Com negociações bloqueadas — principalmente a da criação de um fundo para compensar perdas e danos já sofridos por países pobres em função do aquecimento global —, a 27ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP27), no Egito, precisou ser prorrogada. Representantes de quase 200 delegações presentes na cúpula seguem buscando entrar em acordo para a redação de um documento final que facilite o cumprimento de metas climáticas firmadas e, consequentemente, ajude a frear o aquecimento global.
Não está descartada a possibilidade de o texto só ser divulgado amanhã. O chanceler egípcio e presidente da COP27, Sameh Choukri, porém, espera que os trabalhos sejam finalizados hoje. "Continuo determinado a encerrar esta conferência amanhã (hoje), de maneira ordenada", declarou ontem. Choukri também expressou preocupação com a quantidade de temas pendentes relacionados a "financiamento, mitigação (das emissões de gases de efeito estufa), perdas e danos". "Faço um apelo às partes a trabalharem juntas para resolver essas questões pendentes o mais rápido possível", enfatizou.
Um dos pontos com maior dificuldade de consenso, a criação de um fundo para compensar os países que emitem menos gases do efeito estufa, mas sofrem as consequências de fenômenos meteorológicos extremos é uma antiga aspiração das nações mais vulneráveis. Uma versão preliminar do relatório, apresentada na quinta-feira, chegou a pontuar o tema, mas de maneira vaga, o que rendeu críticas de especialistas e representantes de países mais atingidos.
"Criar o fundo é um imperativo moral e de justiça climática", disse o vice-ministro colombiano de Planejamento Ambiental do Território, Francisco Javier Canal Albán, em entrevista coletiva. O secretário-geral da ONU, António Guterres, por sua vez, criticou a "falta de confiança entre o Norte e o Sul" e lembrou que "o tempo de se discutir perdas, danos e finanças" havia acabado. "Precisamos de ações", destacou.
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Mais doadores
As negociações aceleraram após a apresentação de uma proposta da União Europeia (UE) também na quinta-feira: a criação de um "Fundo de resposta" para os países mais vulneráveis. O vice-presidente da Comissão Europeia, Frans Timmermans, pediu a "ampliação da base de doadores" incluindo países em desenvolvimento que, hoje, são grandes emissores de gases de efeito estufa. Nesse formato, haveria a participação da China.
Na avaliação da ministra alemã de Relações Exteriores, Annalena Baerbock, a iniciativa é "um grande passo". Questionada se o governo chinês participaria do fundo, a chanceler relatou que estão "advogando por eles de forma massiva". "Agora, queremos assumir nossa responsabilidade pelo futuro juntos, e é por isso que defendemos tanto que países como a China, mas também outros grandes emissores, participem do apoio aos mais fracos no futuro", afirmou.
O ministro canadense do Meio Ambiente, Steven Guilbeault, indicou, no fim do dia de ontem, que um acordo estava "próximo", mas que "as contribuições deveriam incluir todos os grandes emissores, como China, Arábia Saudita ou Catar". À agência France-Presse de notícias (AFP), uma fonte negociadora que pediu anonimato explicou que as posições envolvidas nas conversas ainda estavam muito distantes. "O novo texto tem que ser equilibrado, e todos os países têm que poder vê-lo", disse.
O governo dos Estados Unidos, que não se manifestou na sessão plenária de ontem, defende o aumento dos compromissos, mas, até agora, rejeitou a criação de um novo mecanismo financeiro. O representante chinês, por sua vez, Zhao Yingmin, limitou-se a pedir que o Acordo de Paris "não seja reescrito". O pacto histórico de 2015 estabeleceu, entre outros pontos, que países desenvolvidos devem contribuir muito mais com base em seu histórico de emissões e uso de recursos naturais.
Desconfiança
Junto com o impasse para a criação de outro mecanismo de financiamento há, entre os países em desenvolvimento, uma desconfiança considerável pelas promessas não cumpridas. Em 2009, as nações desenvolvidas prometeram que desembolsariam, a partir de 2020, a quantia de US$ 100 bilhões por ano para ajudar na adaptação dos mais pobres às mudanças climáticas e na redução de suas emissões, enquanto iniciassem a transição energética.
Esse também é um dos pontos mais sensíveis da COP27, pois o valor do fundo climático nunca foi depositado integralmente — este ano, faltaram US$ 17 bilhões, por exemplo. Uma nova análise do Carbon Brief, organização não governamental especializada em políticas climáticas, divulgada no último dia 8 mostra que os os Estados Unidos aparecem como principal deficitário: destinaram US$ 8 bilhões ao fundo em 2020, US$ 32 bilhões a menos do que deveriam.
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Escassez de novas metas
Apenas 30 países apresentaram novas metas de redução de emissões na conferência em Sharm el-Sheikh, apesar do apelo por esse passo na COP anterior, organizada, no ano passado, em Glasgow. Na Escócia, as delegações também fizeram um pacto para cumprir as metas do Acordo de Paris que se referem a mitigação e adaptação. Os países desenvolvidos concordaram em dobrar o financiamento de ações contemplando esse último tema.