PANDEMIA

Covid-19 ataca DNA, danifica cérebro e pode causar perda de olfato persistente

Estudo revela como a perda de olfato ocorre e quais são as consequências no tecido cerebral

Talita de Souza
postado em 02/02/2022 19:15 / atualizado em 02/02/2022 19:15
A perda de olfato deixa de ser um sintoma em si e revela uma possível
A perda de olfato deixa de ser um sintoma em si e revela uma possível "danificação do tecido cerebral" - (crédito: Pixabay / Pexels)

A perda de olfato ocasionada pela covid-19 é mais do que um sintoma simples: ela revela um dano no tecido cerebral causada pela doença, além de estar relacionada com outros efeitos neurológicos consequentes da infecção, como o chamado “nevoeiro cerebral”, dores de cabeça e até depressão. A descoberta foi feita em um estudo liderado por pesquisadores da Universidade da Columbia e da escola de medicina da NYU Grossman e publicado nesta quarta-feira (2/2) na revista Cell.

Os cientistas descobriram que tanto o próprio Sars-Cov-2 quanto a reação imune que ele gera alteram o DNA das células e prejudicam a recepção das substâncias que se traduzem em odor pelos nossos neurônios. Isso porque o vírus próximo aos neurônios provoca uma avalanche de células imunes e células T, ativadas para combater a infecção.

Essa reação provoca a liberação de citocinas, que alteram a atividade genética. Ou seja, faz com que a capacidade das cadeias de DNA de formar interações que abrigam genes — que constroem o receptor olfativo — seja diminuída.

A descoberta foi feita a partir da análise de consequências moleculares causadas pela covid-19 em hamsters e em amostras de tecido olfativo retiradas de 23 autópsias humanas. Os pesquisadores descobriram que a infecção muda a arquitetura do organismo e, por ter acesso a células nervosas, os chamados neurônios, ele pode agredir o funcionamento do cérebro.

Nesse caso, a perda de olfato deixa de ser um sintoma em si e revela uma possível “danificação do tecido cerebral” e por aparecer “antes que outros sintomas”, deve ser levado a sério para observar se é necessário um tratamento neurológico do infectado, que pode sofrer consequências da covid longa, como a capacidade de pensar com clareza e até mesmo desenvolver um quadro depressivo.

“A descoberta de que o olfato depende de interações genômicas que se mostraram frágeis entre cromossomos tem implicações importantes. Se o gene é interrompido toda vez que o sistema imunológico reage ao vírus, o que interrompe os contatos de cromossômicos, a perda de olfato pode ser um “canário na mina de carvão”, que fornece sinais precoces de que o vírus está danificando o tecido cerebral e servir de alerta para o problema ser tratado o quanto antes”, declara Benjamin Tenoever, professor do Departamento de Microbiologia da NYU.

De acordo com os autores, a alteração genética causada pela covid-19 impede a restauração natural dos genes, já que a doença causa “uma interrupção mais duradoura na regulação cromossômica da expressão gênica”, que gera uma forma de memória nuclear na célula, e pode impedir a restauração do organismo, mesmo após a inativação do Sars-CoV-2. Por isso, a perda de olfato pode persistir, ou a percepção de cheiros pode ser alterada mesmo após o período de infecção.

“Nosso trabalho, além de fornecer a primeira explicação sobre o mecanismo da perda de olfato na covid-19, também sugere como o vírus pandêmico, que infecta menos de 1% das células do corpo humano, pode causar danos tão graves em tantos órgãos”, ressalta Benjamin.

 

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