FÓSSIL

Revisão de fóssil de 225 milhões de anos revela nova espécie, diz estudo

Para os cientistas, as descobertas apresentam, além de um novo fóssil e uma nova espécie, a identificação de uma linha evolutiva dos pterossauromorpha

Talita de Souza
postado em 05/05/2022 00:46
Crânio do Maehary -  (crédito: Rodrigo Temp Müller/UFSM)
Crânio do Maehary - (crédito: Rodrigo Temp Müller/UFSM)

Mais de dez anos após ser encontrado, no Rio Grande do Sul, o fóssil de um réptil de 225 milhões de anos se trata, na verdade, de dois fósseis de diferentes espécies de vertebrados. A revisão do faxinalipteus minimus, réptil descoberto em 2010, mostrou que o animal não é um pterossauro, categoria de vertebrados que voavam e eram parentes dos dinossauros. Além disso, parte do fóssil foi identificada como outra espécie, a maehary bonapartei.

Para os cientistas, as descobertas apresentam, além de um novo fóssil e uma nova espécie, a identificação de uma linha evolutiva dos pterossauromorpha: o maehary e o faxinalipteus minimus podem ser versões anteriores do pterossauro, que voa.

Os restos fósseis podem dar insumos para que os especialistas analisem como os pterossauros, espécie de répteis que voam, eram antes de desenvolver as alterações evolutivas para ter a capacidade de voar.

O estudo foi publicado com destaque na revista Peerj, na última terça-feira (3/5), e foi produzido por pesquisadores do Museu Nacional, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); das universidades federais de Santa Maria (UFSM), do Pampa (Unipampa) e do Rio Grande do Sul (UFRGS); da Universidade Regional do Cariri e do Instituto Catalão de Paleontologia.

O pequeno réptil faxinalipteus minimus foi descrito em 2010 como pertencente aos pterossauros, grupo que inclui os primeiros vertebrados a desenvolver voo ativo. No entanto, uma questão intrigava os pesquisadores: o fóssil original foi composto por ossos pós-craniano e uma parte do crânio (mandíbula superior com vários dentes), encontrados separadamente em duas expedições, em 2002 e 2005, no sítio fóssil Linha São Luiz.

Na época, não era possível distinguir com certeza se todos os ossos pertenciam ao mesmo animal e a mesma espécie, mas foram registrados em uma única espécie, chamada de faxinalipteus minimus.

O grupo de cientistas também desconfiou da classificação porque o fóssil não continha uma característica essencial de pterossauro: uma marca específica no úmero (osso do braço), a crista deltopeitoral projetada, que é típica desse tipo de vertebrado.

“Sempre houve uma grande dúvida se os dois espécimes atribuídos ao Faxinalipterus representavam a mesma espécie e se este era um réptil voador”, comentou Alexander Kellner, especialista em pterossauros que atualmente dirige o Museu Nacional da UFRJ.

Borja Holgado, também especialista em pterossauros do Instituto Catalão de Paleontologia e atualmente pesquisador da Universidade Regional do Cariri (Ceará), analisou o material e concordou com as conclusões iniciais.

"Ficou claro para mim que este é um réptil primitivo que não pertencia aos pterossauros, pois não apresentava nenhuma característica inequívoca desta linhagem" explicou Holgado. "Mas o conhecimento atual das faunas no final do O Triássico indica que a disparidade de animais naquela época era tão grande que animais que podem parecer pterossauros à primeira vista, mas na verdade não são répteis voadores. Foi o que aconteceu com Faxinalipterus e Maehary”, declarou.

Após uma análise detalhada feita por uma tomografia computadorizada, verificaram que o padrão da dentição e espaçamento dos dentes do fóssil não eram os mesmos encontrados em outros pterossauros confirmados.

Para descobrir a origem do faxinalipteus, então, o grupo de pesquisadores do Museu Nacional pediu auxílio ao Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica da Quarta Colônia (Cappa), da Universidade Federal de Santa Maria, que descobriu um fóssil recentemente com os mesmos padrões do réptil encontrado em 2010. Ao estudar os ossos disponibilizados pelo Cappa, o estudo encontrou características que confirmam que o animal é, na verdade, relacionado aos lagerpetídeos, um ramo considerado como grupo-irmão de Pterosauria em estudos mais recentes. Esse grupo e os pterossauros são parte de um “grupo-mãe” chamado pterossauromorpha.

Derivado do faxinalipteus, maehary é classificado como mais antigo dos pterossauromorpha

O novo fóssil resgatado pelo Cappa também foi classificado em uma nova espécie: a maehary bonapartei. A parte do crânio do faxinalipteus foi, então, redescrita como um maehary, por ter as mesmas características do crânio descoberto pelo Cappa. O maehary foi classificado como o mais basal da linha evolutiva dos pterossauromorpha, que deu origem aos pterossauros.

“Isto é, Faxinalipterus e Maehary não são pterossauros, porém são aparentados a eles. Especialmente Maehary se configura como um elemento-chave na elucidação de como as características anatômicas foram evoluindo ao longo da linhagem dos pterossauromorfos até os pterossauros propriamente ditos, totalmente adaptados ao voo”, pontua Rodrigo Müller, do Cappa.

De acordo com os cientistas, o nome da nova espécie, maehary, vem de Ma'ehary, expressão do povo original Guarani-Kaiowa, que significa "quem olha para o céu", em alusão à sua posição na linha evolutiva dos répteis, “sendo o mais primitivo dos Pterossauromorpha, grupo que inclui os fascinantes pterossauros”.

Já o segundo nome, bonopartei, é uma homenagem ao pesquisador de vertebrados fósseis na Argentina, José Fernando Bonaparte, que esteve na coleta e na descrição de muitos vertebrados extintos que existiram durante o período Triássico, inclusive na descrição do faxinalipteus. Bonaparte nasceu em 1928 e morreu em 2020.

 

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