Chance de sobrevivência

Ao conviver com humanos, 75% das plantas têm as chances de sobreviver reduzidas

Situações como a destruição e a degradação de ecossistemas, reduzem a chance de sobrevivência de grande parte da fauna terrestre

Correio Braziliense
postado em 11/03/2022 06:00 / atualizado em 11/03/2022 06:25
 (crédito:  Chip Clark/Smithsonian Museum.)
(crédito: Chip Clark/Smithsonian Museum.)

Após analisar mais de 85 mil espécies de plantas, cientistas americanos concluíram que três em cada quatro delas, ou seja 75%, "perdem" ao conviverem com humanos. Isso porque situações como a destruição e a degradação de ecossistemas, efeitos gerados principalmente pelas ações antrópicas, reduzem a chance de sobrevivência de grande parte da fauna terrestre. Detalhes do estudo foram apresentados, ontem, na revista especializada Plants, People, Planet.

A equipe usa os conceito "vencedores e perdedores" evolucionários, inspirada em pesquisas feitas pelo antropólogo americano John McNeill. Os autores do novo estudo explicam que esses termos se encaixavam perfeitamente na proposta da análise: contabilizar as espécies de plantas com mais chances de sobrevivência.

"Na verdade, comecei esse projeto com otimismo. Acabei de plantar um monte de árvores ao redor da minha casa, em Vermont, e pensei comigo mesmo que, talvez, houvesse mais vencedores do que perdedores, e estivéssemos focados apenas em tudo que está desaparecendo", relata, em comunicado, John Kress, pesquisador do Museu Nacional de História Natural do Smithsonian, nos Estados Unidos, e principal autor do estudo.

Kress e colegas exploraram bancos de dados que listavam plantas ameaçadas de extinção, espécies economicamente importantes e tipos de plantas envolvidas no comércio global legal e ilegal, entre outras categorias. A equipe conseguiu compilar e classificar mais de 85 mil espécies de plantas, um número equivalente a 30% das conhecidas, que chegam a 300 mil. "Não havia dados suficientes para categorizar os 70% restantes da diversidade global de plantas, o que reflete o quanto nos resta aprender sobre as riquezas botânicas da Terra", frisa Kress.

A análise revelou que, atualmente, as espécies perdedoras — ou seja, que não ganham com a convivência com humanos — superam as vencedoras. A equipe chegou a 20.293 plantas nessa condição, com a grande maioria delas sendo identificadas como não úteis para os seres humanos. Outras 6.913 espécies foram classificadas como vencedoras, sendo que 164 têm algum uso humano, como a ginkgo biloba, usada para fins medicinais.

Os pesquisadores tiveram dificuldade de classificar o resto do grupo. Por isso, distribuíram as espécies entre possíveis perdedoras (26 mil) e potenciais vencedoras (18.600). Em um terceiro grupo, foram colocadas as plantas consideradas neutras, em que não é possível bater o martelo para a real condição (14.149). "Existem indicadores que permitem fazer essa distribuição provisória, mas precisamos saber mais sobre essas espécies antes de poder rotulá-las corretamente", afirma Kress.

Menos diversidade

A grande quantidade de plantas perdedoras em potencial, em comparação às vencedoras, é uma notícia alarmante, segundo os autores, devido ao risco elevado de as espécies se perderem completamente, levando o que ainda há para aprender sobre sua biologia e a singularidade genética de sua linhagem. "Nossos resultados sugerem que isso significa que as comunidades de plantas do futuro serão mais homogeneizadas do que as de hoje", diz Kress.

Essa queda na diversidade provavelmente terá sérias consequências para os ecossistemas, bem como para a humanidade, alertam os autores. A perda da diversidade vegetal pode, por exemplo, levar à redução da diversidade animal e tornar os ecossistemas menos resilientes.

Kress espera que os resultados obtidos proporcionem a outros pesquisadores oportunidades de analisar mais profundamente por que certas espécies estão ganhando ou perdendo na era dos humanos, além de identificar as plantas que mais precisam de conservação. "Ainda parece verde do lado de fora da minha janela, e isso pode criar a ilusão de que as plantas estão indo bem", diz Kress. "Mas esse estudo sugere que estamos a caminho de uma grande perda de diversidade de plantas, e é melhor acordarmos."

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