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Covid longa pode causar doença duradoura nas vias aéreas, diz estudo

Os cientistas responsáveis pelo estudo perceberam falhas no pulmão com sintomas semelhantes à asma e DPOC, problema crônico de obstrução no órgão

Talita de Souza
postado em 15/03/2022 16:51 / atualizado em 15/03/2022 16:53
As alterações na capacidade do bom funcionamento do pulmão foram vistas tanto em pacientes com sintomas leves quanto naqueles que precisaram de internação, o que preocupou os especialistas -  (crédito:  Gabriel BOUYS / AFP)
As alterações na capacidade do bom funcionamento do pulmão foram vistas tanto em pacientes com sintomas leves quanto naqueles que precisaram de internação, o que preocupou os especialistas - (crédito: Gabriel BOUYS / AFP)

Além de mal estar durante a infecção e uma possível perda de memória após o período de quarentena, a covid-19 pode causar, também, um sintoma mais duradouro e preocupante: uma doença nas pequenas vias aéreas nos pulmões. A descoberta foi feita por cientistas da Sociedade Radiológica da América do Norte, por meio de um estudo que mediu a capacidade de aprisionar o ar de 100 adultos sintomáticos 30 dias após o diagnóstico. Os resultados foram publicados nesta terça-feira (15/3) na revista Radiology.

As alterações na capacidade do bom funcionamento do pulmão foram vistas tanto em pacientes com sintomas leves quanto naqueles que precisaram de internação, o que preocupou os especialistas. Também foi notado que a modificação permaneceu nos pacientes mesmo depois de 75 dias.

“Há uma doença se desenvolvendo nas pequenas vias aéreas independentemente da gravidade da covid. Pela primeira vez, estamos descrevendo a doenças nestes pacientes com sintomas persistentes. O que está ocorrendo está relacionado à inflamação, que causa o aprisionamento de ar”, conta o doutor Alejandro Comellas, autor sênior do estudo e docente da Divisão de Medicina Pulmonar da Universidade de Iowa.

“Precisamos, agora, investigar mais para ver se é transitório ou se é permanente — o que significa que nunca voltará ao normal”, pontua Comellas. O grupo iniciou o estudo após diversos médicos que integram a Universidade de Iowa perceberem que muitos pacientes mostraram sinais de doença pulmonar crônica, como falta de ar e outros sintomas respiratórios.

Os cientistas afirmam que a alteração feita pela covid causa um aprisionamento de ar, uma “condição na qual as pessoas não conseguem esvaziar os pulmões quando expiram e sentem o sufocamento”. Os sintomas são semelhantes a obstrução das vias aéreas causadas pela asma e pela doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC).

Para analisar as alterações, o grupo de estudiosos estabeleceram um protocolo em que submetia os 100 participantes, já infectados com covid-19, e outros 106 voluntários que nunca passaram pela doença, e os submeteram a uma tomografia computadorizada (TC) inspiratória e expiratória. O processo permite visualizar o tecido pulmonar.

No grupo pós covid, houve a detecção de aprisionamento de ar nas imagens do exame. Nos participantes que tiveram sintomas leves, houve um comprometimento de 25% nos pulmões; já aqueles que foram hospitalizados apresentaram uma modificação de quase 35%, contra uma falha de 7,2% do grupo saudável.

Além disso, o aprisionamento de ar persistiu em oito dos nove participantes que realizaram os exames mais de 200 dias após o diagnóstico. Os pesquisadores observaram que a persistência de anormalidades respiratórias nesse período aumenta a preocupação com a remodelação permanente das vias aéreas e a fibrose após a infecção por SARS-CoV-2.

Agora, o objetivo do grupo de cientistas é acompanhar os pacientes com a doença respiratória para analisar se eles se recuperarão, após um longo prazo, ou se realmente a alteração é permanente.

“Se uma parcela dos pacientes continua com doença das pequenas vias aéreas, precisamos pensar nos mecanismos por trás disso”, disse ele. “Pode ser algo relacionado a uma inflamação, que é reversível, ou pode ser algo relacionado a uma cicatriz que é irreversível. Se a última opção for a verdadeira, então precisamos procurar maneiras de impedir a progressão da doença e evitar essa alteração no corpo do paciente”, detalha preocupado o doutor Comellas.

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