Saúde

Dieta mediterrânea faz bem e impede parto prematuro e diabetes

Mulheres adeptas ao estilo alimentar apresentam risco 21% menor de terem complicações como diabetes e parto prematuro

Maria Laura Giuliani*
postado em 24/12/2022 05:00
 (crédito: ISHARA S.  KODIKARA)
(crédito: ISHARA S. KODIKARA)

O conhecimento científico e o popular aconselham que manter uma alimentação saudável é de suma importância durante a gestação. Porém, quais os benefícios de uma dieta equilibrada para quem planeja engravidar? Um estudo conduzido no Smidt Heart Institute, do Hospital Cedars-Sinai Medical Center, nos Estados Unidos, pode ajudar a responder a essa pergunta. A equipe observou que mulheres adeptas à dieta mediterrânea apresentam menos risco de desenvolver complicações graves na gravidez, como diabetes gestacional, hipertensão, nascimento de bebês prematuros, pequenos para a idade gestacional (PIG) ou natimortos.

Os resultados do estudo, publicado, nesta semana, na revista Jama Network Open, mostram ainda que mulheres que tiveram gravidez tardia, a partir dos 35 anos de idade, podem ser ainda mais beneficiadas pelo estilo alimentar. Foram analisadas 7.798 voluntárias sem histórico de hipertensão crônica ou diabetes, participantes de um estudo maior sobre eventos adversos em grávidas de primeira viagem realizado nos anos de 2010 a 2013.

"É importante ressaltar que essa conexão entre a dieta mediterrânea e o menor risco de resultados adversos na gravidez foi observada em uma população geográfica, racial e etnicamente diversa", indica, em nota, a autora sênior do estudo, Natalie Bello. Das participantes, 10% tinham 35 anos ou mais. Em relação à nacionalidade, eram brancas de origem não hispânica (64%), hispânicas (17%), negras não hispânicas (11%), asiáticas (4%) e de outras etnias autorrelatadas (4%). Além disso, 20% eram obesas.

As gestantes preencheram um questionário, disponibilizado no primeiro trimestre de gravidez, com itens sobre alimentação no trimestre anterior — ou seja, próxima à fecundação. "Perguntamos sobre a dieta no início da gravidez, antes do desenvolvimento de qualquer resultado adverso, evitando enganos ou falhas de memória das gestantes", relata Bello.

A equipe investigou as respostas considerando os nove componentes principais da dieta mediterrânea e outros estilos alimentares — vegetais, frutas, nozes, grãos integrais, legumes, peixe, proporção de gordura monoinsaturada para saturada, carnes vermelhas e processadas e álcool. Depois, categorizou as gestantes entre aquelas que tinham uma adesão baixa, moderada ou alta à dieta mediterrânea.

Os resultados mostraram que as classificadas em alto consumo apresentaram um risco 21% menor de sofrerem qualquer evento adverso na gravidez. No caso do diabetes gestacional, a vulnerabilidade foi 37% menor. Para pré-eclâmpsia e eclâmpsia, 28%, comparadas às mulheres que tinham uma adesão baixa ao estilo alimentar.

Menos inflamação

Segundo a autora, há muitas hipóteses do porquê das proteções observadas. "Seguir um padrão de dieta mediterrânea está associado a pressão arterial mais baixa, menor inflamação e melhor função endotelial", aponta. Além disso, Bello conta que há relação entre o regime e a diminuição da gordura corporal, melhores níveis de insulina e glicose. "O que pode ser o motivo pelo qual as pessoas que relataram maior adesão à dieta apresentarem um risco menor de diabetes gestacional", sugere.

Ginecologista e obstetra da Clínica Renoir, em Brasília, Júlia Verano concorda. A médica lembra que a dieta mediterrânea prioriza o consumo de alimentos frescos, como frutas, fibras e peixes, além de "deixar de lado alimentos com maior potencial inflamatório e teor em gorduras saturadas".

*Estagiária sob a supervisão de Carmen Souza

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Um estilo de vida

"A dieta mediterrânea tem esse nome porque vem dos países da região do Mar Mediterrâneo, em que se prioriza alimentos mais frescos, integrais e naturais, evitando, ao máximo, industrializados. Eu diria que é mais um estilo de vida. Tem algumas regras, como consumir carne vermelha, no máximo, uma vez na semana. Já o consumo de peixes e frutos do mar é em grandes quantidades — no mínimo três vezes. Os adeptos consomem boas quantidades de proteínas vegetais, oriundas de alimentos como feijão, soja, grão de bico e lentilha. Também comem, no mínimo, três porções de fruta por dia. Sempre usam uma colher de sopa de azeite sobre a salada e bebem uma taça de vinho por dia. Essa dieta pode prevenir doenças cardiovasculares, diabetes, Parkinson, Alzheimer, alguns tipos de câncer, doenças inflamatórias intestinais, além de ajudar na perda de peso."

Isaac Nunes Melo, nutricionista da Clínica Saúde Imediata

Cuidados com a pré-eclâmpsia

Um dos maiores efeitos protetivos constatados pelos cientistas do Smidt Heart Institute foram para pré-eclâmpsia e eclâmpsia. Ginecologista e obstetra da Clínica Renoir, em Brasília, Júlia Verano alerta que a primeira complicação é a principal causa de mortalidade materna no Brasil. "É uma doença que pode, e deve, ser rastreada e prevenida através de um acompanhamento pré-natal de qualidade, aliado a boas práticas de saúde", enfatiza.

A médica acrescenta que, se não tratada, a condição pode ocasionar em consequências para mãe e bebê. "Podemos ter desfechos fetais, como restrição de crescimento, necessidade de antecipar o parto, incorrendo em prematuridade e suas complicações, ou até mesmo óbito fetal intra uterino", enumera. No caso da gestante, há a possibilidade de evolução para a eclâmpsia, quando a pressão arterial aumenta ainda mais. "A paciente com eclâmpsia convulsiona", relata.

Verano chama a atenção também para a síndrome de Hellp, outra complicação que pode acometer gestantes com pré-eclâmpsia. "Isso coloca a paciente em risco elevado de sangramento e degradação da função hepática, com necessidade de internação em UTI para melhor e mais seguro manejo", indica.

Na avaliação da ginecologista, são necessários mais estudos para associar uma determinada dieta à redução de risco para a pré-eclâmpsia. De acordo com Natalie Bello, autora sênior do estudo, essa é a próxima etapa da investigação. "Esperamos testar essa estratégia em um futuro estudo randomizado (participantes são submetidos aleatoriamente a diferentes dietas, por exemplo) para ver se seguir uma dieta mediterrânea pode evitar resultados adversos na gravidez", adianta. (MLG)

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