Novembro Azul

Risco: mais da metade dos homens brasileiros não fazem exames preventivos

Especialistas ouvidos pelo Correio alertam que preconceito e obstáculos culturais afastam os homens das clínicas e agravam patologias

Ronayre Nunes
postado em 18/11/2021 17:08
O preconceito e o machismo acaba afastando os homens dos cuidados com a saúde. -  (crédito:  Maurenilson Freire/CB/D.A Press)
O preconceito e o machismo acaba afastando os homens dos cuidados com a saúde. - (crédito: Maurenilson Freire/CB/D.A Press)

Além de ser a causa do sofrimento e morte de mulheres, o machismo também afeta os homens e sua saúde. Expressões que glorificam a força física masculina, não dando brecha para fraquezas, fazem parte da estrutura cultural de várias sociedades. Tais referências, contudo, podem se virar contra os próprios homens. 

Um estudo divulgado pelo Instituto Lado a Lado pela Vida revelou que 62% dos homens brasileiros e 73% dos latino-americanos só visitam o médico quando têm sintomas insuportáveis. As respostas de 1.800 homens ouvidos (dos 18 aos 65 anos) acendeu um alerta reforçado pela campanha Novembro Azul — que completa 10 anos em 2021: o preconceito e o machismo afasta os homens dos cuidados com a saúde.

“Ainda vivemos em uma sociedade em que o machismo impera e onde culturalmente é colocado que o homem precisa ser forte, não pode sentir dor. 'Homem não chora!': o termo que se usa hoje é que o homem não pode ser ‘nutella’, tem que ser raiz. Tem que aguentar a dor, tem que ser duro, tem que ser forte. Inclusive quando um homem busca cuidados, geralmente é criticado”, aponta a psicóloga Kassiana Pozzatti ao Correio.

Mesmo que o Novembro Azul chame a atenção para o diagnóstico do câncer de próstata, é importante ter cuidado com outros riscos, como com a saúde dos olhos. No último dia 14/11 foi celebrado o Dia Mundial do Combate ao Diabetes, e a doença é uma ameaça à visão. O Brasil é o 5º país em incidência da diabetes no mundo, com 16,8 milhões de doentes adultos (20 a 79 anos). Segundo dados do Atlas do Diabetes da Federação Internacional de Diabetes (IDF), a estimativa é que, em 2030, 21,5 milhões de pessoas tenham desenvolvido a patologia.

Uma das complicações da doença é a retinopatia diabética, que é caracterizada por lesões na retina — podendo levar à baixa visão ou até à cegueira.

“Com relação à questão da retinopatia diabética: tanto homens, quanto mulheres, qualquer pessoa que tenha diabetes, precisa fazer o exame de fundo de olho anualmente. Mesmo que o diabetes esteja controlado, mesmo que esteja enxergando bem, o exame de mapeamento de retina anual é fundamental. Há um grande número de pessoas que não têm esse compromisso. Há pouco tempo, atendi dois pacientes, homens jovens, já cegos porque nunca tinham feito um exame oftalmológico! A retinopatia diabética é uma doença totalmente tratável, desde que cuidada no início. Com prevenção e tratamento, a pessoa não perde a visão. Quem não se cuida, fica em uma situação gravíssima, irreversível, mesmo com cirurgias. Isso, infelizmente, é falta de informação e de prevenção”, explica o médico referência em Retina e Vítreo do Hospital de Olhos INOB.

O Dr. Renato alerta: a falta de prevenção na saúde masculina já é visível no cotidiano do consultório
O Dr. Renato alerta: a falta de prevenção na saúde masculina já é visível no cotidiano do consultório (foto: Divulgação)

Saúde e pandemia

Se a prevenção na saúde masculina já passa por obstáculos em condições normais, na pandemia a situação se agravou. “Infelizmente faltaram informações e orientações gerais sobre a importância de se cuidar, sem deixar a covid-19 de lado. O medo afugentou muito os pacientes dos nossos consultórios. Muitos homens precisavam continuar com o acompanhamento, mas por conta da pandemia, suspenderam o tratamento. E isso foi bastante prejudicial e agora estamos sentindo as consequências, pois com a retomada das consultas, observamos uma piora na parte hormonal, metabólica. Estamos fazendo diagnósticos de doenças em estágios mais avançados”, pontua o urologista Tiago Vilela Santos, do Centro Integrado de Urologia.

O médico também alerta para a prevenção constante, em todas as etapas da vida de um homem. “Desde criança o homem tem que se acostumar a fazer um check up, como as meninas. Para investigar fimose e outras alterações que possam estar associadas, câncer de pênis, controle do HPV. É importante acompanhar o desenvolvimento dos órgãos genitais, orientando a prevenção das doenças sexualmente transmissíveis. A prevenção do câncer de próstata, que é tão falada neste Novembro Azul, pode detectar precocemente cânceres como o de testículo com ajuda de um simples exame físico. Sendo assim, homens, previnam-se. Esse é sempre o melhor caminho”.

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