Pesquisa

Impacto extraterrestre causou cratera na periferia de SP, diz estudo

O local, situado a 40 km do centro da cidade, apresenta ‘forma circular perfeita’, um dos indícios de colisão astronômica, mas só começou a ser estudado depois da década de 1960

Jéssica Gotlib
postado em 20/12/2021 17:56 / atualizado em 20/12/2021 17:56
Estrutura circular poderia ter sido formada por atividade vulcânica ou colisão com um corpo celeste, mas análise do solo tirou a dúvida -  (crédito: Victor Velázquez Fernandez/Fapesp/Reprodução)
Estrutura circular poderia ter sido formada por atividade vulcânica ou colisão com um corpo celeste, mas análise do solo tirou a dúvida - (crédito: Victor Velázquez Fernandez/Fapesp/Reprodução)

Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) comprovaram que uma misteriosa cratera na região metropolitana da cidade foi formada a partir do impacto de um corpo celeste com a superfície da Terra. No estudo, intitulado “Aspectos morfológicos, características texturais e composição química de esférulas da cratera de impacto Colônia” (você pode ler o artigo completo neste link) o grupo de geólogos detalha quais elementos, determinantes para entender o surgimento do buraco gigante, foram encontrados.

Com 3,6 quilômetros de diâmetro, cerca de 300 metros de profundidade e uma borda elevada de 120 metros, a formação, denominada Colônia, passou despercebida pelos estudiosos durante séculos. Foi só na década de 1960 que um artigo dos professores Rudolph Kollert, Alfredo Björnberg e André Davino começou a explorar as peculiaridades do local.

Nesta publicação inicial, os cientistas descreveram, por exemplo, que a Colônia tem uma forma perfeitamente circular. Esse foi o primeiro indício de que a cratera surgiu de um impacto celeste. Entretanto, os estudos ainda eram insuficientes para cravar a origem da formação, isso porque estruturas semelhantes podem ser vistas depois de uma atividade vulcânica, por exemplo.

Um salto temporal

Só em 2016 a equipe coordenada pelo geólogo e professor Victor Velázquez Fernandez encontrou evidencias suficientes para sustentar a tese de impacto extraterrestre frente a outras, como a vulcânica, para explicar o surgimento da cratera. Na época, Velázquez falou à Agência Fapesp que as principais informações vieram de análises microscópicas de solo.

“Nas amostras coletadas, encontramos várias evidências. Uma delas, bastante forte, foi a evidência de transformação de vários minerais, em particular, quartzo e zircão. Para a transformação desses minerais é necessária uma pressão superior a 40 quilobars [40 mil vezes a pressão atmosférica padrão] e uma temperatura da ordem de 5 mil graus Celsius. Esses patamares de pressão e temperatura são característicos da potente liberação de energia resultante do impacto na superfície terrestre de um objeto proveniente do espaço interplanetário”, explicou.

A resposta está na terra

Neste novo estudo, o solo foi novamente o protagonista. Publicado na revista científica Solid Earth Sciences, o artigo conta que a chave para o mistério da cratera de colônia está em pedrinhas muito pequenas chamadas esférulas. Com formato ovalado, de gota, disco ou esfera, elas têm 0,4 milímetro de comprimento em média, mas podem variar entre 0,1 e 0,5 milímetro.

“Encontramos esférulas no interior da cratera, em profundidades de 180 a 224 metros, cuja forma só pode ser explicada pelo impacto de um corpo extraterrestre, que gerou temperaturas da ordem de 5 mil graus Celsius e pressões da ordem de 40 quilobars – equivalentes a 40 mil vezes a pressão atmosférica padrão”, comentou o professor Velázquez em entrevista à revista Galileu.

A quantidade, formato, tamanho e localização das esférulas deram a chave para confirmar a teoria proposta pelos cientistas. “Nossa explicação é que a energia do impacto (entre o corpo celeste e a superfície da Terra) transformou as rochas existentes no local em uma nuvem densa e superaquecida. Esse material foi lançado para cima, congelou e voltou a cair na base da recém-formada cratera”, detalhou.

De acordo com ele, se tivesse ocorrido de outra maneira, os achados no solo também apresentariam características distintas. “O fato de elas não serem todas esféricas é importante, porque indica que não podem ser classificadas como micrometeoritos; uma vez que estes, devido ao atrito com a atmosfera, são sempre esféricos. As formas ovais, de disco e gota são especialmente relevantes, porque só podem ser explicadas por meio de nossa hipótese: da nuvem superaquecida, ejeção vertical e posterior solidificação e queda do material”, indicou.

Novas pesquisas

Agora, os estudiosos buscarão meios de saber detalhes da colisão. É preciso entender ainda se o que formou a cratera foi um corpo metálico ou rochoso, como um meteoro, por exemplo, ou um sólido congelado, como um cometa. Também pode-se buscar uma data mais aproximada para o impacto. Atualmente, os cientistas trabalham com um intervalo de 5 milhões a 36 milhões de anos no passado.

“Embora desconheçamos o tamanho do objeto, a velocidade e o ângulo de incidência, por comparação com outros impactos, podemos dizer que a colisão gerou uma devastação de 20 quilômetros de raio”, destacou o pesquisador.

Para continuar tendo acesso a esses dados, as equipes da USP trabalham conscientizando as duas comunidades próximas à borda da cratera: Colônia e Vargem Grande. Ao todo, foram registradas 188 estruturas similares em todo o mundo e só duas, a brasileira e a cratera de Ries, na Alemanha, tiveram seu entorno ocupado. Além da importância geológica, esse tipo de formação tem forte potencial turístico, dependendo da maneira como é explorado.

 

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