS não demorou a afirmar que as quatro hipóteses estavam sobre a mesa.
No marco da pandemia, o SAGO terá que orientar a OMS sobre as próximas medidas a serem tomadas para entender quais são as origens do coronavírus SARS-CoV-2, publicando uma "avaliação independente" de todas as conclusões científicas e técnicas disponíveis no mundo.
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