MUNDO ANIMAL

Golfinhos reconhecem amigos pelo "gosto" do xixi, diz estudo

A descoberta, feita por pesquisadores da Universidade de St. Andrews, revela que os mamíferos não apenas podem distinguir animais pelo sabor, mas também fazer a complexa associação de laços familiares

Talita de Souza
postado em 20/05/2022 23:37
Os resultados do experimento foram tão satisfatórios que os pesquisadores desconfiam que as habilidades dos golfinhos vão além, como saber o estado reprodutivo de outro golfinho ou usar feromônios para influenciar o comportamento de familiares -  (crédito: Universidade de St. Andrews/Reprodução)
Os resultados do experimento foram tão satisfatórios que os pesquisadores desconfiam que as habilidades dos golfinhos vão além, como saber o estado reprodutivo de outro golfinho ou usar feromônios para influenciar o comportamento de familiares - (crédito: Universidade de St. Andrews/Reprodução)

Um estudo descobriu que o paladar de golfinhos permite que eles identifiquem amigos e familiares da mesma espécie de um jeito peculiar: pelo “gosto” do xixi desses animais. A descoberta, feita por pesquisadores da Universidade de St. Andrews, revela que os mamíferos  não apenas podem distinguir animais pelo sabor, mas também fazer a complexa associação de laços familiares.

O estudo foi publicado na última quinta-feira (19/5), na revista Science Advances. Para verificar a capacidade dos animais de fazerem as relações, os pesquisadores Vicent Janik, professor e diretor do Scottish Oceans Institute, Jason Bruck e Sam Walmskey, fizeram a pesquisa em três tanques de golfinhos nas Bermudas e no Havaí.

O experimento foi feito em três etapas. Na primeira, os cientistas compararam diferenças no que eles chamam de “tempo de investigação” dos animais ao analisar amostras inseridas nos tanques. Eles depositaram uma amostra de água e outra de urina de 10 ml na frente de cada golfinho e verificaram a duração da “degustação” dos animais, feita por meio da abertura da boca.

Nessa primeira etapa, os cientistas já descobriram que os golfinhos se interessaram mais pela urina, na qual “gastaram aproximadamente o dobro do tempo de amostragem em relação a água”, o que já revelou que os golfinhos são capazes de sentir gostos diferentes.

Na segunda etapa do estudo, foram depositadas duas amostras de urina: uma de um golfinho que já esteve no tanque do mamífero analisado e outra de um desconhecido. Todos os golfinhos estudados exploraram mais a urina de familiares.

Já no chamado “experimento final”, os pesquisadores mesclaram a urina de um familiar com a reprodução do chamado “assobio” do mamífero dono da urina; contra o mesmo combo de um animal desconhecido. O resultado foi a escolha pela urina e o assobio de um golfinho conhecido.

“Os golfinhos exploraram amostras de urina por mais tempo se viessem de animais conhecidos ou quando fossem apresentadas junto com o apito exclusivo e distinto do golfinho”, relatou o professor Vincent Janik, diretor do Scottish Oceans Institute e principal autor do estudo.

“Isso mostra não apenas que eles podem distinguir os animais pelo sabor, mas também que reconhecem os animais em seus sentidos, sugerindo uma representação complexa de animais familiares no cérebro de um golfinho”, acrescentou o professor.

Gosto? A degustação dos golfinhos vai além do paladar normal

Os cientistas explicam que os golfinhos não possuem um paladar como o de humanos e, por isso, a degustação da urina é mais do que apenas sentir um gosto. Os mamíferos não têm bulbo olfativo, um nervo que está ligado a boca e que faz com que as sensações desgutativas ocorram.

No entanto, eles têm células sensoriais na língua que permitem que “os nervos faciais detectem elementos químicos”, como os presentes na urina. A habilidade de reocnhecer “gostos” e, principalmente, de fazer a relação com conhecidos ajuda o mamífero a sobreviver principalmente em alto mar.

“O uso do paladar é altamente benéfico em mar aberto porque a urina persiste por um tempo depois que um animal for embora”, observam os cientistas. “Ao reconhecer quem causou uma pluma, os golfinhos seriam alertados sobre a presença recente desse indivíduo, mesmo que não tivesse sinalizado sua presença vocalmente pelo apito”, acrescentam.

Os resultados foram tão satisfatórios que os pesquisadores desconfiam que as habilidades dos golfinhos vão além. “Dadas as habilidades de reconhecimento reveladas em nosso estudo, achamos que é provável que os golfinhos também possam extrair outras informações da urina, como estado reprodutivo, ou usar feromônios para influenciar o comportamento uns dos outros”, detalha o estudo.

 

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