PANDEMIA

Covid longa acomete 25% das crianças e deixa sequelas

Fadiga, dificuldade para se exercitar, falta de ar e tosse estão entre as sequelas constatadas em estudo americano

Alice Groth*
postado em 13/08/2022 06:00
 (crédito: CESAR VON BANCELS)
(crédito: CESAR VON BANCELS)

As sequelas da covid-19 não atingem só adultos. O público infantil também pode apresentar complicações depois da infecção pelo Sars-CoV-2. E os casos não são raros. Um novo estudo liderado pelo Hospital Infantil de Boston, nos Estados Unidos, e publicado, nesta semana, na revista Pediatrics mostra que mais de 25% das crianças norte-americanas hospitalizadas em função da infecção pelo novo coronavírus apresentaram problemas de saúde de dois a quatro meses depois da internação.

O estudo de acompanhamento envolveu 279 crianças e adolescentes, com até 21 anos, atendidos em 25 hospitais pediátricos dos Estados Unidos em função da covid-19 ou da síndrome inflamatória multissistêmica em crianças (MIS-C), uma complicação associada à infecção pelo Sars-CoV-2. O período analisado no estudo — entre maio de 2020 e maio de 2021, transcorreu antes que as vacinas contra o coronavírus estivessem disponíveis para essa faixa etária.

Entre os hospitalizados, 40% tinham covid-19 aguda e 60%, MIS-C. A porcentagem de internados na unidade de terapia intensiva (UTI) foi, respectivamente, de 56% e 86%. Adrienne Randolph, professora de pediatria em Harvard e médica na unidade de terapia intensiva (UTI) pediátrica do Hospital Infantil de Boston, conta que a maioria das crianças observadas que desenvolveram MIS-C era previamente saudável, e as que desenvolveram covid-19 grave já tinham complicações de saúde, principalmente respiratórias. "Ambas as doenças podem desenvolver risco à vida de crianças e adolescentes e ocasionar sequelas", destaca a também líder do estudo.

No monitoramento de dois a quatro meses, 27% dos pacientes com covid aguda e 30% daqueles com MIS-C apresentaram sintomas persistentes. Após a hospitalização por covid-19, os jovens manifestaram com mais frequência sintomas respiratórios, como tosse (9,2%), falta de ar (9,2%) e fadiga (11,3%), e estavam, em geral, mais sonolentos do que antes da doença.

Em pacientes que foram hospitalizados com MIS-C, os sintomas mais comuns foram tosse contínua (2,5%) e falta de ar (2,5%), principalmente naqueles que tinham diagnóstico de asma antes de adoecer. Os acometidos pela síndrome também apresentaram impasses para realizar atividades rotineiras, especialmente aqueles que eram obesos.

O comprometimento da disposição física foi um pouco mais comum após o MIS-C (afetando 21,3% das crianças) do que após a covid-19 aguda (14,3%). Segundo relatos dos cuidadores entrevistados: 6,7% do grupo com covid-19 e 14,4% do grupo com MIS-C não podiam andar ou se exercitar tanto quanto antes; 6,7% e 7,5%, respectivamente, estavam dormindo muito mais do que o habitual; e 4,2% e 3,8%, respectivamente, tiveram dificuldade em fazer os trabalhos escolares ou se sentiram distraídos e incapazes de se concentrar.

De acordo com Eitan Berezin, infectologista pediátrico e membro do Departamento Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria, a MIS-C é associada à covid e pode ser vista como um fenômeno posterior à infecção pelo coronavírus. A síndrome inflamatória manifesta sintomas que lembram a doença de Kawasaki, uma enfermidade rara que provoca inflamação nas paredes dos vasos sanguíneos de crianças pequenas.

"Ela apresenta um quadro de gravidade e, comumente, é descoberta meses depois da infecção pelo coronavírus", afirma Berezin. Os sintomas mais comuns são febre alta e persistente, inchaço pelo corpo, dores abdominais e diarreia.

Vacinação

Esse fenômeno de não recuperação total dos pacientes depois da infecção pelo Sars-CoV-2 é chamado de covid longa. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), entre 10% a 20% das pessoas que tiveram a doença sofrem com esses sintomas após se recuperarem da fase aguda.

Eles surgem em até três meses após a contaminação, duram pelo menos dois meses e não podem ser explicados por um diagnóstico alternativo. Berezin explica que essas complicações são melhor descritas em adultos: "Só agora que começamos a ver estudos na área pediátrica".

A vacinação contra o coronavírus é essencial para prevenir casos mais graves de covid e MIS-C, como os observados no estudo, reitera Randolph. "É importante prevenir essas doenças com a vacinação, mesmo que crianças e adolescentes tenham, em geral, menos risco de desenvolver um quadro grave do que os adultos mais velhos".

Questionada sobre as pesquisas futuras do grupo que lidera, a pediatra informou que uma investigação está em andamento sobre como o desenvolvimento de MIS-C e covid-19 aguda em crianças afeta as funções neurológicas e a qualidade de vida. "Também estamos pesquisando sobre a eficácia das vacinas disponíveis para crianças e adolescentes contra as novas variantes do Sasr-CoV-2", adianta.

* Estagiária sob a supervisão de Carmen Souza

 


Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Varíola do macaco terá novo nome

O nome da doença até agora chamada varíola do macaco vai mudar, anunciou a Organização Mundial da Saúde (OMS). Um grupo de especialistas convocados pelo órgão concordou em utilizar algarismos romanos para classificar as cepas do vírus que causa a enfermidade e, assim, "evitar ofender qualquer grupo cultural, social, nacional, regional, profissional ou étnico e minimizar qualquer impacto negativo no comércio, viagens, turismo ou bem-estar animal".

O vírus foi nomeado após a primeira descoberta em 1958, antes que as práticas atuais na nomeação de doenças e patógenos fossem adotadas. Agora, a OMS abriu uma consulta para reclassificar a doença. Qualquer pessoa pode fazer sugestões no site https://icd.who.int/dev11.

A OMS afirmou que especialistas discutiram as características e a evolução das cepas, suas aparentes diferenças filogenéticas e clínicas e possíveis consequências para a saúde pública e futuras pesquisas. "O grupo chegou a um consenso sobre uma nova nomenclatura para os clados de vírus que está de acordo com as melhores práticas. Eles concordaram em como deveriam ser registrados e classificados em sites de repositórios de sequências genômicas".

A nomenclatura consistirá em um numeral romano para o clado e um caractere alfanumérico minúsculo para os subclades e será proposta pelos cientistas à medida que o surto evoluir. Os especialistas serão convocados novamente conforme necessário.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação