APOCALIPSE ZUMBI

Fungo zumbi de 'The last of us' é real; saiba se ele pode causar uma pandemia

A produção foi inspirada na série 'Planeta Terra', de 2006, na qual um dos episódios produzidos pelo biologista David Attenborough trouxe às telas o poder furioso do fungo Ophiocordyceps unilateralis, comumente chamado de fungo zumbi

Talita de Souza
postado em 18/01/2023 06:00
 (crédito: HBO Max/Divulgação)
(crédito: HBO Max/Divulgação)

Nova série da HBO, The last of us conquistou fãs a nível global com apenas um episódio, ao apresentar para os espectadores como seria se o mundo passasse por uma pandemia causada por um fungo capaz de controlar o comportamento humano. O que alguns admiradores do show — lançado no domingo (15/1) — não sabem é que a realidade alternativa criada pelos autores não está tão distante assim. A começar pelo fungo zumbi causador da destruição na produção televisiva: ele é real e existe na Terra há pelo menos 48 milhões de anos.

A produção foi inspirada na série Planeta Terra, de 2006, na qual um dos episódios produzidos pelo biologista David Attenborough trouxe às telas o poder furioso do fungo Ophiocordyceps unilateralis, comumente chamado de fungo zumbi por ter poder de controlar o comportamento dos hospedeiros. Ele foi descoberto em 1859 pelo naturalista britânico Alfred Russel Wallace.

Na vida real, até então, o fungo faz vítimas apenas no mundo animal — especificamente formigas carpinteiras, da tribo componutus viventes na América, Europa e África —, mas, em teoria, uma mudança climática poderá fazer com que o vírus possa passar por um processo de evolução e se tornar um patógeno humano, ou seja, um fungo capaz de adoecer e "possuir" seres humanos.

Se tal evolução ocorresse, os humanos poderiam se preparar para um apocalipse natural dos mais sombrios: o modus operandis do fungo vai desde a silenciosa possessão do corpo da vítima até a explosão da cabeça do inseto para liberar mais focos do fungo no ambiente em que ele morrerá.

A série não exagera ao colocar o fungo como um possível exterminador de humanos. Isso porque para infectar pessoas, o parasita precisaria se adaptar às temperaturas altas do corpo humano — o que não é possível hoje, já que a diferença entre as florestas e o interior das pessoas é grande. Por isso, o Ophiocordyceps unilateralis prefere animais ectotérmicos, que não são capazes de se aquecerem.

Histórico de evolução

Uma evolução do tipo já ocorreu na história da Terra. Em 2019, os pesquisadores Arturo Casadevali e Vincent Robert descobriram que uma doença causada por um fungo em 2009 é consequência do primeiro fungo evoluído para um patógeno humano, a Candida auris. O organismo parasita é resultado das mudanças climáticas, que aqueceram as florestas onde estavam e o fizeram se adaptar de maneira mais fácil em mamíferos: primeiro em aves, depois em humanos.

Responsável por febre, calafrios e dores até a morte do infectado, a Candida auris não possui poder de controle de mente, como o fungo de The last of us. O que significa que, talvez, o fungo da série só espera que os humanos continuem a degradar o planeta para assumir o local de vez.

Produtores de formigas zumbi: saiba o modo operandis do fungo nos insetos

Em caso de emergência, não diga que o Correio não avisou os “sintomas” de como se livrar da infecção zumbi. Aqui está um passo a passo sobre como o Ophiocordyceps unilateralis atua nas vítimas.

Uma vez instalado na formiga, que geralmente é capturada pelo Ophiocordyceps unilateralis ao andar pelo chão das florestas, o fungo passa por um período de incubação silencioso, onde nenhum dos “familiares” do inseto percebem que ele está indo para o fim da vida. Nesse período, o parasita se espalha pelo corpo e começa a se difundir por meio da hemocele do inseto — uma espécie de via arterial principal do corpo.

Presente nas vias cruciais do organismo da formiga, o fungo começa, por meio de um fenótipo estendido, a manipular os padrões comportamentais exibidos pelo inseto: parar de seguir as outras formigas nas atividades em grupo, parar de se alimentar e ter convulsões.

Essa última característica, aliás, é usada pelo fungo para levar a formiga até o “cemitério”: a carpinteira habita no alto de árvores e é derrubada pelo fungo, por meio da convulsão e do controle do andar, para o chão da floresta. A busca do Ophiocordyceps unilateralis é uma planta com nutrientes poderosos para o crescimento do fungo.

Assim que o fungo detecta uma folha “suculenta”, ele faz com que a formiga use as mandíbulas com “força anormal” para se prender ao objeto. A partir do momento em que a acoplação é feita, a formiga perde o controle da mandíbula e dos movimentos — um estudo de 2019, feito pela Universidade da Flórida, indica que o fungo tem alto poder sobre os músculos do inseto.

Em climas temperados, como o Brasil, a formiga se agarra a galhos nutritivos. Nos dois locais — planta ou galho — a acoplação do inseto deixa marcas. Um fóssil de uma folha foi encontrada no poço de Messel, na Alemanha, com as mesmas marcas. O artefato foi datado como existente há 48 milhões de anos, o que mostra a longevidade do fungo.

Depois de acoplada e com novas células fúngicas prontas para serem dispersadas no ambiente, o fungo mata a formiga e toma controle total do hospedeiro. Começa a nascer, então, um novo organismo entre a cabeça e o corpo da formiga, para a parte externa, uma espécie de “trouxinha” de fungos.

Essa bolsa, após 4 a 10 dias da "possessão", é liberada no ambiente por meio da explosão da cabeça da formiga e da própria bolsa. O corpo da vítima é deixado no cemitério, onde são vistas várias outras.

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