Abril Azul

Abril Azul: mês da conscientização do autismo é oportunidade para entender condição

O Abril Azul busca dar visibilidade ao Transtorno do Espectro Autista (TEA). Especialistas esclarecem questionamentos, mitos e verdades da condição

André Vinícius Pereira*
postado em 10/04/2023 19:09 / atualizado em 10/04/2023 19:10
 (crédito: Reprodução)
(crédito: Reprodução)

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um tema que costuma gerar dúvidas na pessoas, especialmente por ser cercado por mitos e preconceitos. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o TEA afeta cerca de uma em cada 160 crianças no mundo, por isso a necessidade de entender melhor sobre a condição.

Para esclarecer mitos e verdades sobre o Transtorno do Espectro Autismo (TEA), o Correio conversou com Rafael Engel, neuropediatra, especialista em neurociências — e autor do livro Convivendo com o autismo: a evolução histórica do diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista — e com a psicóloga, Luísa Araruna Engel, especialista em psicanálise e saúde mental e mestre em Diversidade em Inclusão e analista didata no New English Institute Of Psychoanalysis.

A importância do "espectro" no TEA

“Existem muitos comportamentos que chamam atenção dependendo de cada faixa etária. Para cada etapa de desenvolvimento temos alguns marcos e comportamentos esperados", explica a psicóloga, que detalha ainda sobre o comportamento de bebês: "É comum que ele chore ao acordar e perceba-se sozinho no berço. Mas é bem comum as pessoas dizerem 'Nossa, meu filho é tão quietinho, ele nem chora, ele acorda e fica tranquilo sozinho no berço por horas'".

Luísa explica que os sinais para um possível diagnostico sobre o TEA vão bem além do incomum. “Nós entendemos que em geral isso (o bebê não chorar) parece ótimo, pois não dá trabalho. Mas a verdade é que não olhar de forma curiosa e afetuosa para a mãe ou para quem o acolhe, e não chorar buscando pela relação social, são sinais de alerta".

Para o neuropediatra, Rafael Engel, apesar da complexidade, ainda é possível observar alguns sinais do TEA,. “Por volta de 2 anos de idade, esperamos que a criança já esteja falando muitas palavras e tendo conversas funcionais. Ou seja, não apenas repetindo palavras ou repetindo frases de desenhos. Mas sim, usando a fala para diálogos, pedidos, perguntas e para expressar necessidades. Então (a falta de tais ações) são sinais de alerta".

Além disso, o especialista destaca alguns outros sinais de alerta para o TEA em comportamentos infantis: sacudir as mãos, andar nas pontas dos pés, balançar o corpo como um pêndulo, tapar os ouvidos com frequência, pular ou correr em momentos inadequados.

Segundo Engel, existe uma grande importância na hora dos pais buscarem um especialista para observar esses sinais: “É importante que o diagnóstico seja feito por um neuropediatra ou por um psiquiatra infantil, se a suspeita for ainda na infância. Vale ressaltar que, se tratando de criança, o ideal é buscar um neuropediatra e não um neurologista de adulto".

Depois que o diagnóstico é feito, existe a possibilidade de diversas terapias que trazem benefícios à aquela criança diagnosticada com o TEA. Em geral, é necessário buscar um psicólogo, fonoaudiologia e também um terapeuta ocupacional.

Rafael cita outras práticas que trazem benefícios para crianças diagnosticadas com o TEA: "Costumamos indicar também hidroterapia, equoterapia, musicoterapia, psicomotricidade e tantas outras quanto puderem ajudar", reforça o neuropediatra.

Mitos e verdades sobre Transtorno do Espectro Autista (TEA) segundo o Neuropediatra e especialista em Neurociências Rafael Engel:

Como é feito o diagnóstico?

"Existem muitos mitos sobre como o diagnóstico é feito, se tratando de TEA é clínico. Ou seja, não será confirmado através de exames, mas sim de conversa, observação e coleta da história do indivíduo desde a gestação. Os exames podem ser pedidos para afastar a suspeita de outros diagnósticos, mas não para 'encontrar' o autismo. Muitas vezes o olhar de profissionais das áreas terapêuticas e educacionais podem ajudar a perceber comportamentos que serão relatados ao médico. Mas é muito importante frisar que apenas o médico pode fechar o diagnóstico e fazer o laudo".

O TEA pode ser confundido com outro tipo de transtorno?

"Sim, alguns sintomas, vistos de forma isolada, podem levar a confusões diagnósticas. Por isso é importante um bom conhecimento sobre desenvolvimento infantil e sobre como investigar o conjunto dos sintomas que levam ao diagnóstico correto".

Qual a melhor idade para levar a um especialista? Ao descobrir o TEA tardiamente pode existir complicações ao indivíduo?

"Tão logo se percebem os sinais de alerta. Em alguns casos, neuropediatras experientes conseguem diagnosticar o autismo ainda antes dos 2 anos de idade, o que é fundamental até mesmo para que a criança receba os estímulos adequados aproveitando a neuroplasticidade. Quanto antes se inicia a terapia, melhor tende a ser a evolução da criança".

Pacientes diagnosticados com TEA são mais inteligentes?

"É fundamental entender que o TEA nunca deve ser confundido com Deficiência Intelectual. Alguns autistas podem ter deficiência intelectual? Podem! Assim como podem ser altos, baixos, brancos, negros. Por mais comprometimento que se possa notar no comportamento e no processamento sensorial, não podemos relacionar esses fatores ao intelectual. Existem autistas com capacidades extraordinárias, muitas vezes atreladas aos hiperfocos ou por exemplo, a possibilidade de memória fotográfica".

O TEA é mais comum em meninos?

"Segundo os dados estatísticos apresentados até o momento, a incidência ainda é maior em meninos".

*Estagiário sob supervisão de Ronayre Nunes

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  • Neuropediatra, Rafael Engel é autor do livro Convivendo com o Autismo: Tudo o que um leigo precisa saber sobre Transtorno do Processamento Sensorial, que também tem autoria de Luisa Araruna Engel
    Neuropediatra, Rafael Engel é autor do livro Convivendo com o Autismo: Tudo o que um leigo precisa saber sobre Transtorno do Processamento Sensorial, que também tem autoria de Luisa Araruna Engel Foto: Arquivo Pessoal
  • Luisa Araruna Engel é psicóloga da UFF, Mestre em Diversidade e Inclusão pela Universidade Federal Fluminense
Equoterapeuta pela Associação Nacional de Equoterapia - ANDE 
Analista Didata no Instituto de Estudos do Psiquismo-IEP
Psicanalista pelo Instituto de Estudos do Psiquismo
Analista Didata em New English Institute Of Psychoanalysis 
Pós graduação em Psicanálise e Saúde Mental
    Luisa Araruna Engel é psicóloga da UFF, Mestre em Diversidade e Inclusão pela Universidade Federal Fluminense Equoterapeuta pela Associação Nacional de Equoterapia - ANDE Analista Didata no Instituto de Estudos do Psiquismo-IEP Psicanalista pelo Instituto de Estudos do Psiquismo Analista Didata em New English Institute Of Psychoanalysis Pós graduação em Psicanálise e Saúde Mental Foto: Arquivo pessoal

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