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Pneumonia na infância pode elevar risco de morte precoce

A probabilidade de óbito prematuro por disfunções pulmonares é duas vezes maior entre adultos que tiveram infecções no trato inferior até os 2 anos de idade. Pesquisa britânica é resultado da análise de dados colhidos por quase oito décadas

Correio Braziliense
postado em 08/03/2023 06:00
 (crédito: Nenad Stojkovic/Divulgação)
(crédito: Nenad Stojkovic/Divulgação)

Infecções respiratórias na infância dobram o risco de disfunções pulmonares na idade adulta, independentemente de histórico de tabagismo, segundo uma análise inédita que abrange dados de quase oito décadas. O artigo, publicado na revista The Lancet, incluiu informações de 3.589 pessoas acima dos 73 anos que sofreram ou não de enfermidades como pneumonia e bronquite quando crianças. O resultado indicou que aquelas que, aos 2 anos, tiveram problemas no trato inferior tinham quase duas vezes mais probabilidade de morrerem prematuramente por doenças associadas.

As doenças respiratórias crônicas representam um importante problema de saúde pública, com uma estimativa de 3,9 milhões de mortes em 2017, representando 7% de todas as mortes no mundo, segundo um estudo anterior publicado na Lancet Respiratory Health. De todas as enfermidades do grupo, a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) causou a maioria desses óbitos.

Foi demonstrado anteriormente que as infecções do trato inferior infantis estão ligadas ao desenvolvimento de comprometimento, mais tarde, da função pulmonar, além de asma e DPOC. Porém, não estava claro se existia uma ligação com a morte prematura na idade adulta. A nova pesquisa é o primeiro estudo ao longo da vida sobre esse tema, fornecendo a melhor evidência, até agora, para sugerir que a saúde respiratória precoce tem um impacto na mortalidade mais tarde.

"As medidas preventivas atuais para doenças respiratórias em adultos se concentram principalmente nos fatores de risco do estilo de vida adulto, como o tabagismo. Vincular uma em cada cinco mortes respiratórias de adultos a infecções comuns muitas décadas antes mostra a necessidade de direcionar o risco bem antes da idade adulta", destaca James Allinson, principal autor do estudo e pesquisador do Imperial College London, na Inglaterra. "Para evitar a perpetuação das desigualdades existentes na saúde dos adultos, precisamos otimizar a saúde infantil", considera.

Antes dos 73

O estudo usa dados de uma pesquisa nacional britânica, que traz informações de pessoas nascidas a partir de 1946, e analisa os registros de saúde e óbito até 2019. Dos 3.589 participantes incluídos na avaliação atual, 25% (913) tiveram uma infecção do trato inferior antes dos 2 anos. No fim de 2019, 19% estavam mortos antes dos 73 anos. Dessas 674 mortes prematuras de adultos, 8% foram em decorrência de doenças respiratórias, principalmente DPOC.

A análise ajustada para o histórico socioeconômico durante a infância e o hábito de tabagismo sugere que as crianças que sofreram de infecções respiratórias tiveram 93% mais risco de morrer prematuramente quando adultos por doenças associadas do que aquelas que não sofreram das enfermidades pulmonares até os 2 anos.

Estatisticamente, isso equivale a uma taxa de 2,1% de morte prematura em adultos por doenças respiratórias entre aqueles que tiveram uma infecção do trato inferior na primeira infância, em comparação com 1,1% entre aqueles que não relataram o problema antes dos 2 anos.

"Os resultados do nosso estudo sugerem que os esforços para reduzir as infecções respiratórias na infância podem ter um impacto no combate à mortalidade prematura por doenças respiratórias mais tarde na vida. Esperamos que esse estudo ajude a orientar as estratégias das organizações internacionais de saúde para lidar com essa questão", afirmou a professora Rebecca Hardy, da Loughborough University e da University College London, no Reino Unido.

Limitações

Os autores reconhecem algumas limitações da pesquisa. Embora a origem socioeconômica e o tabagismo tenham sido ajustados na análise, pode ter havido outros fatores que não foram relatados, como hábito de fumar dos pais e nascimento prematuro. Durante esse estudo ao longo da vida, a mudança social também pode ter impulsionado alterações na função pulmonar subsequentes, o que poderia interferir nos resultados. A investigação também não determinou quais bactérias ou vírus causaram a infecção nas crianças.

"Delinear o efeito de longo prazo das infecções do trato inferior no início da vida é importante para entender as origens da doença adulta e para fortalecer intervenções preventivas", escreveu, em um editorial vinculado, Heather Zar, da Universidade da Cidade do Cabo, África do Sul, que não esteve envolvida na pesquisa.

Segundo Zar, os esforços globais para reduzir a mortalidade prematura por doenças pulmonares concentram-se principalmente nas exposições de adultos a fatores de risco. "O estudo aumenta a evidência de que adultos cuja doença pulmonar crônica foi atribuída a efeitos relacionados ao fumo também podem ter doenças resultantes de exposições na infância que são amplamente evitáveis", enfatizou.

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