EVOLUÇÃO HUMANA

Dente de 130 mil anos ajuda a provar que os denisovanos viveram no sudeste asiático

Os primeiros vestígios de um exemplar de um homem de Denisova foram identificados em 2010, em uma gruta da Sibéria

Correio Braziliense
postado em 18/05/2022 06:00
 (crédito: Sergey Zelinski, Russian Academy of Sciences/Divulgação)
(crédito: Sergey Zelinski, Russian Academy of Sciences/Divulgação)

Pesquisadores da França encontraram um dente de uma criança com pelo menos 130 mil anos no Laos, ao sul da Ásia. De acordo com os especialistas, o fóssil pertence a um denisovano — um parente extinto do homem moderno ainda pouco conhecido —, e o local em que ele foi descoberto reforça a tese de que esses hominídeos viveram no sudeste asiático.

Os primeiros vestígios de um exemplar de um homem de Denisova foram identificados em 2010, em uma gruta da Sibéria. Graças à análise de DNA do pequeno osso de um dedo, paleontólogos conseguiram sequenciar o genoma completo de um Homo denisova. Nove anos depois, uma mandíbula com dentes grandes encontrada no planalto tibetano foi considerada um indício de que os nossos primos distantes também viveram nessa região da China.

Faltavam, porém, "mais provas físicas" dessa presença, segundo Clément Zanolli, coautor do estudo, publicado, ontem, na revista Nature Communications. O pesquisador da Universidade de Bordeaux e colegas decidiram escavar a gruta de Cobra, descoberta em 2018 , no nordeste do Laos, e dizem ter encontrado essa evidência.

O dente estava em uma região em que já haviam sido encontrados outros restos humanos. Os sedimentos conservados nas paredes da gruta continham fragmentos de ossos de animais e um dente molar, com uma morfologia "tipicamente humana", de uma criança com 3 a 8 anos, relatam os autores do estudo.

Por meio de diversas análises de datação, a equipe chegou à conclusão que o fóssil tinha entre 130 mil e 160 mil anos. Em seguida, eles estudaram o interior do dente, levado temporariamente para a Dinamarca. "As proteínas nos permitiram identificar o sexo, feminino, e confirmar que pertencia ao gênero Homo", conta Fabrice Demeter, pesquisador da Universidade de Copenhague, afiliado ao Museu Nacional de História Natural de Paris, e também autor do estudo.

Neandertais

Surpreendentemente, a estrutura do dente também se mostrou próxima da dos molares do homem de Denisova do Tibete. Além disso, tinha características comuns aos neandertais, geneticamente próximos dos denisovanos. "Mas nos inclinamos por Denisova porque nunca encontramos provas de que os neandertais tenham se deslocado tanto para o leste", explica Zanolli.

Para a equipe, os dados indicam que os denisovanos ocuparam essa região da Ásia e se adaptaram a uma ampla gama de ambientes, de altitudes frias a climas tropicais. Uma "versatilidade" que seus primos, os neandertais, não pareciam ter, pois estiveram mais presentes nas regiões frias do Ocidente.

Foi nos trópicos que os últimos denisovanos conseguiram se encontrar e miscigenar com grupos humanos do Pleistoceno, que transmitiram sua herança genética às populações atuais do sudeste asiático. Cientistas trabalham com a hipótese de que denisovanos, neandertais e o Homo sapiens chegaram a conviver em algumas regiões e que houve cruzamentos entre as espécies.

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