SAÚDE

Varíola do macaco pode causar problemas cardíacos, aponta estudo

A constatação foi feita após um grupo de quatro especialistas em cardiologia acompanharem o caso de um paciente de 31 anos infectado com a doença e que foi até o centro médico com dores no peito

Talita de Souza
postado em 02/09/2022 19:37 / atualizado em 02/09/2022 19:37
Erupções do paciente de 31 anos que procurou o pronto-socorro após sentir fortes dores no peito e foi diagnosticado com miocardite aguda -  (crédito: Ana Isabel Pinho, M.D./Reprodução)
Erupções do paciente de 31 anos que procurou o pronto-socorro após sentir fortes dores no peito e foi diagnosticado com miocardite aguda - (crédito: Ana Isabel Pinho, M.D./Reprodução)

O surto de varíola do macaco em curso no mundo pode causar mais do que lesões na pele e mal estar: um estudo de caso feito por cardiologistas do Hospital Central da Universidade de São João, em Portugal, constatou uma relação entre a doença e o desenvolvimento de miocardite aguda. A análise foi publicada nesta sexta-feira (2/9) na revista JACC: Case Reports.

Quatro especialistas em cardiologia acompanharam um paciente de 31 anos que foi diagnosticado com varíola do macaco no Hospital Central da Universidade de São João, em Portugal, após cinco dias de mal-estar e, três dias depois, voltou ao centro médico com dores no peito irradiadas para o braço esquerdo.

Além das pústulas no corpo, o paciente estava com sintomas de miocardite aguda e síndrome coronariana aguda. O paciente foi internado e submetido a exames para avaliar a condição cardiológica.

O ecocardiograma demonstrou anomalias e os exames laboratoriais revelaram níveis elevados de proteína C reativa, além de creatina fosfoquinase, troponina e peptídeo natriurético cerebral, elementos que se elevam ou surgem quando há lesão por estresse no coração.

Por fim, os médicos submeteram o paciente a uma ressonância magnética cardíaca, que mostrou imagens que revelaram inflamação miocárdica e diagnóstico de miocardite aguda. “A miocardite viral é frequentemente presumida quando acompanhada de um quadro clínico de doença febril, mialgias e mal-estar, seguido de início rápido de sintomas cardíacos”, explica Ana Isabel Pinho, uma das médicas que analisou o caso e principal autora do estudo.

Ela ainda alerta que esse tipo de miocardite pode desenvolver um quadro ainda mais complexo. “O prognóstico depende do estágio da doença, variando desde miocardite aguda que se resolve em semanas ou pode evoluir para uma disfunção cardíaca persistente”, detalha.

Os médicos afirmam que, assim como a covid, o surgimento da miocardite viral nos pacientes identificados não podem ser definidos, ainda, como uma consequência da varíola — os especialistas podem e devem acompanhar o caso e fazer a relação ao identificar as lesões no coração e o histórico clínico do paciente.

No caso da varíola do macaco, a relação está mais propensa de ser confirmada, já que o vírus origina da varíola, mais agressivo, já tinha como consequências a miocardite. “Por extrapolação, o vírus da varíola pode ter tropismo pelo tecido do miocárdio ou causar lesão imunomediada ao coração”, escreveram os cardiologistas participantes do estudo.

Para confirmar a relação e saber como ela se dá, os especialistas querem fazer um estudo mais profundo do vírus e do mecanismo que ele provoca para a miocardite ocorrer no paciente.

“Este caso destaca o envolvimento cardíaco como uma potencial complicação associada à infecção por varíola dos macacos. Acreditamos que relatar essa potencial relação causal pode aumentar a conscientização da comunidade científica e dos profissionais de saúde para a miocardite aguda como uma possível complicação associada à varíola”, afirmou Ana Isabel Pinho.

“E também pode ser útil para o monitoramento próximo dos pacientes afetados para o reconhecimento de outras complicações no futuro”, acrescentou. O paciente foi tratado para solucionar os problemas cardíacos e recebeu alta após uma semana, sem lesões no coração.

A varíola do macaco

O vírus que tem circulado desde maio deste ano, quando passou a ser diagnosticada fora da África pela primeira vez, é transmitido, principalmente, por contato próximo, seja por contato com lesões, com fluídos corporais ou gotículas respiratórias. A transmissão pelo sexo também é uma das formas mais característica do surto atual, relação que não ocorria com proeminência quando foi descoberta.

Os infectados apresentam febre, calafrios e dores musculares. Após cinco dias nesse quadro, as erupções cutâneas começam a aparecer, além dos linfonodos inchados e dificuldades respiratórias. O ciclo de infecção dura entre duas e quatro semanas e a vacinação é a melhor forma de atenuar a ação do vírus.

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